A solidez dos fatos, dos atos, dos modos, das roupas, das músicas, dos gestos, dos afetos, das relações de trabalho, das organizações, das propostas, das indagações, das sensações, da palavra.
Tudo que pode durar parece ser hoje descartável, evitado, temido. A opção tem sido pelo que Bauman chama de ‘liquidez’ dos tempos. O tempo onde tudo é rápido, não resiste mais do que poucos segundos, poucas horas, poucos dias, poucos anos (quiçá!). É assim com as relações de trabalho; com os objetos que compramos (feitos para durar pouco); com as ‘amizades’ que fazemos; com a economia, com a política…
As relações ‘sólidas’ assustam tanto aos que querem ‘liberdade’ para amar, se apaixonar viver, tão quanto aos que vivem do lucro e dependem da rapidez, da fragilidade da agilidade e flexibilidade para lucrar ainda mais.
Nesse tempo rápido, tempo do ‘não tempo’, viver está difícil (embora sejam mil as possibilidades!). Mesmo que não se precise mais sair de casa para sequer ir ao banco (ele vem até você através do celular), ou paguemos a conta de luz, de água em um ‘clic’; mesmo que possamos enviar flores pela net também parabenizarmos pela passagem dos aniversários ou mesmo confraternizarmos grandes conquistas e ainda,nos solidarizarmos em momentos de dor, tudo é ‘virtual’ (e não menos real)….ainda assim, não há tempo!
Mas assim vamos vivendo e ‘gostando’ dessa loucura por nós criada. Tem gente que nem consegue mais dormir se não ouvir algum tipo de barulho….o silêncio virou algo ‘insuportável’… ensurdecedor.
Nesses tempos fluidos, são ‘velhas’ as músicas com mais de dois anos (pasmem!); as roupas com mais de seis meses de uso; os celulares modelo 1 pois já chegou o 5 nas lojas. Os namoros que duram meio ano são ‘feitos’ importantes a se comemorar (no face);
Tempo da futilidade como princípio de vida; de mentes cheias e corações esvaziados; de amigos incontáveis nas redes sociais e solidões duríssimas da alma.
Tempo onde tudo se mistura e ainda assim, não se supera o preconceito. Tempos de “alegrias tristes”; de insegurança física, espiritual, mental que o conjunto tecnológico de última geração não consegue resolver.
Tempos da busca pela liberdade. Liberdade de ser, de pensar, de agir, de sonhar… de liberdade da palavra. Contudo, tempos confusos, perigosos e contraditórios. Como diz Bauman em “Modernidade Líquida” “por mais livres e voláteis que sejam os “subsistemas” dessa ordem, isoladamente ou em conjunto, o modo como são entretecidos é “rígido, fatal e desprovido de qualquer liberdade de escolha’.
E ele parece estar certo. Grandes corporações controlam as principais marcas de produtos que consumimos desenfreadamente no nosso cotidiano. As dez ‘opções de escolha’, resumem-se, no geral a duas ou três empresas que se ‘camuflam’ com nomes fantasias e limitam nossa liberdade de optar. O mesmo ocorre com os partidos políticos, por exemplo, são várias as siglas e no fundo o mesmo propósito, a mesma filosofia… as mesmas práticas, os mesmos equívocos, as mesmas artimanhas, não há opção. Até pra comprar um sapato tá difícil… é tudo tão igual, tão ‘da moda’ que não há o que escolher como diferente! Se não queremos ouvir a porcaria que toca no rádio ou na TV e mudamos o canal, não tem jeito! Lá está a mesma porcaria de ‘outra’ forma, de outra cor, em outro tom, ou som…
Tudo que dura é intolerável, rejeitado e desprezado… e isso faz muito bem ao mercado, isso faz muito ao bem ao grande capital que se alimenta dessa ‘desordem’ planejada e bem arquitetada sobre e das nossas vidas para nos controlar e nos manter na linha.
Mas, há uma saída?
Penso que, a ‘consciência’ de tais questões é fundamental para construirmos as estratégias para ‘inverter’ a caminhada, mudar a rota, alterar o que precisa ser alterado e construir saídas. Há sempre novos caminhos possíveis e exigem não apenas clareza sobre seus desafios, exige-se, sobretudo, coragem de enfrentamento e ação. Aproveitemos da rapidez dos tempos para mobilizarmos a vida ao nosso favor e agora!
Professora Ivânia Freitas – UNEB- Campus VII – Doutoranda em Educação pela Universidade Federal da Bahia.