Opinião: Até Renan pede a volta do MinC. Só falta agora Michelzinho.

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Por Sibelle Fonseca

O pacote de medidas e atos que o Presidente interino trouxe na mala já deu o recado. Já mostrou a cara do Governo, assustando até mesmo os defensores do seu assento. Ou os deixando caladinhos de vergonha.

Eles já disseram a que vieram. Sem um pingo de pudor ou desfaçatez ocuparam a área com artilharia pesada. Os construtores da ponte que já dá sinais de levar ao passado, trouxeram na mala a discriminação a negros e mulheres excluídos do projeto de poder; trouxeram sete notáveis ministros citados na lava jato e o enfraquecimento do combate à corrupção com a extinção da CGU; trouxeram o cinismo de Cunha em André Moura e em mais alguma coisa; trouxeram a perseguição que atingiu Ricardo Melo (EBC) e o petista negro servidor de cafezinho. Simbólico ato; trouxeram também a voz ameaçadora do ministro advogado do PCC; trouxeram a defesa dos planos de saúde e a proposta de redução do SUS; Trouxeram cortes no Minha Casa Minha Vida e a morte do Ministério da Cultura.

Por hora. A primeira semana foi movimentada. E ainda tem muita coisa na mala.

Mas vamos falar da cultura. Munidos de um conservadorismo tirano, os caras pintadas de retrocesso atingiram a cultura em cheio. Temer que também é escritor, inclusive de poesias, e ouve as sugestões de “Michelzinho” transformou a cultura em apêndice do Ministério da Educação. Um quartinho dos fundos. Justificando que a medida atende ao “clamor popular” pela redução de pastas. Logo a pobre pasta da cultura? Teria sido um recado, uma indireta bem certeira para aqueles que, historicamente, sabem usar a arte para resistir nas ruas e desafiar a burrice da censura fazendo todo mundo pensar que “Cálice” é uma espécie de suplica ao pai, por exemplo? Bem no estilo “Não dar asas a cobras”? Ou pensa Temer como pensa Feliciano e manda artista procurar o que fazer? Vai saber… Até o Renan disse que foi um erro e um retrocesso. Concordando com Caetano. E com as cinco mulheres que disseram NÃO a Temer, rejeitando o convite para assumir a condução da nova secretaria: a apresentadora Marília Gabriela, a antropóloga Cláudia Leitão, a consultora cultural Eliane Costa, a atriz Bruna Lombardi e a cantora Daniela Mercury. Abro um parênteses para citar exceções: Marta Suplicy e Lobão estão felizes com Mendonça Filho no MEc.

Brasil a fora, artistas, intelectuais, produtores culturais, amantes e demais defensores da cultura estão resistindo ao ato que ameaça às políticas públicas para a cultura, implantadas nos últimos anos.

Na cultural cidade de Juazeiro a classe artística é quase unânime nessa insatisfação. Se o golpe contra a democracia os dividiu, o contra a cultura está alinhando o discurso. O ato de Temer os atingiu. Claro, alguns permanecem calados. Me parecem um tanto sem graça, sem saber o que falar. Lembro do meu pai quando dizia: “Entupa!”, sempre depois que me dava uma surra daquelas.

Ele, meu pai, logo se arrependia.

E como Renan já pediu a Temer que recrie o MinC, pode até ser …

Quem sabe Michelzinho também não o aconselhe?

O que pensa a cultura local?

“Juazeiro também se levanta para defender esta causa, e a Secretaria Municipal de Cultura e Juventude,
se solidariza com a cultura nacional, violada e politicamente relegada a um inóspito gerenciamento político-partidário. Estamos atentos para defender a nossa cultura, maior
patrimônio deste país”
(Donizete Menezes, Secretário de Cultura e Juventude de Juazeiro)

 

 

“Uma das principais conquistas recentes do setor cultural é o Sistema Nacional de Cultura com participação federal, estadual e municipal estabelecida em lei e o Minc é parte fundamental nessa engrenagem. Acredito que a economia será pequena, apenas com a extinção do gabinete ministerial, pois já foi dito que o restante da estrutura será preservada, ou seja, a perda simbólica e política não compensa. A única perspectiva positiva de estar no MEC é a maior aproximação com escolas e faculdades, onde a cultura e as artes precisam realmente ganhar maior projeção, mas isso poderia acontecer mesmo em ministérios separados. O momento seria adequado justamente para uma medida oposta, de fortalecimento da área cultural e destinação de 2% do orçamento da União para o ministério” (Celso de Carvalho, produtor cultural – Juazeiro/Petrolina)

279214_119431678146005_100002375207648_162846_7274486_o-111“Os últimos governos deram passos fundamentais para a classe artística, criando e desenvolvendo possibilidades reais e concretas para as expressões culturais, sobretudo para a cultura popular. É uma função do governo também, investir na produção cultural do país. Extinguir o MinC é um retrocesso. Voltar para um tempo que não era legal. Pra mim, o MinC é tão importante quanto o Ministério da Educação, da Saúde, das Minas e Energia…” (Manuca Almeida, compositor, poeta e produtor cultural)

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“Para mim não foi surpresa. Era esperado. No mínimo, uma falta de respeito com a cultura brasileira. Só quem trabalha na área, sabe como é difícil realizar qualquer produção cultural sem apoio, sem incentivo. O MinC era esse apoio e incentivo à cultura brasileira, tão rica” (Leonardo Miranda, estudante de Ciências Sociais e produtor do Bosque Coletivo)

 

 

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