Dólar sob sobe em 84 países; não é só o real que está perdendo valor em relação a moeda americana

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Um levantamento comparando 118 moedas do mundo todo mostra que não é só o real que está perdendo valor em relação ao dólar. Outras 84 divisas também estão se desvalorizando ante a moeda americana.

O real, porém, é a quinta que mais se enfraqueceu, segundo levantamento da Austin Rating, considerando a Ptax de 3 de julho. A Ptax é a taxa média diária do dólar, calculada pelo Banco Central.

Confira:

Nigéria/naira -42,6%
Egito/libra -35,8%
Sudão do Sul/libra sudanesa -29,9%
Gana/cedi -21,9%
Brasil/real -13,3%
Japão/iene -12,4%
Argentina/peso -11,7%
Seychelles/ rúpia -10,7%
Turquia/lira -9,2%
Suíça/franco suíço -7,0%
México/peso -6,8%
Chile/peso -6,5%
Bangladesh/taca -6,4%
Tailândia/bath -6,3%
Ucrânia/hryvnia -6,3%
Colômbia/peso -6,0%
Coreia do Sul/won -6,0%
Indonésia/rúpia -6,0%
Taiwan/novo dólar -6,0%
Ilhas Mauricio/rúpia -5,6%

Nesta quarta-feira (3), o dólar comercial estava em queda e a Bolsa de Valores de São Paulo em alta. “Sinais de desaceleração no mercado de trabalho nos Estados Unidos enfraquecem a moeda americana globalmente no dia de hoje”, diz Sérgio Brotto, cofundador e diretor executivo da Dascam Corretora de Câmbio.

E a reunião do ministro da economia, Fernando Haddad, nesta da tarde, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as questões das contas públicas ajuda a cotação a cair. Por volta de 16h, o dólar caia 1,90%, para R$ 5,55. A Bolsa tinha valorização de 1,23%, chegando a 126.186,73.

Mas no acumulado do ano, o dólar já se valorizou 17,07% em relação ao real, conforme dados da consultoria Elos Ayta. Levando-se em conta o ganho do dólar frente a outras moedas, o Brasil também está em quinto lugar nesse parâmetro.

Por que o dólar está se valorizando tanto?

O problema é a inflação nos Estados Unidos e em outros países. Para controlá-la, os governos sobem os juros e isso desvaloriza as moedas. Depois da pandemia, quando a economia mundial precisou parar por conta do coronavírus, os preços de alimentos, produtos básicos e vários outros itens dispararam no planeta.

Os países subiram os juros para conter a alta de preços. Nos Estados Unidos, o juro era de 0,25% ao ano em 2021. Agora, está em 5,5%.

“Tradicionalmente, quando havia inflação, os países desenvolvidos subiam um pouco os juros e logo a inflação cedia. Mas isso não está acontecendo agora”, Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

Por que a inflação não está cedendo?

Os economistas não conhecem a razão ao certo. Mas sabe-se que as cadeias de suprimentos globais ainda não foram totalmente restabelecidas depois da pandemia. E isso influencia. Além disso, guerras como a da Rússia e Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio pioram essa situação no planeta todo. “É uma panela de pressão. E soma-se a isso tudo a transição energética”, acrescenta Agostini.

Com as mudanças climáticas, as cadeias de suprimentos também sofrem. As enchentes na Ásia, no final do ano passado, por exemplo, atingiram em cheio a indústria de vestuário que supre, de lá, a maior parte dos varejistas de moda no mundo todo.
Diante disso, mesmo com inflação, os países precisam investir para fazer a transição energética. E os gastos pressionam mais a alta dos preços.

Com juros altos, os investidores saem de investimentos de risco para aplicar nos juros dos EUA. O tesouro americano, além de pagar bem, é a aplicação mais segura do mundo.

“O Federal Reserve (o Fed, o banco central americano) tem sinalizado que pode manter as taxas altas por mais tempo para garantir que a inflação continue a diminuir de forma sustentável sinalizando eventuais reduções somente a partir de setembro ou dezembro”, diz Brotto.

Por que os dados de emprego influenciam?

Por que, principalmente nos EUA, quanto mais emprego há, mais os consumidores gastam. E, se compram mais, os preços não caem. Nesta quarta-feira, o dólar está em queda por conta do relatório de emprego da ADP. O número de vagas de emprego no setor privado em junho diminuiu e encerrou o mês em 150 mil, quando analistas esperavam que subisse para 158 mil.

E por que o Brasil sofre mais que outros emergentes?

Por que os investidores, nesse ambiente, precisam se desfazer de aplicações de risco. “Não é porque os investidores odeiam o Brasil. Eles só estão migrando porque estão buscando a segurança e os ganhos nos juros americanos”, diz Agostini.

O problema é que aqui o risco piorou. Nos 30 anos após a implantação do Plano Real, diz Agostini, o país teve cerca de 15 anos de contas públicas no azul e 15 no vermelho. Então, o governo gastar mais do que arrecada não é novidade.

O que é novo, agora, é que o mercado prevê uma piora. “O governo não tem como arrecadar mais. E tem dificuldade para cortar gastos. Ao mesmo tempo, com a calamidade no Rio Grande do Sul, só para dar um exemplo, ele vai ter que gastar mais. Essa conta não fecha”, diz o economista.

Então, para continuar colocando dinheiro no Brasil, o investidor exige uma compensação. As ações ficam mais baratas, o juro continua alto e o real se desvaloriza. “É como se ele aumentasse o seguro para investir aqui, desvalorizando a moeda”, diz Agostini.

Onde o dólar vai parar?

O dólar sobe de elevador, mas desce de escada, explica Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital. “Não é possível saber se a moeda americana vai chegar a R$ 6 — ou até mesmo mais”, diz ele. Mas voltar para a faixa dos R$ 5 é difícil. “No passado, o dólar chegou a R$ 5,80 ou até um pouco mais, e levou meses, praticamente mais de um ano, para retroceder”, diz ele.

UOL

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