“A Bossa Nova de João também é nossa“ por João Gilberto Guimarães

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Segundo o escritor e pesquisador Ruy Castro, João Gilberto criou a batida revolucionária da Bossa Nova no banheiro da casa de sua irmã, em Diamantina, Minas Gerais — e não em Juazeiro, como alguns ainda insistem em afirmar. Esse momento decisivo na música brasileira aconteceu após uma temporada difícil no Rio de Janeiro, onde João buscava se firmar como artista, mas enfrentava resistência devido ao seu estilo inovador.

Derrubando mitos que cercam sua biografia, João não saiu de Juazeiro taxado de doido nem sob pedradas, como certas versões fantasiosas sugerem. Deixou sua cidade natal para estudar em Salvador e, posteriormente, seguiu para o Rio de Janeiro, onde sua genialidade encontrou a sofisticação harmônica de Tom Jobim. O encontro entre os dois resultou na sonoridade revolucionária da Bossa Nova, um estilo que unia a suavidade do canto quase sussurrado de João, suas harmonias sofisticadas e sua inconfundível batida de violão.

A Bossa Nova, entretanto, não foi obra de um só homem. O movimento teve importantes nomes que ajudaram a consolidá-lo e popularizá-lo, como Carlos Lyra, Roberto Menescal, Luiz Bonfá, Toquinho e Vinicius de Moraes. O impacto da Bossa foi tão grande que moldou gerações inteiras de músicos. Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e até Roberto Carlos se inspiraram em João Gilberto no início de suas carreiras. No cenário internacional, a influência do ritmo criado pelo juazeirense chegou a artistas como Amy Winehouse, que, no auge de seu sucesso, gravou Garota de Ipanema, uma das músicas mais regravadas do mundo.

A Bossa Nova não foi apenas um marco musical, mas também se tornou a trilha sonora de um Brasil em transformação. Durante o governo de Juscelino Kubitschek, período marcado pelo otimismo e pela modernização do país, o estilo ganhou ainda mais destaque, levando uma imagem sofisticada do Brasil para o mundo.

Juazeiro, cidade natal de João Gilberto, não poderia deixar de prestar homenagens ao seu filho mais ilustre. Além da estátua erguida em sua homenagem, uma parceria público-privada resultou na criação da Vila Bossa Nova, um espaço que prometia ser um reduto do estilo musical na cidade. No entanto, por muito tempo, a Bossa Nova esteve ausente desse espaço, gerando críticas e frustrações entre os admiradores do gênero.

Essa lacuna, porém, começou a ser preenchida recentemente com um projeto que trouxe nova vida à cena musical de Juazeiro: as Terças da Bossa Nova. A iniciativa, idealizada pela talentosa cantora Wênia Trindade, vem reunindo músicos e apreciadores do gênero em um encontro semanal, realizado em uma cervejaria da Vila Bossa Nova, reafirmando a importância do legado de João Gilberto e garantindo que sua obra continue a ecoar em sua terra natal.

João Gilberto não foi apenas um artista genial, mas um verdadeiro divisor de águas na história da música brasileira. Sua maneira única de tocar violão e cantar mudou os rumos da MPB e projetou o Brasil para o mundo. Ainda hoje, sua influência se faz presente em novas gerações de músicos e em cada acorde da Bossa Nova que ressoa pelo planeta.

Se Juazeiro, por muito tempo, negligenciou seu filho mais ilustre, parece estar, aos poucos, se reconciliando com ele. As Terças da Bossa Nova são um sinal de que, finalmente, a cidade começa a reconhecer e valorizar a grandiosidade de João Gilberto, aquele que, com seu violão e sua batida inconfundível, reinventou a música brasileira e deixou um legado imortal.

E assim, entre melodias e acordes suaves, vai se confirmando o que João sempre soube: a Bossa Nova não tem fronteiras, mas seu coração sempre baterá em Juazeiro, e é só isso o meu baião e não tem mais nada não.

Por João Gilberto Guimarães Sobrinho, juazeirense, poeta, produtor cultural, cientista social formado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco e apaixonado pela nossa Bossa Nova.

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