“Independência ou morte!”, gritou Dom Pedro I às margens do Rio Ipiranga, em 07 de setembro de 1822, para tornar o Brasil independente de Portugal – fato que mudaria a história do país para sempre. O processo para expulsar as tropas portuguesas, no entanto, foi muito mais complexo do que essas três palavras. E mesmo após 202 anos, ainda existem desafios que questionam a plenitude dessa independência.
Antes de mais nada, é importante ter em vista que o grito de Dom Pedro foi apenas um capítulo da guerra pela independência, que se estendeu até 02 de julho de 1823, quando a Bahia expulsou de uma vez os últimos resquícios do domínio europeu e se tornou oficialmente uma província do império brasileiro. Aí se destacam, sobretudo, as figuras femininas, como Maria Filipa, Joana Angélica, Maria Quitéria e outras.
“A independência do Brasil não vai terminar aí (no 07 de setembro). Ela vai finalizar aqui na Bahia, porque as tropas portuguesas ainda vão estar presentes e Portugal ainda vai exercer uma grande influência, já que Salvador era um local estratégico de interesse para Portugal economicamente. O Brasil não se torna completamente independente no 07 de setembro”, explica Rafaela Condurú, graduanda em história pela Universidade Estadual da Bahia.
“É um processo enorme, longo, assim como as independências latino-americanas. Isso porque somos países colonizados e a colônia, a metrópole, tinha interesse em manter um local dependente para continuar explorando economicamente”, completou.
Esse interesse, no entanto, não desapareceu com a expulsão das tropas portuguesas. De forma geral, a consolidação do Brasil independente é um esforço permanente e contínuo, com momentos de avanço e outros de retrocesso. “Estamos sim independentes, mas não constituídos”, disse Frei Caneca, originalmente Joaquim da Silva Rabelo, o religioso e político que se envolveu na Revolução Pernambucana, em 1817.
“Nós somos sim um país independente, porque o termo de independência vai rememorar muito mais um tempo colonial. Nós temos o nosso próprio governante, nós elegemos o nosso próprio governante e ele consegue ter relações diplomáticas com outros países, em uma posição muito melhor”, explicou Rafaela.
Apesar disso, não se pode negar que são inúmeros os desafios para reafirmar o Brasil como um país soberano em si mesmo, sobretudo no que se refere à economia, que ainda é fortemente influenciada por interesses estrangeiros. Para Rafaela, essa influência é exercida, sobretudo, pelos Estados Unidos.
“Os Estados Unidos exerceram durante muito tempo grande influência no Brasil e em praticamente todos os países latino-americanos. Com o imperialismo norte-americano, eles vão apoiar ditaduras nos países da América Latina, inclusive aqui, e vão influenciar na educação brasileira, vão influenciar economicamente e socialmente”, disse.
A falta de investimentos em pesquisa e desenvolvimento também contribui para uma ruptura na autonomia do pais, já que o torna dependente de tecnologias estrangeiras em setores chave. Nesse contexto, o fomento à ciência, ainda defasado em solo brasileiro, é crucial para garantir que as influências de fora se mantenham apenas como influências, e não como controle.
Fatores como desigualdade social e instabilidade política também podem ser elencados como desafios atuais do Brasil pós independência, mas outro ganha notoriedade a cada dia: a exploração não sustentável dos recursos naturais do Brasil.
A questão ambiental é cada vez mais gritante e obscura, ao passo que não se sabe exatamente quem e com que objetivo exploram a fauna e a flora de um dos países mais ricos do mundo nesse quesito. Desmatamentos, queimadas, poluição em rios e mares, tudo isso coloca em risco nossa soberania ambiental e compromete o futuro das gerações.
A história da independência do Brasil não apenas definiu a trajetória política e social do país, mas também moldou a identidade nacional e estabeleceu os alicerces para a construção de uma nação soberana, que precisa ser fortalecida a cada dia para que o hino ao 02 de julho continue a ecoar cada vez mais alto: “Nunca mais o despotismo regerá nossas nações. Com tiranos não combinam brasileiros corações”.
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