É golpe! Há um caminho? por Ivânia Freitas

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“O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar para sair daqui? ”
“Isso depende muito de para onde você quer ir”, respondeu o Gato.
“Não me importo muito para onde”, retrucou Alice.
“Então não importa o caminho que você escolha”, disse o Gato.
“Contanto que dê em algum lugar”, Alice completou. ”
(Alice no país das maravilhas – Lewis Carroll)

Depois daquele domingo (em abril) onde vimos um show de horror na câmara, onde 367 deputados votaram a favor do afastamento da presidente Dilma, a sensação que fiquei por muito tempo é que estamos todos sentados‘no trono do apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar’ ou ‘perdidos’, sem rumo, como Alice.

A Ong Transparência Brasil revelou que mais de cem dos deputados que votaram (pela família naquele dia tão importante para a nação) ganharam destaque, não por defenderem a democracia, mas, por responderem a processos ou serem suspeitos em vários tipos de crimes. Dentre eles, o presidente da câmara à época, Eduardo Cunha, (afastado recentemente), com amplas acusações como lavagem de dinheiro, evasão fiscal, corrupção de todo tipo e para todo gosto, mas, que tripudiou (e ainda o faz) com a justiça, a seriedade da política e da ética no nosso país, mantendo um sorriso no canto da boca.

Na verdade, são inúmeras ações que transgrediram princípios constitucionais e que vêm se acumulando desde que a direita brasileira, inconformada com a derrota nas eleições e sedenta por tomar a direção do país (para voltar a servir ao grande capital) começou a construir o golpe.
A imprensa assumiu o papel de ‘corte’, julgando e condenando ou pelo menos, indicando quem devia ser condenado e absolvido.
O governo interino se instalou colocando em ação, o grande projeto da direita que os brasileiros recusaram desde 2002.
Uma equipe de governo ultraconservadora foi montada: mulheres foram excluídas; negros banidos dos espaços decisórios; ministérios, secretarias, órgãos que se voltavam aos mais pobres e excluídos, foram desmontados, extintos e ou incorporados a outros onde seus fins desaparecem. SUS ameaçado, Educação à beira da privatização; movimentos sociais tratados a chutes e cacetetes; programas e projetos sociais cortados e, enquanto se usa a crise econômica para justificar o desmonte das políticas e dos direitos, vemos aumentos extraordinários em salários de magistrados.

Tem ainda o Cunha que, mesmo afastado, utiliza tranquilamentedos cofres brasileiros (cerca de R$ 200 mil até aqui) pelos privilégios que mantém: voar em aviões oficiais da FAB (Força Aérea Brasileira) com direito concedido pela Mesa Diretora da Câmara e negado pelo Temer à Presidenta Dilma.

Não satisfeito dos milhões roubados da nação (pelos quais é acusado), ainda, segundo o site notícias R7 ,“além dos voos em aviões oficiais, Cunha manteve o salário de R$ 33,7 mil, o direito a ficar na mansão oficial da presidência da Câmara, a verba de gabinete de R$ 92 mil, além de assessores, carro privativo e seguranças pessoais. ”
Essas e outras barbaridades vem acontecendo bem debaixo dos nossos narizes, debaixo (e com aval) das togas da justiça.
É tudo tão surreal que desconfio que devem ter forças sobrenaturais (rs) que de algum modo impedem que ao menos um juiz, um advogado, qualquer um, ciente de tanto absurdo, não conseguir fazer absolutamente nada para mudar o quadro.

O STF, no qual boa parte do povo brasileiro confiava agir imparcialmente, infelizmente, já mostrou seu lado. Na medida que nada faz diante do cenário, só nos resta crer que comunga com o conjunto de fatos que a cada dia nos tornam menores como nação diante de nós mesmos e do mundo.
A queda de ministros, a delação do presidente temporário, provas e mais provas contra partidos e políticos da base do governo usurpador, nada é suficiente para que a justiça tome posição. Ao contrário, a justiça agora quer reabrir inquéritos contra o Lula, que sabemos, é alvo de uma perseguição muito bem articulada com três grandes finalidades: a) desviar o foco dos verdadeiros acusados na Lava Jato (os que devem mais do que imaginamos); b) impedir sua possível candidatura em 2018 (e lógico, desmontar a esquerda no Brasil e na América Latina, já que Lula é o grande símbolo) e c); Acabar com o BRICS que tem efetivamente incomodado os Estados Unidos e o grande capital internacional que vive da exploração dos países mais pobres (sobretudo).

Em meio a essa teia, a mídia tenta blindar o governo interino, negar o golpe e justificar com reportagens confusas, as medidas esdrúxulas em andamento pelo Presidente traidor. O povo, por sua vez (aquela parte que não ‘foge à luta’), em milhares e milhares, vai às ruas, grita FORA TEMER; VOLTA DILMA, mas não tem suas vozes ouvidas, não ganha destaque nos telejornais como ocorreu quando a meia dúzia de dondocas riquinhas de narizes em pé (e brancos) pegou suas panelas inox caras e foi para as janelas de seus também caros apartamentos batê-las (em nome de seus privilégios).
Uma outra parte do povo tenta se mexer nas Universidades, organizações como sindicatos, associações, grupos de jovens, de mulheres, movimentos de negros, índios etc… mas enfrentam a tal da letargia que parece ter se apoderado do Brasil nos colocando como sonâmbulos diante da realidade- sem forças, sem direção, sem ação efetiva.
O problema é que tudo que está acontecendo é real e muito real. Quando sairmos do sonambulismo e nos dermos conta do quanto já perdemos, veremos que passaremos anos e mais anos para retomarmos o rumo da dignidade que nos está sendo roubada em plena luz do dia e diante do mundo.

Por sorte, estes brasileiros de verdade (aqueles que não se vestiram de verde –amarelo para sustentar faixas de ‘SOMOS TODOS CUNHA’), finalmente acordou e vem retomando o grande trabalho de base que tem sido fundamental para o Estado de direito que construímos ao longo da história desse nosso Brasil.
A classe trabalhadora brasileira está atenta, especialmente agora que está provado que o principal argumento do afastamento da Presidente Dilma, as pedaladas fiscais (que só são crimes se praticados por ela, vale lembrar), foi derrubado pela perícia realizada por especialistas do Senado Federal e que finda de vez com o argumento criado pela direita para ‘legalizar’ o golpe.

Se a justiça for feita com retorno devido da presidenta ao cargo para o qual foi eleita com 54 milhões de votos, o Brasil recupera seu lugar na história e vai reconstruir o que em pouco tempo, a direita já conseguiu desfazer. Espera-se que a presidenta retome seu posto, corrija rumos e faça valer a confiança que lhe foi depositada pela segunda vez.

Caso o golpe siga e a justiça se acovarde diante dele, anuncia-se aí uma grande GREVE GERAL que pretende parar o Brasil, tendo em vista a insatisfação crescente do povo com a queda do estado democrático de direito e as investidas ferozes que destroem a classe trabalhadora e são anunciadas a plenos pulmões pelo nada confiável presidente em exercício.
Mas, diferente do conto de Alice (de Lewis Carrol), nós povo do Brasil, não estamos sem rumo. Já experimentamos o que é dignidade e dela não abriremos mão.
Estamos prontos para a luta em defesa da democracia e pelos direitos do povo!

Professora Ivânia Freitas – UNEB- Campus VII – Doutoranda em Educação pela Universidade Federal da Bahia.

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