“Cantar é fácil, difícil é ficar calada!” – Mulheres se reúnem em encontro para discutir música e emancipação feminina.

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Por Ananda Fonseca

A junção de vários preconceitos vividos pela organizadora, Candyce Duarte, enquanto musicista, como também a percepção da falta de mulheres ocupando os espaços de instrumentistas nas bandas, fez surgir o  evento “Mulher e Música – Empoderamento e Emancipação” que aconteceu na Univasf.

“Um encontro que deveria acontecer semanalmente”, sugeriu Lúcia Costa. Professora de música de Petrolina, dona de uma sabedoria e bom humor que exalam pelos poros, Lúcia é musicista há anos e serve de exemplo e inspiração para as mulheres do Vale do São Francisco. Lúcia foi uma das convidadas para compor a mesa do evento “Mulher e Música – Emancipação e Empoderamento” e, assim como ela, mais cinco mulheres dividiram suas experiências, suas histórias e talentos com o público.

As mulheres, presentes na mesa e como público, musicistas, cantoras, compositoras, pertencentes aos mais diversos campos artísticos, foram a base da discussão. Assim como em todo lugar, dentro do meio artístico, as mulheres sofrem com o machismo e com o preconceito diários ao exercer sua profissão. Profissão? Sim, profissão. Parafraseando Yara Tchê, cantora da banda Desejo de Menina, e Camilla Yasmine, também cantora, as pessoas não conseguem compreender. Se uma artista vive e se sustenta com a música, com a sua voz, esta é a sua profissão. A sociedade como um todo tem essa dificuldade de entender que música exige estudo, esforço e é um trabalho, sim. Talvez por falta de incentivos financeiros na cultura e o estigma da sociedade, quem sabe…

Falando em cultura, Bárbara Cabral, professora do curso de psicologia da Univasf e percussionista no grupo ‘Baque Opará’ (que representa muito bem a cultura popular de Recife/Olinda), falou também sobre a falta de grupos que tocassem samba de côco, maracatu, e, observando essa lacuna, foi criado o Baque Opará na intenção de promover e disseminar a cultura popular do estado de Pernambuco, que poucos petrolinenses conheciam.

“Antigamente, o piano era um instrumento feminino. Assim como bordar, cozinhar e cuidar dos filhos, tocar piano reforçava o estereótipo de mulher ‘prendada'”, disse Sibelle Fonseca. Hoje, mesmo convivendo com o machismo, a cada dia existem mais mulheres baixistas, bateristas, guitarristas, mulheres que esbanjam talento e que se destacam no que fazem, como é o caso das meninas da Banda Lilith, que fez o encerramento do evento, e da baixista e organizadora do evento, Candyce Duarte.

Durante a sua fala, Candyce destacou justamente esse comportamento machista de homens que também pertencem ao meio musical. E sobre isso, é importante observar que a mulher musicista, além de todo o estigma da sociedade em ver uma mulher num meio predominantemente do homem, ainda é vista como um objeto sexual. Se você é mulher e toca algum instrumento ou canta, isso é visto como mais um atrativo e não como uma profissão ou um hobby que você escolheu ou tem aptidão para tal. E no forró, esse comportamento se repete de uma forma mais visível, talvez. Como pontuou Yara, as mulheres que cantam em banda de forró não precisam ter apenas talento. Tem que ter talento, corpo e rosto bonitos, usar uma roupa curta, e isso a torna, mais um vez, um objeto sexual.

“As mulheres que atuam profissionalmente devem buscar a formalização como pessoa jurídica para estarem aptas a participar de eventos públicos, sair do amadorismo e fazer economia criativa.” sugeriu Rozeane Farias, advogada e secretaria executiva da mulher em Petrolina. Nesse sentido, é importante observar também que a maioria das bandas do Vale do São Francisco (amadoras ou não) são compostas por homens. As mulheres precisam ter a ousadia de subir aos palcos! Precisam se formalizar, sim, e lutar por mais espaços que já deveriam existir. Candyce citou uma palavra que pode vir a definir o evento desta segunda: Desdobramentos, que significa a consequência de algum movimento ou ação executada. O “Mulher e Música –  Empoderamento e Emancipação” se ‘desdobrará’ e, com a união de todas essas mulheres com talento de sobra, resultará em surpresas que estão por  vir.

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