Precisamos falar sobre suicídio, Um grito individual de uma dor coletiva

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O mês de Setembro começou e com ele teve início também a campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, Setembro Amarelo, que tem como objetivo direto alertar a população a respeito da realidade do suicídio no Brasil e no mundo, assim como suas formas de prevenção. 

O movimento acontece durante todo o mês de setembro em todo o mundo desde 2014, por meio de identificação de locais públicos e particulares com a cor amarela e ampla divulgação de informações. Há uma atenção especial no dia 10 de setembro, pois é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.

E para falar sobre o suicídio e as suas formas de prevenção, o Portal Preto no Branco traz um artigo escrito pela jornalista, natural de Juazeiro-BA, Jacqueline Santos.

Precisamos falar sobre suicídio, Um grito individual de uma dor coletiva

 

Por Jacqueline Santos

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“O suicídio é um tabu em nossa sociedade. Trata-se de um tema pouco explorado e que guarda muitos mitos e receios. Falar em morte voluntária suscita questionamentos e dúvidas, pois não estamos acostumados a discuti-la ou vê-la sendo abordada como outros assuntos do nosso cotidiano.

O debate que envolve a morte voluntária passeia por diferentes áreas de estudo. O suicídio envolve questões da psicologia, da medicina, do direito, da religião, da política, da cultura e até mesmo da comunicação. Do ponto de vista histórico, por muito tempo, a morte voluntária foi considerada crime em algumas sociedades, já foi motivo de negação de alguns direitos religiosos e culturais, como funerais, e já foi até alvo de cobrança de multas aos familiares do suicida.

O suicídio, ao longo do tempo, se tornou um mal físico, moral, mental e social cercado por proibições, regras e constrangimentos. Dessa maneira, um tabu se formou em relação ao assunto, onde se evita falar, quase negando a sua existência. O suicídio ultrapassa o campo íntimo quando é tratado como um problema público de saúde. A morte voluntária se tornou um acontecimento, reflexo de um problema social.

Mesmo não fazendo parte das conversas do dia a dia, tanto da sociedade, quanto da imprensa que a pauta, alguns dados mostram que a morte voluntária está fortemente presente em nosso meio. O suicídio é um grave problema de saúde pública. Mais de 800 mil pessoas cometem suicídio por ano, tirar a própria vida já é a segunda principal causa da morte em todo mundo para pessoas de 15 a 29 anos de idade.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a taxa de suicídio entre jovens cresceu 30% em 25 anos no Brasil. Conforme dados de pesquisa da OMS, a média de suicídios nos últimos 50 anos aumentou 60%, em particular, nos países em desenvolvimento como o Brasil. O relatório da OMS afirma ainda que há mais mortes causadas por suicídio do que por guerras e homicídio juntos.

No Brasil, o suicídio é a terceira maior causa de morte entre as pessoas de 15 a 44 anos e entre os jovens de 10 a 24 anos. Os índices de morte voluntária entre os jovens aumentaram tanto que em um terço dos países esta faixa de idade é considerada a de “maior risco”. Estudos realizados pela Organização Mundial de Saúde mostraram, ainda, que os gastos com o suicídio representaram, em 2011, aproximadamente 1,8% do que foi gasto com as doenças no mundo. Para 2020, a perspectiva é um crescimento expressivo, atingindo 2,4% dos gastos.

A morte está em um lugar de subjetividade, das sensibilidades individuais, mas acima de tudo está em meio ao relacionamento entre indivíduo e coletividade. Desta forma, o tabu que envolve a morte voluntária ainda é mais forte na cultura ocidental, que vê a morte como um fracasso, uma perda de cada indivíduo, da família e da sociedade. O suicídio é o fracasso social. O coletivo não conseguiu manter laços com o indivíduo ao ponto de evitar a ruptura, o desligamento, os seus valores estão frágeis. Divulgar e admitir as taxas de morte voluntária é escancarar a fragilidade social.

A mídia, em seu papel de formadora de opinião, possui um caráter de, muitas vezes, ignorar o problema e se isentar da discussão, restringindo-se em algumas exceções. Esse comportamento está alicerçado em uma ideia de contágio. O medo de estimular outras mortes através da divulgação de um suicídio é o argumento mais usado pela mídia para justificar a escassa cobertura do problema.

Um dos argumentos que alimenta o tabu que persiste dentro das redações dos meios de comunicação é que se os jornais publicarem narrativas sobre suicídio as pessoas que estão com algum tipo de problema possam ser contagiadas com a ideia do suicídio. O fato de a mídia optar, por muitas vezes, não dizer nada sobre o assunto, pode nos levar a crer que muito disto se dá pelo fato da mesma não saber como o fazer, ignorando as doenças da sociedade das quais o suicídio é um dos sintomas.

Sabemos que a grande maioria dos suicídios é causada por transtornos mentais. Segundo especialistas, uma das maiores causas de tentativas de suicídio é a depressão. Doenças como essa são pouco compreendidas pela sociedade e até mesmo pelos profissionais da imprensa. Sabendo disso, A OMS e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) possuem cartilhas e manuais que orientam os profissionais da imprensa sobre como abordar e como não abordar o assunto, de maneira que contribua para a prevenção. Esse material está disponível gratuitamente na Internet.  O manual traz esclarecimentos acerca dos transtornos mentais, considerados fatores de risco para o suicídio.

É importante ressaltar que não é que toda pessoa que sofre de transtorno mental irá se matar, ou que toda pessoa que se mata sofre de transtorno mental. Mas, é um fator de risco para o suicídio. As causas de suicídios são mais complexas do que apenas um acontecimento isolado como a perda de um amor, emprego ou outra circunstância, como causas sociais. Porém, pessoas que se mataram apresentaram durante suas vidas sinais de transtornos mentais que, aliados aos problemas cotidianos, podem fazer com que a pessoa prefira dar fim à sua vida. Para a Comissão de Prevenção de Suicídio, “É útil divulgar uma visão abrangente da pessoa falecida, de seus problemas, ao lado de sua luta para superá-los”.

Se a população soubesse mais sobre doenças mentais, seus riscos e seus sinais, muitos diagnósticos seriam detectados e tratados e, consequentemente, muitos suicídios evitados. A informação é a melhor arma para prevenir o suicídio e a mídia precisa se colocar como instrumento. Há uma urgência em combatermos esse problema que é meu, seu, de todo mundo, não podemos nos omitir.

A cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio, isso significa que, possivelmente, enquanto você leu esse texto, cerca de 10 pessoas tiraram suas próprias vidas e é por isso que precisamos falar sobre suicídio”.

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