Sempre Aos Domingos: “Os amigos nos salvam”, por Sibelle Fonseca

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No último dia 18 de abril, fui surpreendida por uma mensagem de “Feliz Dia do Amigo”. Estranhei, porque sabia ser 2o de julho, o dia de homenagearmos os amigos.

Pesquisei e vi que, no Brasil, em pelo menos três datas, se celebra o Dia do Amigo, ainda que não exista nenhum decreto ou feriado.

Se 18 de abril, 20 ou 30 de julho, o valor da amizade deve ser enaltecido todos os dias, pois eles, os amigos, estão por perto todos os dias e não sabemos até quando estarão por aqui, e nem quando estaremos também.

Os amigos nos salvam. Valem bem mais que dinheiro no banco, carro na garagem, casa de luxo, títulos, altos cargos … que graça essas coisas teriam, sem eles? Casa bonita é casa enfeitada de bons amigos. Conquista boa é aquela que se compartilha. Pra quê um carrão, se o banco do passageiro nunca está ocupado?

Não posso e nem sei contar os amigos que tenho. Porque eles não são números, nem têm ordem de importância e significado na minha vida. Não tem o mais e o menos. O melhor nisso ou o pior naquilo.

Todos foram importantes demais em alguma fase da minha vida, em algum momento, em algum tempo, em algum lugar. E deixaram marcas positivas. E ajudaram a construir a minha personalidade. A mulher que sou.

Dividi minha infância feliz com alguns que guardo até hoje na memória afetiva e no coração. Vivi experiências fantásticas com outros tantos nas escolas por onde passei. Como foi bom desvendar o conhecimento com eles.
As aventuras, a rebeldia e as descobertas da adolescência, também foram compartilhadas com amigos que me fizeram gente.

Na minha trajetória profissional outros mais se somaram e me acrescentaram tanto!

Nunca me faltou um amigo em nenhuma etapa da minha vida.

Eles sempre surgiram como anjos, mas não por acaso. Porque amizade não é feita ao acaso. Nem se faz por coincidência. Amizade é reencontro de almas. É encontro marcado pelo tempo. Tem que acontecer, nem que para isso você tenha que ir longe ou nunca partir, só para esperá-lo. Mas é preciso abrir o coração para reconhecer um amigo. Ver-se nele! Descobrir afinidades e diferenças e mesmo assim abrir-se! Porque não há nada melhor nessa vida do que ter amigos de verdade.

Claro que já me enganei com alguns, mas geralmente reconheço um amigo de cara. É bater o olho e pensar: eu já conhecia essa pessoa de outras existências. Ela tem a ver comigo ou não tem nada a ver, mas mesmo assim meu coração alegra-se com a sua presença. Mesmo assim sinto-me segura ao seu lado. Estando com ela, sou mais feliz.

Tenho muitos amigos assim. Cada um do seu jeitinho. Ou com seu “jeitão”.

Tenho amigos doces, mansos que acalmam a minha ansiedade.

Tenho amigos mais agressivos, fortes, que me jogam lá para o alto quando desanimo e preciso ouvir o que não quero.

Tenho amigos que me dão colo e afagos em palavras e gestos.

Os que dizem o que eu gostaria de ouvir exatamente no momento em que estou precisando E os que me criticam e me fazem repensar algumas atitudes equivocadas.

Tenho amigos que me dão ombro, mão estendida e sei que também dão um braço por mim se eu precisar.

Tenho amigos que choram comigo, mas fazem de tudo para que eu enxugue logo as lágrimas.

Tenho amigos atenciosos, dispersos, superlativos, tímidos, barulhentos, silenciosos … Amigos ouvintes, amigos falantes … tão lindos!!!

Tenho amigos que se entregam a uma gargalhada comigo, por qualquer motivo bobo.

Tenho os que ficam até mais felizes do que eu, quando conquisto alguma coisa ou me dou bem.

Tenho amigos tão confiáveis que posso abrir uma sociedade com eles, emprestar dinheiro, pedir dinheiro emprestado, desnudar minha alma, entregar meus segredos mais íntimos e confessar meus instintos mais pecaminosos.

Tenho amigos para todas as ocasiões.

Amigos para dividir um pão com ovo, uma bebida quente, um café amargo, um brigadeiro sem culpa, uma luta, uma bandeira, um tempo bom, um tempo ruim.

Os que torcem por mim e me colocam nas suas preces diárias. Os que me abrem as portas de casa e do coração.

Os que mesmo longe, estão perto. Os que estando tão perto, não deixam que nem um dedo me prejudique.

Tenho amigos já se foram e ficaram ainda mais presentes em mim. Aqueles cuja ausência dói tanto, mas sinto conforto em saber que irei reencontrá-los, um dia. Do alto, sei que vibram por mim!

Meus amigos todos são amigos de verdade. Os da infância, da adolescência, da escola, do ofício, do bar, do confessionário, da música, do rádio, da poesia, da noite, do dia. Velhos amigos. Novos amigos.

Às vésperas dos meus 55 anos, tentei contá-los, nominá-los, homenageá-los. Não posso! Sequer posso citar 20 ou 10. Nem mesmo 1, posso nominar. Se assim fizesse, com certeza, estaria cometendo uma tremenda injustiça. Estaria sendo uma ingrata.

Não posso e nem sei contar os amigos que tenho. Porque eles não são números.

São afetos verdadeiros. São tão de verdade que tenho certeza que cada um deles se reconhecerá numa palavra, numa frase que escrevi nestas linhas. Eles sabem exatamente do que falo, de quem falo e sabem a importância que têm na minha vida.

E eu sou feliz demais em tê-los.

Sibelle Fonseca é radialista, militante do jornalismo, pedagoga, feminista, mãe de quatro filhos, cantora nas horas mais prazerosas, defensora dos direitos humanos e uma amante da vida e de gente.

 

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