Sempre Aos Domingos: “Todas as honras a quem não preciso mais dizer ”Alto Lá, aqui não!”, por Sibelle Fonseca

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Do conjunto infinito de frases e lições que meu pai me deixou de herança, duas me marcaram.

Cordial, meu pai sábio e semianalfabeto dizia aos que chegavam lá em casa sem avisar: “A que devo a honra?”

Já quando atrevido, avisava logo a quem o importunava: “Alto Lá! Aqui não!”

Citações extremas para ocasiões apropriadas, que revelam uma personalidade firme e franca. Assim era meu pai. Herdei dele também esse jeito de ser e existir.

Vivo de coração aberto e sempre digo aos que chegam: “A que devo a honra?”. Aos que permanecem não canso de dizer o quando eles me honram. E agradeço.

Meus pais me honram. Minhas irmãs me honram. Desde o ventre, meus filhos me honram. Meus amigos das diversas fases me honram também.

Toda vez que alguém entra na nossa vida deveríamos perguntar: “A que devo a honra?”, mas também nos questionar se a presença daquela pessoa nos honra de igual forma.

O tempo vai ficando cada dia mais escasso pra todo mundo. A finitude da vida é certa. Não adianta tirar o glúten, preencher linhas e vazios, puxar ferro, comer 6 ovos por dia e fazer de tudo para parecer ser.

Tenho pensado muito nisso e só querendo me ajuntar a gente que me faz melhor. Gente vestida de valores amorosos, como a honestidade, a solidariedade, a verdade, a dignidade, a valentia, a empatia e reciprocidade

Tendo pressa em me melhorar, sou impelida a pinçar pessoas que me honram.

Gosto de gente povoada, inteira, frágeis também, sem pretensões e pesos, de alma e coração escancarados. Nelas invisto todos os meus créditos. Se houver decepção, paciência! O problema não é meu.

Passei uma existência obrigada a dizer: “Alto Lá! Aqui não!”. Todas as vezes que tive que me sair de uma situação constrangedora, de ameaça. Todas as vezes que precisei mostrar força e me auto afirmar. Todas as vezes que precisei reagir para poder existir. A dar freio e voz onde era preciso. A dizer que não queria e o que queria. A não me abater com rejeição e nem necessitar de aprovação. A mandar as regras mais rasas, às favas. A fazer minhas próprias regras, a me colocar, a me validar.  Na verdade, aprendi a me respeitar, o que alguns chamam de coragem.

Alto Lá, aqui não! Aqui ninguém invade, nem oprime, nem ameaça, nem impõe. Daqui ninguém tira um pedaço, sem que eu queira. Alto Lá, aqui não! Aqui existe gente e gente que se respeita! Gente que se garante, que tem nome sem precisar de nome de ninguém. Essa aqui se assume e se honra!

Alto Lá, aqui não! Que fiquem os que me honram e os que se sentem honrados por mim, esta pessoa nada fácil. Cordial que nem meu pai e bem mais atrevida do que ele.

“Quem não ouve conselho, ouve coitado”. Fica essa outra frase de meu pai para concluir essas considerações inúteis que costumo fazer sempre aos domingos.

Sibelle Fonseca é radialista, militante do jornalismo, pedagoga, feminista, humanista, mãe de 4 filhos, humana de Diana, cantora nas horas mais prazerosas, defensora dos direitos humanos e animais, uma amante da vida e de gente.

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