Uma em cada quatro mulheres diz ter sofrido abuso no parto. Saiba o que é violência obstétrica com a doutora Fabíola Ribeiro

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Fabíola

Fabíola  Ribeiro, natural de Juazeiro-BA , médica  ginecologista e obstetra. Atua nas cidades de Juazeiro e Petrolina-PE, é engajada nas causas  femininas  e assistência  ao parto humanizado. Atualmente Diretora Medica do Hospital Materno Infantil de Juazeiro e tem sido pioneira na região em  Parto Domiciliar Planejado.

Em mais uma entrevista cedida ao Preto no Branco, ela tirou dúvidas e fez esclarecimentos sobre violência obstétrica. Veja:

Entrevista-Por Yonara Santos

PNB: O que é violência obstétrica?

É a violência que ocorre contra a mulher quando encontra-se no período gestacional, no parto, no pós parto ou em situação de abortamento.
Ocorre por qualquer profissional que esteja na assistência a mulher com um tratamento desumano, com falta de sensibilidade ao processo natural com o parto, transformando em doença, abusando nas intervenções e medicalização; Utilizando palavras desreipetosas, procedimentos proscritos.
Infelizmente muitas mulheres não se reconhecem como vítima de violência obstetrica, por muitas delas acreditarem que o parto é um processo sofrido e, por esta razão, não se surpreendem quando vivenciam uma experiência ruim.

PNB: Quais são as formas mais comuns de violência obstétrica?

# Falta de acolhimento às necessidades e dúvidas da gestante;
# Falas constrangedores à mulher, por sua cor, raça, etnia, idade, escolaridade, religião ou crença, condição socioeconômica, estado civil ou situação conjugal, orientação sexual, número de filhos, etc.;
# Ofensas, humilhações ou xingamentos
# Qualquer ameaças à mulher em caso de não aceitação de algum procedimento;
# Abuso na a realização de episiotomia( corte na vagina) de maneira indiscriminada e sem informação a mulher;
# Infusão venosa para acelerar o trabalho de parto (ocitocina sintética) sem informação e concordância da mulher;
# Realizar procedimentos sem explicação e concordância da paciente;
# Negar o direito ao acompanhante;
# Não permitir que a mulher escolha a posição no momento do parto, manter a mulher amarrada durante o parto;
# Empurrar a barriga da mulher para a saida do bêbe – Manonobra de Kristeller;
# Manter a mulher sem hidratação e alimentação durante todo o trabalho de parto.

PNB: Como e onde a vítima pode denunciar?

Caso se veja como vitima de violência, deve reunir documentos, como cópia do prontuário médico e o cartão de acompanhamento da gestação e realizar a denuncia nos conselhos de classe, entrar com processos judiciais assim como buscar ajuda na Defensoria pública municipal e estadual, no Ministério Público Estadual.

PNB: Alguns parceiros são impedidos de acompanharem suas companheiras na hora do parto. O hospital pode ter uma regra contrária à uma lei?
Toda mulher tem direito a um acompanhante indicado por ela conforme a Lei 11.108/2005.
Isso é um direito no SUS e também em hospitais privados – particulares ou de planos de saúde – por ordem da Agência Nacional de Saúde (RDC 36/2008), não cabendo o argumento de que você deve ir pro hospital público ou pagar a mais para ter esse direito.
Portanto, as unidades hospitalares precisam se adequar, visto que não se discute lei, se cumpre.

PNB: Quando o  “Toque” se torna violência ?

O toque vaginal faz parte do exame físico da mulher em trabalho de parto, o que se considera violência é o excesso da sua realização, repetindo desnecessariamente.

PNB: O que é “manobra de kristeller” e quais os riscos que ela representa para a vida da mulher e da criança?

A manobra de Kristeller, consiste em empurrar a barriga da mulher durante o trabalho de parto, prática desnecessária e prejudical, podendo levar a romper o períneo ou lesão em costela, figado por pressão excessiva. E para os bebês podem ocasionar redução de fluxo de oxigênio podendo levar a lesão cerebral.

PNB: O que é circular de cordão? Nessa situação é necessário uma cesária?

É quando o cordão umbilical se enrola em qualquer parte do bebê, afinal de contas os bebês saudáveis se movimentam dentro do útero e giram para um lado e para o outro, podendo formar e desfazer circulares a qualquer momento.
Não é uma indicação de cesariana, visto que as circulares se desfazem ao nascimento, porém é utilizado como desculpas para indicação desnecessária para parto operatório.

PNB: Há relatos de que mulheres negras são as maiores vítimas da violência obstétrica. Procede?

Sim existe esse relato, pois são as mulheres negras que mais peregrinam na hora do parto, passam maior tempo para serem atendidas, possuem menor tempo de consulta para tirar as dúvidas. Fala- se que 60 % das mulheres que morrem de morte materna são negras.

1 COMENTÁRIO

  1. Ha vinte dois anos atrás passei por esse processo de manobra onde o medico forçou minha barriga pra baixo com o braço pro meu filho nascer esse medico era estupido igual um brutus , resumindo sentia como se tivesse um vazio em meu estomago e descobri uma ulcera e gastrite, ate então eu não sabia dos meus direitos

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