“De como o mito do El Dorado passou pelo São Francisco” por João Gilberto Guimarães

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Imediatamente após a invasão da América do Sul por portugueses e espanhóis, os povos originários relataram aos conquistadores a existência de uma imensa e riquíssima lagoa localizada no coração do continente. Essa lagoa, conhecida pelos nativos como Vapabuçu, estaria repleta de ouro, prata e pedras preciosas. Às suas margens, dizia-se, existia uma cidade esplendorosa, cujas construções reluziam sob o sol tropical graças ao brilho dos metais preciosos que as ornamentavam.

Ainda segundo o mito, dessa misteriosa lagoa nasciam os três grandes rios do continente: o São Francisco, o Paraguai (então chamado de Rio da Prata) e o Paraupava, hoje conhecido como Rio Araguaia. Para chegar até Vapabuçu, bastava seguir o curso de qualquer um desses rios. O mito, que circulava amplamente entre os povos indígenas e já era conhecido no litoral do Brasil no século XVI, logo despertou a cobiça desenfreada dos europeus recém-chegados.

A partir da década de 1570, expedições — as famosas bandeiras — partiram de todas as capitanias do Brasil rumo ao interior, tendo como objetivo principal alcançar o Rio São Francisco e, a partir dele, encontrar a mítica lagoa dourada. Nenhuma dessas expedições obteve êxito. Ainda assim, a lenda sobreviveu, atravessando os séculos e reacendendo esperanças em aventureiros de diferentes nacionalidades.

Mesmo no final do século XIX e início do XX, exploradores europeus ainda arriscavam suas vidas nas matas do Brasil em busca da lendária cidade de ouro. Um dos casos mais emblemáticos é o do coronel inglês Percy Fawcett, que desapareceu misteriosamente em 1925 na região do Xingu. Na ocasião, ele acreditava estar às vésperas de encontrar o verdadeiro El Dorado. Por quase trinta anos, a literatura fantástica manteve viva a ideia de que Fawcett havia triunfado e vivia integrado a uma civilização secreta no meio da selva.

No entanto, em 1952, os irmãos indigenistas Villas Boasouviram dos índios Kalapalos a confissão de que haviam matado o explorador e enterrado seu corpo. Eles indicaram o local e entregaram os ossos de Fawcett — encerrando, assim, uma das histórias mais enigmáticas do século XX.

Sem dúvida, trata-se de uma narrativa fascinante, que ainda hoje nos convida à reflexão e à pesquisa. Como tantas outras no Brasil, ela começa com o nosso grande Rio São Francisco — ou seria Rio Opará? Ou talvez Rio Pará?
Mas isso… isso já é assunto para outra história.

Por João Gilberto Guimarães Sobrinho, juazeirense, produtor cultural, cientista social formado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, entusiasta do resgate da memória histórica de Juazeiro e pesquisador das Políticas Públicas de Cultura.

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