A reforma ou reconstrução das Praças da Bandeira e Imaculada Conceição, no entorno do Santuário de Nossa Senhora das Grotas, em Juazeiro, têm gerado preocupação entre muitos moradores da cidade.
A prefeitura não apresentou à comunidade nenhum projeto, nem a maquete da obra e a expectativa sobre como ficará o patrimônio de Juazeiro é tão grande, quanto o cenário de destruição do espaço, visto por hora.
“Por quê não expor os projetos das reconstruções para que o povo participe da gestão, opinando, dando pareceres?” perguntou a professora juazeirense, Zeneide Mariano. Pergunta que faço também.
No local, não existe nenhuma placa informando aos contribuintes, quanto custará a obra, a origem do recurso, prazo para o término e nem o nome dos profissionais que assinam o projeto.
Não ficou pedra sob pedra. Os antigos equipamentos, do parque à pista de skate, foi tudo demolido.
Além dos escombros, já se observa uns quiosques de eucalipto serem erguidos. Na minha, precipitada, opinião, descaracterizou a praça. Por quem e como eles serão usados?
A professora Zeneide Mariano, do alto dos seus 81 anos de Juazeiro, fez uma previsão: “Está escrito nas estrelas. Futuramente serão transformados em bares ou coisas mais”, conjecturou.
A mestra, conhecedora da história da cidade e amante dela, assim como eu, uma filha devotada a esta terra, desejamos que os donos do projeto respeitem a identidade do lugar, as tantas memórias que o espaço guarda, que respeitem nossos vultos, nossas referências e que conheçam a alma da cidade.
Fosse a coisa pública, tratada como uma empresa séria, cabeças iriam rolar, caso a obra não agradasse a quem pagou caro por ela, e delegou poder aos seus empregados para realizá-la.
Por enquanto, é a cabeça de um dos nossos mais ilustres que está rolando.
Abandonado, como se tratasse de mais um daqueles restos de concreto, o busto do Pe. José, o Monsenhor Luna, nosso conterrâneo José Gilberto de Luna, rola entre os escombros da praça. Que tristeza!
Não houve, entre os fazedores da obra, o respeito de salvaguardar o monumento enquanto a nova praça se descortina.
Por aí já se tira a sensibilidade de quem está no comando do novo tempo da nossa Praça da Igreja.
Prefeita, engenheiros, paisagistas, mestres e fiscais da obra, ali está uma representação do filho de Gil Joaquim de Luna e Maria José Viana de Luna. Nosso Pe. José, nascido nas margens do Rio São Francisco, em Juazeiro.
Padre Luna da Paróquia de Nossa Senhora das Grotas, que recebeu a ordenação sacerdotal das mãos de D. Antônio de Mendonça Monteiro, em 1957, na festa da Imaculada Conceição. Coordenador da Comissão de Criação e Instalação da Diocese de Juazeiro, cicerone do primeiro bispo, D. Tomás Guilherme Murphy. Líder do Primeiro Congresso Eucarístico Diocesano.
Orador, escritor, poeta, membro da Academia Juazeirense de Letras, autor de diversas publicações, inclusive, compositor do Hino do Centenário de Juazeiro.
Um apaixonado por seu lugar, um entusiasta das coisas de sua terra. Eu tive a honra de conhecê-lo e entrevistá-lo.
Não é justo, respeitoso e nem digno com o Padre Luna, e nem com nenhum de nós, juazeirenses, abandonar uma homenagem à nossa referência histórica, religiosa e cultural, assim.
Andem logo, resgatem a escultura! Até na guerra, os civilizados resguardam seus bens culturais. Um povo que não respeita sua memória, não tem histórias para contar, e não consegue sair do lugar. É pobre, é pequeno, é vil.
Quanto a praça, vamos, literalmente, pagar e esperar pra ver.
Por Sibelle Fonseca Foto: Laís Lino
Sentimento de tristeza e indignação.