Cartas I: “A saudade escrita com amor”, por Luiz Hélio Alves

0

 

Houve um tempo em que o coração batia diferente ao som do carteiro na calçada. Era como se cada passo dele trouxesse um pedaço de quem se ama. As cartas, essas guardiãs de sentimentos, chegavam como vento de esperança: em envelopes amarelados, bordados de letras tremidas, carregando dentro de si o peso leve das emoções mais profundas. Nos anos áureos da ferrovia Leste Brasileira, nas estações de Juazeiro e Petrolina, esperava-se mais do que pessoas, a ansiedade também era tomada pelas correspondências que chegavam a todo vapor junto com o apito do trem.

Cada palavra envelopada, escrita à mão, era como uma flor colhida no jardim da alma. Havia algo de sagrado na espera. A distância não era só geográfica, era também temporal. Era preciso esperar dias, semanas, às vezes meses. Mas quando a carta chegava, o tempo parecia recompensar com doçura. O envelope era aberto com mãos ansiosas e olhos marejados, como quem desembrulha um abraço. As frases, muitas vezes manchadas por lágrimas, confessavam amores, contavam saudades, partilhavam silêncios. Era o papel quem ouvia tudo primeiro, antes que o coração pudesse responder. E entender.

E havia romantismo nisso. Um romantismo que não cabia em palavras curtas ou vozes apressadas pelo telefone. Era o tipo de amor que se demorava, que exigia pausa, entrega, intenção. Cada carta era quase um relicário, onde sentimentos eram colocados como joias, com zelo e poesia.

Atualmente o carteiro com sua tradicional farda azul e amarela só chega em nossas casas entregando boletos. É a conta a pagar pelo veloz avanço tecnológico?!
_________

Leia no próximo sábado:
Cartas II: a saudade escrita com amor em tempos de comunicação instantânea

Luiz Hélio Alves (@heliopoeta) – Escritor, poeta e jornalista. Membro da Academia Juazeirense de Letras, autor dos livros “O Canto Cortejante”, “Letras Embriagas”, “Mengo Meu Dengo – Paixão Sem Fronteiras”, e “Onde Estiver, Estarei – O Flamengo no Brasil e no Mundo”.

DEIXE UMA RESPOSTA

Comentar
Seu nome