Sobre o Nego D’ água e a Mãe D’água? O Ministério Público de Pernambuco deve ter mais o que fazer

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“A Mãe d’agua, o “Nêgo d’agua” e eu estamos intimados pelo respeitável Ministério Público do Estado de Pernambuco, no dia 29/07 a prestar depoimento no Procedimento Investigatório Criminal (sic). A queixa, baseada em elucubrações de fanáticos religiosos que o respeitável MP aceitou tem por finalidade a retirada das Obras de Arte do espaço público comum a todos: O Rio São Francisco!” Assim se manifestou, na sua página de uma rede social, o escultor juazeirense Lêdo Ivo, intimado a prestar depoimento no dia 29 deste mês no Procedimento Investigatório Criminal de um processo que foi aceito pelo Ministério Público do Estado de Pernambuco.

O MP, Guardião da lei, foi provocado por religiosos que querem a retirada de duas obras de arte lendárias que já fazem parte do cenário das cidades de Juazeiro/BA e Petrolina /PE:

Nas águas petrolinenses do Velho Chico, a Mãe d’água. Na margem juazeirense, o Nego d’água.
A escultura da Mãe d’água foi colocada nas águas do rio São Francisco, em 2012 e logo uma polêmica foi criada, inicialmente, por alguns
legisladores da Câmara de Vereadores de Petrolina, que ganhou eco nas vozes de alguns líderes evangélicos.

Diziam eles, equivocadamente, que a escultura seria uma reverência à Iemanjá, Orixá feminino das religiões Umbanda e Candomblé.
O pobre “Nego d água” entrou na história também, sem que ele sequer lembre algum orixá.

Elucidando os fatos, ou melhor, as lendas, porque conhecimento é o melhor remédio para a ignorância:

“Iara ou Uiara, também referida como “Mãe-d’água”, é uma entidade do folclore brasileiro de uma beleza fascinante. Por ser uma sereia,
enfeitiça os homens facilmente por ter a metade superior de seu corpo com formato de uma linda e sedutora mulher”, segundo informações
populares (disponíveis na internet, para os curiosos), a Mãe d’água não se trata de uma entidade religiosa, a sua figura não possui relação com o mal, com o bem ou com qualquer religião.

E o Nego D’água? O que representa?  “Manifestando-se com suas gargalhadas, preto, careca e mãos e pés de pato, a figura lendária genuína do rio, o Negro D’água, derruba a canoa dos pescadores, se eles se negarem a dar um peixe”, assim se descreve mais uma lenda.
O Negro d’água, assim como a Mãe d’água, são lendas populares, que fazem parte da cultura e identidade de um povo, mais especificamente o povo ribeirinho.

Talvez esta simples explicação convença o fanatismo religioso e seus apoiadores que tanto vem fazendo mal a sociedade mundo a fora. No entanto, se eles se deixam encegueirar, os órgãos da justiça, que não deve ser cega e nem reforçar preconceitos, devem aproveitar este triste episódio para, pedagogicamente, fazê-los entender que as esculturas não possuem ligação com nenhuma religião, mas com a identidade, a cultura, a sensação de pertencimento a um lugar.

A nossa região, tão rica em cultura e folclore sofre hoje o constrangimento causado por uma “paranóia religiosa” de quem insiste em ver o mal em tudo. Lêdo Ivo é do bem. O Nego D’ água e a Mãe D’água, também.

E o Ministério Público de Pernambuco deve ter mais o que fazer.

Uma sugestão ou provocação: Que tal começar a aplicar a lei que trata de construções em áreas de preservação permanente (APP) vigente na legislação brasileira?

Não existem construções irregulares na margem de Petrolina/PE?

E os esgotos despejados no Rio São Francisco?

Isso sim é matéria para um “Procedimento Investigatório Criminal”. Ou não?

3 COMENTÁRIOS

  1. O obscurantismo religioso não pode ser referendado por quem tem a o dever de proteger a lei e o cidadão. O MP pernambucano está pondo lenha na fogueira da nova inquisição. Abaixo o preconceito religioso, viva a cultura popular.

  2. 08-EU SOU O SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura.

    9 Eis que as primeiras coisas já se cumpriram, e as novas eu vos anuncio, e, antes que venham à luz, vo-las faço ouvir. (#Isaías:42; 08-09)

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