Centro umbandista é alvo de ataques e intolerância religiosa em Juazeiro; caso está sendo investigado

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O Centro Espírita União, Amor e Caridade, localizado no bairro Piranga, em Juazeiro, no Norte da Bahia, foi alvo de ataques e intolerância religiosa nos últimos dias. A denúncia foi enviada ao PNB pelo religioso Álamo Pimentel.

De acordo com ele, nas últimas quarta (10), e quinta-feira (11),  o centro umbandista, fundado há 76 anos, foi atacada por um grupo de adolescentes.

“No dia 10 de maio o Centro Espírita União, Amor e Caridade, localizado no município de Juazeiro da Bahia, foi violentamente atacado. Fundado no ano de 1947, a casa religiosa reúne uma das mais antigas e respeitadas comunidade umbandista juazeirense. Durante o ritual sagrado das quartas feiras a porta principal do Centro foi arrombada a socos, pontapés e pedradas. Entre o susto com a violência praticada e a partilha da fé com as ancestralidades daquela morada, as pessoas presentes preservaram a intimidade com o sagrado. As portas foram fechadas pacificamente e preces foram recitadas para abrandar os corações em fúria que atacaram as vidas que habitam aquela casa. O episódio de ataque se repetiu no dia 11 de maio. Desta vez não havia movimentação humana dentro da casa. O local permanecia habitado pelas formas e forças ancestrais que guardam o axé do União, Amor e Caridade. Eram aproximadamente 20 adolescentes, todos os sexo masculino e moradores do bairro vizinho. Foram flagrados por câmeras de circuito de vídeo instaladas nas casas da vizinhança e por membros do Centro Espírita que estavam à espreita, receosos de novos ataques”, detalhou Álamo Pimentel.

O membro da casa religiosa contou ainda que os ataques foram denunciados às autoridades polícias e que o caso está sendo investigado.

“A comunidade umbandista local tem tomado as providências cabíveis quanto aos ataques iniciados no dia 10 de maio e está ciente de que novos episódios podem ocorrer. As provas foram reunidas; os prejuízos estão sendo inventariados; as autoridades policiais foram notificadas; as famílias dos adolescentes estão sendo identificadas e chamadas à responsabilidade; a comunidade local está sendo amplamente informada dos acontecimentos. Ainda há muito o que fazer”, acrescentou Álamo.

O membro do centro umbandista declarou ainda que os frequentadores da casa religiosa, que são em sua maioria idosos, temem agora que novos ataques ocorram.

“Apesar do breve intervalo de tempo entre uma ação e outra, os rastros de violência deixam evidências gritantes dos cálculos de suas operações. O grupo intolerante possui marcas fortes de identificação: estavam em bando, eram adolescentes e moradores de uma comunidade próxima. O alvo do ódio foi escolhido metodicamente. Houve repetição dos ataques. As práticas de violação reproduziram os modos de fazer do dia anterior: pedras, socos e pontapés na porta de entrada do Centro Umbandista. A manifestação perversa da intolerância foi organizada. Segundo a comunidade do Centro Espírita União, Amor e Caridade, aquela era a primeira vez que a casa sofria um ataque de tal monta. Colocando a ocorrência em perspectiva histórica, essa não é a primeira e nem será a última vez que uma comunidade religiosa divergente do cristianismo é alvo da intolerância religiosa. Não faz muito tempo que cristãos e cristãs ensandecidos e ensandecidas bradavam pela retirada da imagem da Sereia e do Nêgo D’Água, símbolos das forças das águas homenageados sob a forma de esculturas nos trechos do Rio São Francisco que separam Juazeiro de Petrolina. O ódio que pulsa no coração dos jovens que atacaram o Centro é velho, ardiloso e atravessa fronteiras históricas invisíveis”, criticou.

Álamo Pimentel finalizou ressaltando que a intolerância religiosa manifesta um dos mais violentos atentados contra a vida. “Uma vez praticada, afeta corpo e alma das pessoas e de todas das formas expandidas do sagrado que celebram a fé. Nas religiões de matrizes indígenas e afro-brasileiras as matas com toda a sua biodiversidade constituem os territórios do sagrado. Nas tradições cristãs, atos e palavras, assim como os templos que reúnem fiéis são transpassados pela presença do divino. Quando a intolerância religiosa ofende ou ataca corpos e templos de celebração da fé, opera violações em escala imensurável. A intolerância organizada que violou as portas do Centro Espírita União, Amor de Caridade está em plena expansão no Brasil. É também a violência contra as escolas, contra as pessoas negras, contra a comunidade LGBTQIA+, contra os povos indígenas e quilombolas, contra a natureza, contra a ciência. É a violência do etarismo, do racismo, do machismo, do escravagismo contemporâneo, do negacionismo, da xenofobia e do capacitismo. A intolerância organizada que temos em vista agrega à violência duas qualidades: juventude e cálculo”.

Redação PNB

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