A tradição dos penitentes, em Juazeiro, Norte da Bahia, a cada quaresma vai perdendo força. Os grupos foram desaparecendo e, atualmente, se resume a um único cordão que resiste e cumpre o ritual entre a quarta-feira de cinzas e a sexta-feira da paixão.
O cordão de “Nenenzinha” Ribeiro ainda pode ser visto nas noites da quaresma percorrendo as ruas do bairro Santo Antônio até o cemitério central da cidade.
Solitários, homens e mulheres vestindo branco e com os rostos cobertos, reproduzem as sete estações e, em cada parada, acendem velas, fazem orações, cantam os benditos, ecoam os lamentos das almas.
A morte da tradição cultural e religiosa empobrece a história de Juazeiro por pura falta de apoio e de respeito.
Nesta sexta-feira (22), o ator e diretor de teatro, Devilles Sena, profundamente entristecido, lamentou a cena que viu ao acompanhar o único cordão que, a duras penas, mantém o ritual.

No cemitério, uma das paradas mais importantes do cordão, os penitentes são recebidos com total desatenção. Escuridão, sujeira, mato.
” Juazeiro está enterrada no passado. Muito lixo e escuridão recepcionam o que resta dos penitentes, uma tradição do povo ribeirinho. Tradição que está perto do fim. Lamentável e muito triste presenciar esta cena deprimente, que denuncia a total falta de respeito com a memória, com a identidade e história de Juazeiro,” observou o artista.
Ermerson Oliveira, mais conhecido como “Pai Bimbo”, que fez parte da penitência por muitos anos, também expressou sua tristeza e indignação com a “falta de respeito à tradição.”
“Um descaso e falta de respeito com os penitentes de Juazeiro. O cemitério escuro,
cheio de mato, impossibilitando que as estações fossem feitas, por medo de cobra ou outros bichos. Uma vergonha para a nossa cultura. Fiquei muito triste em vê aquela situação. Está acabando a tradição e ainda com este descaso fica impossível para as pessoas que quererem acompanhar o cordão. Muito revoltante!” protestou “Pai Bimbo”.

O PNB encaminhou as críticas para o setor de cultura do município e também para a Serviços Públicos, responsável pela manutenção do cemitério.
Redação PNB



