Sempre Aos Domingos: “Alguém peidou”, anunciou Rosa Morena, por Sibelle Fonseca

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Rosa Morena, para quem eu sou a “dinda”, muito embora ainda espero um batismo no rio para essa consagração, fez 4 anos. Destes, raríssimos momentos vivi com ela. Quando já estava ficando um pouco mais “independente” veio a pandemia e não pudemos nos frequentar. Incrível isso, mas acompanhei o desenvolvimento de Rosa de forma virtual. Nos raros encontros, estávamos nós com máscaras, distantes, e a brevidade do momento não permitia o abraço, o sentar no chão pra brincar, contar histórias e fechar esse vínculo. Hoje, Rosa me estranha, e eu sinto muito isso. Eu também sinto falta de uma aproximação.

E foi de longe, no meu celular, que ouvi Rosa Morena cantar “Felicidade”, de Jeneci e me emocionei. Uma vozinha doce, cheia de alma, que solfejava, sem saber o que dizia: “Felicidade é só questão de ser, Quando chover… deixar molhar…”. Ouvi um anjo cantando, e era Rosa Morena.

Vejo anjos nas crianças. Por isso gosto muito de tê-las por perto. Mais do que casas cheias, elas nos ensinam tanto que nem percebemos. Adultos são ocupados demais para isso. A vida vai nos endurecendo tanto, nos exigindo tanto, que nem as observamos. Sequer, as ouvimos.

Mas ontem eu ouvi Rosa, novamente. Era o aniversário dela. Na mesa do bolo, rodeada de amiguinhas e amiguinhos, ela esperava ansiosa para poder assoprar a velinha. Alguém demorou para trazer o isqueiro, e ela lá, em pé, firme na cadeira, do alto dos seus 4 anos, largou essa “Alguém peidou”.

Um adulto próximo a repreendeu, amorosamente: “Ô, Rosa!”. Ela repetiu: “Alguém peidou”. E o isqueiro chegou, e cantamos parabéns para Rosa, ela feliz apagou a velinha, correu para brincar, e me acendeu mil reflexões.

Dizer assim, tão espontaneamente, “Alguém peidou”, não é coisa que adulto faça.

Nós, adultos, ou carregamos a culpa pelo peido que a gente não deu, e ficamos constrangidos pelo que nem fizemos, mas os outros acham que fizemos, ou apontamos o dedo para um e para outro, julgando, condenando, e dizendo: “Foi você!”

Rosa não. Ela somente disse o que sentiu na hora: “Alguém peidou”! Com um sorriso no rosto, um ar de garotagem e uma naturalidade genuína. Coisa que só criança faz.

Crianças são anjos que cantam ‘Felicidade de Jeneci”, sem nem saber do que diz a letra. Que dizem, simplesmente,” Alguém peidou”, assopra a velinha e vai brincar no seu aniversário. Sem rancores, sem culpas, sem distinções a quem “peidou”, sem ranços ou qualquer coisa que pese.

Rosa é leve. Rosa é criança. Crianças são anjos.

Nós, adultos, o que somos?

Sibelle Fonseca é radialista, militante do jornalismo, pedagoga, feminista, mãe de quatro filhos, cantora nas horas mais prazerosas, defensora dos direitos humanos e uma amante da vida e de gente

 

1 COMENTÁRIO

  1. Cibele é uma pessoa maravilhosa que,tenho o prazer de conhecê-lo, guerreira,e muito determinada.parabens por sua luta por os que mais precisa.

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