Da televisão à internet e os interesses do mercado por Ivânia Freitas

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“Vivemos um período de sincronização de todas as linguagens e de quase todas mídias que já foram inventadas pelo ser humano”.

Essa frase de Lucia Santaella em seu livro – ‘Culturas e Artes do pós Humano: da cultura das mídias à cibercultura’ nos provoca a pensar que vivemos em um tempo ‘incomum’ e fantástico, onde as formas de comunicação mudaram, avançaram, saíram do lugar e modelaram a forma como nos relacionamos no mundo.

Sem dúvidas que essas mudanças não são refletidas pela maior parte de nós, cotidianamente. Mas, sentimos seus efeitos e, de diferentes formas.

Se a televisão nos propiciou inteirados sobre o que se passa no mundo, a internet nos colocou no mundo com um diferencial, o acesso à informação é em múltiplas vezes, maior. Temos autonomia para acessar o que desejamos, diferentemente da televisão que tomava, sozinha, a decisão sobre o que devemos ver, ouvir, gostar, consumir.

A internet quebrou o monopólio do mercado midiático que se concentrou muito na propaganda insistentemente difundida pela televisão que usa como mecanismo de ‘corrupção das nossas mentes’, a ‘imagem’ (articulada com sons e formas) e uma grande repetição, que planta no nosso subconsciente ‘desejos e necessidades’. Quem não se lembra daquele comercial: “compre ‘batom’ seu filho merece ‘batom’”. ?!! Fico pensando em como vendeu a ‘Garoto’ com essa propaganda que era quase um ‘mantra’. Ou quem não comprou, ao menos uma vez, um disco ou CD com as ‘músicas da novela’; ou passou a usar ‘tal’ roupa ou falar de ‘tal’ jeito porque a personagem principal da trama novelística o fazia.

A televisão continua sendo um meio fantástico de acesso ao que se tem para além da nossa ‘aldeia’. No entanto, com o advento da internet e das redes sociais, sobretudo, nos últimos anos, especialmente no caso do Brasil, ela ‘perdeu’ seu lugar como detentora da ‘verdade’ e definidora dos rumos de nossas vidas (finalmente!).

Os tempos da internet nos levaram ao um lugar do qual não voltamos mais. Novas redes, novas linguagens, novas formas comunicativas se estabeleceram e outa forma de ‘consciência de massa’ também. A internet tem seus meios de imposição e talvez, seja pelo fato de abrir tanto espaço para o diverso, o incomum, o visto e o não visto, que resulta em uma mistura que exige muita capacidade de leitura (das entrelinhas desse conjunto) e de seleção do que se quer, devido a tantas opções sobre o que pensar, como agir, o que fazer, o que consumir.

A televisão produziu gentes guiadas; a internet nos dá a possibilidade de nos guiar. Não sei se temos essa condição(…), mas, há a possibilidade. Com a internet temos menos alienação? Mais posição crítica diante do mundo? Não sei… mas, sei que estamos sendo testados no dia a dia. Será que por fim, não é tudo uma grande ‘indústria da consciência”? Pensemos…

O fato é que, hoje o mercado hegemônico da televisão está passando por turbulências. E esse mercado é o grande mercado. O mesmo que limitou as formas de produção musical às grandes empresas e produtoras; que fechou a criação e a difusão cultural no aprisionamento dos direitos autorais; o mesmo mercado que legitimou as grandes marcas que centralizavam a oferta de produtos de todas as ordens…e que podiam pagar ‘caro’ por seus comerciais; o mercado que produziu os grandes artistas e deixou muita gente boa de fora.

O advento da internet, as redes sociais, o youtube, especialmente, criaram outras formas de mercado. Uma lógica mais aberta de onde nascem produtos, produtores, artistas, consumidores e vendedores de todas as partes, de todos os jeitos. E eis aí o fantástico!  Uma produção artesanal feita lá no pé da serra pode ser vendida pra qualquer parte do mundo. Quantos artistas novos e maravilhosos foram revelados pelos vídeos caseiros postados no youtube??? (e ruins também!). Quanta música (!) de partes mais diferentes do mundo, podemos acessar, ouvir e ‘baixar’ e ter pra vida toda em nossos computadores, celulares…!

A internet ‘desarranjou’ e ‘rearranjou’ mercados…abriu o acesso a produtos para além das grandes corporações e agora está tudo alterado e, mesmo que o uso do software livre ainda seja um desafio, há um novo cenário despontando com a cibercultura.

O fato é que se tem muita disponibilização de informação, conhecimentos e produtos, para uma estrutura de mercado que se sustenta via ‘controle’, exclusividade (ou patenteamento) e lucro. Talvez, por esse conjunto de elementos (e outros), é que querem limitar o uso da internet (e é possível que isso passe).

Fiquemos atentos!

Professora Ivânia Freitas – UNEB- Campus VII – Doutoranda em Educação pela Universidade Federal da Bahia.

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