Casal que agrediu recreadora no Bodódromo, em Petrolina, vai responder pelo crime de lesão corporal leve; policial militar responderá ainda pelo crime de injúria

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Em coletiva de imprensa realizada na manhã desta terça-feira (19), o delegado Dark Blacker, titular da 214ª Delegacia de Polícia falou sobre o resultado da investigação do caso em que uma recreadora foi agredida pelo policial militar da Bahia, Gabriel Junior, e sua mulher. As agressões foram registradas no último dia 20 de agosto, em um parquinho infantil do Bode do Ângelo, no Bodódromo de Petrolina, no Sertão de Pernambuco.

De acordo com o delegado, o inquérito foi concluído e o casal deve responder pelo crime de  lesão corporal. O PM vai responder ainda pelo crime de injúria, já que testemunhas ouvidas relataram que presenciaram ele proferindo palavras de baixo calão em relação a recreadora.

Blacker explicou ainda que o crime não se enquadra na lei Maria da Penha por não se tratar de violência doméstica.

O caso será encaminhado para o Ministério Público como crime de menor potencial. “São crimes de menor proporção e estará incluído na lei de juizados especiais. Foram lesões corporais leves”, declarou o delegado.

Sobre a arma,  Blacker informou que tendo as imagens e os depoimentos como base, ficou constatado que o policial não ameaçou a vítima com uma arma. “Houve uma discussão se teve alguma ameaça por parte dele. No depoimento, ele diz que foi no momento da confusão e arma estava caindo. As imagens demonstram que, realmente, no momento da confusão, a arma começa a cair e ele segura a arma. Logo em seguida, ele não aponta para ninguém, e bota na cintura”, disse o delegado, que acrescentou ““A arma naturalmente causa impacto e foi perguntado a todas as testemunhas e as pessoas que estavam presentes, se ele em algum momento utilizou da arma para ameaçá-las e todas negaram. Ninguém se sentiu ameaçada, ninguém representou pela ameaça”.

Caso sejam condenados, o PM e sua mulher podem pegar uma pena de detenção de três meses a um ano por lesão corporal. Gabriel Junior pode ser condenado ainda a mais seis meses a um ano por injúria.

Porém, ainda de acordo com o delegado, “caso no final, haja uma condenação, ou ele aceitar uma transação penal, pode ter aplicação de medidas restritivas de direito, por exemplo, e não uma prisão”.

Relembre o caso

Nas imagens, registradas pelas câmeras de segurança do estabelecimento, a profissional aparece sendo agredida com empurrões, chutes no rosto e puxões de cabelo pelo policial militar da Bahia, Gabriel Junior, e sua mulher. O PM chegou a sacar uma arma de fogo.

A recreadora de 20 anos, contou ao PNB que trabalha no Espaço Kids do restaurante há cerca de 1 ano e 7 meses e nunca tinha passado por uma situação semelhante.

Ainda com as marcas das agressões no rosto, ela relatou que está “sentindo muita dor de cabeça” e também fez questão de afirmar que, das vezes anteriores em que o casal esteve no estabelecimento nunca houve nenhuma discussão. Ela ressaltou ainda que o filho do casal, um garoto de 2 anos, “era um amor, mas infelizmente ele era muito rápido em questão de bater nos outros coleguinhas”.

Confira o relato da profissional:

“Tudo começou quando a mãe estava na mesa e o almoço tinha acabado de chegar. Ela foi chamar o filho para almoçar e ele já estava lá no parquinho há cerca de uma hora e eu fui passar para ela que ele estava batendo em algumas crianças. Estava tomando os brinquedos, e eu não estava conseguindo controlar ele e que eu precisava da ajuda dela, até por ele ser pequenininho, eu estava precisando do acompanhamento dela. Nesse momento, ela só olhou na minha cara, me deixou falando sozinha e chamou a criança para almoçar. Ela fez como se nada tivesse acontecendo. O menininho não saiu para almoçar, ele não obedeceu e ela voltou para mesa para almoçar. Após alguns minutos, ele voltou a bater nas crianças, e toda hora tomava o brinquedo de um menininho autista que também estava lá e só gostava desse brinquedo. Eu, a todo momento, tentava colocar outro brinquedo na frente do filho desse casal para distrair ele, mas ele voltava a fazer de novo. Foi quando ele passou a mão no pescoço do menino autista e passou a perna por cima. Nesta hora eu corri para perto do brinquedo para controlar a situação e coloquei a criança autista para um lado e coloquei o filho dela para brincar em outro lugar. Nesse momento, eu chamei a atenção dela de novo, lá mesmo de dentro do parquinho. Acenei e falei: ‘moça, venha aqui, estou precisando da sua ajuda’. Só acenei e chamei, mas ela nem olhou na minha cara. Aí, se passaram uns 3 a 5 minutos ela veio no parquinho e falou bem arrogante: ‘Oi, já tá me chamando de novo? Eu estou precisando almoçar, minha comida está esfriando. Desde a primeira vez que eu vim aqui, que eu não fui com a sua cara porque você botou meu filho para fora’. Eu rebati perguntando se ela tinha certeza que eu tinha feito aquilo. Ela continuou dizendo que eu não deixava ela almoçar em paz e toda hora ficava chamando para falar que a criança estava fazendo alguma coisa e disse: ‘Se eu estou pagando a m**** da pulseira, é porque eu quero que você faça o seu trabalho. Eu não quero ser incomodada’. Aí eu falei de novo: ‘Moça, eu não estou conseguindo controlar ele’. Ela falou que eu me virasse e começou a se alterar, a gritar. Eu, a todo momento, pedindo que ela se acalmasse, que falasse baixo porque o parquinho estava cheio de crianças. Foi nessa hora que ela começou a falar que eu não estava sabendo fazer o meu trabalho, me chamou de irresponsável, de vag******** , que o meu lugar não era ali, que eu precisava sair dali porque eu não sabia trabalhar com criança e eu pedindo calma, e ela me chamando de vag*******, colocando o dedo na minha cara. Foi na hora que eu falei: ‘Moça, abaixa o dedo, por favor, e se acalme’, e ela avançou em mim”, contou a jovem trabalhadora.

Ela continuou relembrando a situação de violência que sofreu: “Quando ela agarrou em mim, o marido dela já veio também correndo atrás. Eu nem vi ele direito, só escutei quando ele começou a gritar, me chamar de vag***, puxar meu cabelo, me jogar no chão e chutar meu rosto. Eu nem sabia que ele estava armado, eu só escutei o pessoal gritando, pedindo para separar e tirar as crianças porque ele estava armado. Nesse momento para mim foi um desespero, porque o lugar estava cheio de criança. Eu só pensei: ‘Meu Deus, eu vou morrer na frente das crianças’, relatou a vítima.

A trabalhadora confirmou que o casal já tinha indo antes no estabelecimento e deixado o filho no espaço infantil, mas negou que tivesse colocado a criança para fora ou maltratado o garoto.

“Em relação ao que ele falou que ele foi lá três dias com a criança e eu coloquei o menino para fora, não é verdade. Ele já foi lá sim, umas três vezes, mas eu não coloquei nenhuma criança para fora, até porque eu não tenho esse direito. Lá, a gente recebe o treinamento de que se acontecer qualquer situação, a gente não pode interferir. A gente chama o gerente para resolver. Então, eu nunca coloquei nenhuma criança para fora. Por mais que seja uma criança difícil, eu sempre tento brincar, fazer brincadeira, boto um desenho, uma musiquinha. Mas como ele, nada disso adiantava. Além disso, em momento algum eu puxei o braço dele. Quando eu tento pegar um brinquedo de alguma criança, eu abaixo para conversar com a criança e pego no braço, mas nunca puxei. Eu só chamei ela, porque eu já não estava conseguindo controlar o menininho. Eu sou o tipo de profissional que só chamo os pais em último caso. Sempre deixo os pais à vontade, só chamo quando vejo que não estou conseguindo conter a criança”, esclareceu.

Ela disse ainda que já tinha observado o comportamento “arrogante” da mãe da criança.

“Desde a primeira vez que eles foram lá eu já tinha percebido que ela era uma pessoa arrogante, pois a gente dava boa tarde e ela não respondia. Só deixava ele lá e ia para mesa. A gente percebia que ela gostava de ir para o restaurante por conta do parquinho, para se ver livre da criança. Ele ficava horas lá, demorava para sair para almoçar, para tomar água. Ele sempre ficou lá no parquinho comigo e eu sempre tratei ele com amor e carinho”, contou.

A jovem finalizou expressando o amor e dedicação ao trabalho que realiza: “Só tenho a dizer a todos que faço o meu trabalho muito bem e não é a toa que as crianças e pais gostam de mim. Eu estou muito triste, sempre trabalhei com crianças e nunca me aconteceu isso. Gosto do certo pelo o certo e tudo o que acontece com as crianças eu falo aos pais. Gosto muito de crianças, de verdade. Vou tirar forças de onde eu não tenho, mas vou conseguir em nome de Jesus. Eu amo o meu trabalho e amo muito minhas crianças,” finalizou.

Redação PNB

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