
O motorista Reinaldo Sabino também aprovou o sistema rotativo: “Eu concordo com o Zona Azul, porque o centro de Juazeiro estava muito congestionado de carros e agora nós temos lugar pra escolher”.
Esse é o lado positivo do Zona Azul. Inquestionável a mudança no centro da cidade.
Mas… e quem sobrevivia guardando carros, arrumando uma vaga ali e outra acolá, em troca de algum dinheiro para levar pra casa? De que estão vivendo os “flanelinhas”?
Hoje (2), voltamos às ruas para ouvir aqueles que durante anos, de um jeito ou de outro, cumpriram a função de “facilitadores” no trânsito, uma “mão na roda” para os motoristas que precisavam estacionar no centro de Juazeiro/BA.
Na Praça da Bandeira, encontramos Clodoaldo Moreira, 5 anos lavando e guardando carros naquela área. Um trabalho que dividia com mais uns dez flanelinhas, como afirmou Clodoaldo.
“Estamos vivendo pela misericórdia de Deus. Tiraram a única fonte de renda de vários pais de família que sustentavam seus filhos do dinheiro que ganhavam lavando e guardando carros aqui. Depois do Zona Azul, ‘tô’ deixando de tomar café para almoçar. Estamos na dificuldade e até já fizemos um abaixo assinado pedindo socorro ao Ministério Público, na esperança de que vejam nossa situação. A gente vivia do nosso suor, com muita dignidade e a prefeitura não viu o nosso lado, nos deixou a ver navios”, desabafou Clodoaldo, que está recolhendo assinaturas de pessoas da comunidade, em busca de solução para ele e mais cerca de uns 80 flanelinhas que trabalhavam no centro de Juazeiro.
“O certo era ter cadastrado a gente e terem nos dado prioridade. Nós, que já trabalhávamos aqui, ficamos desempregados e merecíamos esta oportunidade”, concluiu Clodoaldo.
Na área bancária, conversamos com Davi Miranda Dias, que também falou dos dias, nada azuis, que vem passando, depois da implantação do Zona Azul
“Quando eu comecei a trabalhar aqui não era nem no tempo do real, era cruzeiro ainda. Agora que os motoristas estão pagando a prefeitura, nós não estamos arrumando nada para levar pra casa. Estamos de braços cruzados. O movimento para nós caiu em torno de 90 por cento. A solução era a prefeitura ter dado prioridade a quem já trabalhava como flanelinha e arrumar trabalho pra gente nesta empresa do Zona Azul. Empregaram outras pessoas e não olharam para nós”, reclamou Davi.
Há mais de 25 anos trabalhando também na área dos bancos, Oséas Dias, faz o seu apelo “Nós somos pais de família. E agora vamos viver de que? Que viesse o Zona Azul, mas que olhassem pra gente e arrumasse nosso lugar nesta empresa. Estamos sendo judiados. Tiraram o pão de nossa boca. Botaram gente nova pra trabalhar aí e nós, que já temos conhecimento do serviço e uma vida toda trabalhando aqui, fomos excluídos. Esperamos uma providência da prefeitura, porque já estamos passando necessidade”, declarou Oséas.
Não questionamos a necessidade e eficácia do sistema rotativo.
Seria por demais leviano afirmar que o Zona Azul não ordenou o infernal centro comercial de Juazeiro.
Mas uma pergunta grita dentro dos flanelinhas e em nós: Onde está a política inclusiva da cidade que “cuida” das pessoas?
Zona Azul
O sistema disponibiliza 1200 vagas, sendo 730 para carros e 470 para motos. O valor para uma hora é de R$1,50 para carros e R$ 0,75 para motos. Os tickets são adquiridos com as monitoras, nos parquímetros, e nas lojas credenciadas. Também foi lançado um aplicativo para pagamento por cartão de crédito.
Quem não realizar o pagamento da taxa será penalizado de acordo com o Código Nacional de Trânsito podendo perder 3 pontos na carteira e pagar uma multa de R$ 53,00
Sibelle Fonseca