“Feriu a moralidade administrativa”: Diego Leonel, perito do caso Beatriz Mota, é demitido pelo governador de Pernambuco; entenda o caso

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Deve sair amanhã (29), no Diário Oficial de Pernambuco, a exoneração do perito criminal Diego Leonel que prestou consultoria de segurança ao Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, após emitir laudos do assassinato da menina Beatriz, há seis anos, em Petrolina.

A decisão do governador Paulo Câmara seguiu a posição da Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) que solicitou ao Governo de Pernambuco no sábado (18) a demissão do perito.

Ele atuou nas investigações do assassinato da menina, emitindo laudos, e também prestou serviço ao Colégio Maria Auxiliadora, onde o crime aconteceu, na montagem do plano de segurança da instituição, através de uma empresa de Recife.

A notícia foi dada por Paulo Câmara ao receber os pais de Beatriz no Palácio do Campo das Princesas, em Recife, nesta terça-feira (28).
Lucinha Mota, Sando Romilton e um grupo de pessoas do Movimento Somos Todos Beatriz, participaram da Caminhada por Justiça, de Petrolina ao Recife, durante 23 dias. Foram mais de 700 Km para pedir que o  governador assinasse parecer favorável a federalização do caso e a participação de peritos americanos no inquérito. Paulo Câmara assinou o parecer e se comprometeu em intensificar as investigações.

Após reunião com o chefe do executivo de Pernambuco, o pai de Beatriz, Sandro Romilton, falou ao PNB.

“Um passo foi dado! Tínhamos dois pedidos, a federalização e a parceria com os peritos americanos nas investigações. Depois da longa caminhada que fizemos, tivemos um compromisso firmado. Agora, temos um documento assinado com o Governo de Pernambuco, que se comprometeu em nos ajudar na federalização. Nos disse o governador que vai dar a colaboração necessária para que essa transação aconteça. Vamos agora correr atrás da Procuradoria Geral e do Ministério da Justiça para que isso se concretize. Nosso foco agora é buscar estes dois órgãos, pois agora temos esse endosso.

Diego Leonel

De acordo com um investigação paralela a do Estado de Pernambuco, feita por Lucinha Mota e Sandro Romilton, no dia 14 de janeiro de 2016, um mês após a morte de Beatriz, Diego Leonel esteve no Colégio Maria Auxiliadora onde fez filmagens e fotografias por meio de um drone. Segundo a Corregedoria, mesmo após o trabalho para a instituição, ele fez parte da equipe de trabalho de investigação responsável pela apuração do homicídio e chegou a assinar, como perito revisor, um laudo em 2019 para contribuir com as investigações da polícia no Caso Beatriz.

Em seu parecer, onde sugere a demissão do profissional, o secretário Humberto freire destaca que o perito Diego Leonel “feriu a moralidade administrativa e negligenciou o cumprimento de seus deveres em três ocasiões distintas, em especial ao exercer atividades incompatíveis com a função policial civil, ao desrespeitar a hierarquia ea disciplina, ao não zelar pela dignidade da função policial e ao não observar normas legais e regulamentares”.

A decisão final sobre a demissão coube ao governador Paulo Câmara, que seguiu a orientação do secretário de Defesa Social.

Na época em que apresentou a denúncia a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS), em entrevista  ao PNB, Lucinha questionou o valor pago pelo Colégio Maria Auxiliadora ao período Diego Leonel.

“No mínimo é estranho que um policial que também investiga o caso Beatriz, um agente público da segurança de Pernambuco, ao mesmo tempo que emite laudos sobre o crime, trabalha para uma empresa particular no plano de segurança do colégio onde minha filha foi morta. Eu queria que o perito Diego ou o colégio informassem qual o valor do serviço, se outros peritos ligados a investigação, também prestaram serviço particular ao Auxiliadora”

Na ocasião, o PNB conseguiu contato com o perito Diego Henrique Leonel, que confirmou a informação da mãe de Beatriz de que ele prestou serviço particular ao Colégio Maria Auxiliadora na elaboração do plano de segurança, no entanto ele não revelou valores, nem quando fez o trabalho.

Diego disse ao PNB que não poderia passar informações sobre o caso porque corre em segredo de justiça. Ele disse também que os laudos que emitiu foram extremamente técnicos e que gostaria que a Polícia Federal ou o Ministério Público, ou qualquer perito do Brasil, analisassem estes laudos. O perito disse também que não atuou no início das investigações e que seu último laudo foi emitido no começo de 2019. Diego Leonel também informou que foi ao colégio algumas vezes, mas se negou a responder se foi como perito ou como prestador de serviço.

Quando questionado sobre valores e o período em que prestou serviço ao colégio, Diego respondeu: “Isso é outra coisa. Não vem ao caso. Não vou entrar no mérito”.

E concluiu dizendo que “quem veicular meu nome vai ter que provar o que fiz e vai responder judicialmente. A mãe pode ter sofrido o que for, não vou ter pena da mãe. Ela pode ter perdido a família toda, mas não vai sujar meu nome, vai responder judicialmente”, disse o perito, por telefone, ao PNB.

Relatório

O relatório enviado a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social em 2019 também aponta outras falhas a investigação da Polícia Civil de Pernambuco do caso Beatriz. Segundo o documento, Lucinha Mota e Sandro Romilton apresentaram elementos que comprovariam uma investigação insuficiente e a parcialidade de agentes do Estado no trabalho de investigação.

Dentre as denúncias estão: a ausência de interdição do colégio após o crime; a falta de perícia na sala de balé, local próximo ao depósito de material esportivo onde o corpo da criança foi encontrado; ausência do exame toxicológico na criança, o que deixaria em aberto a dúvida sobre como o corpo foi encontrado sem sangue, já que o laudo afirma que ela foi golpeada com 42 facadas; laudos inconclusos das roupas de Beatriz para comparação com material de DNA de possíveis suspeitos; laudo inconcluso das roupas sujas de sangue de um dos suspeitos do crime, entre outros pontos questionados.

Também consta no relatório, informação sobre o fato de o perito Gilmário Lima ficar de posse dos equipamentos de DVR E HD por mais de dois meses, para depois informar que neles não continham imagens gravadas, o que demonstra a lentidão nas investigações. Na época, o perito informou também que os equipamentos que continham imagens do assassino com uma faca, na área externa da escola, tiveram a memória apagada dias após o crime.

Os pais da vítima também informaram à Comissão de DH que a policial civil Ednalva Maria de Souza, lotada na delegacia que investiga do caso, é casada com Alisson Henrique, que teve sua prisão decretada por oito meses e recentemente revogada, por ser acusado de ter apagado as imagens em que apareceriam o assassino da criança. Alisson prestava serviço ao colégio na área de informática.

Redação PNB

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