“Não aceito nenhum tipo de patrulhamento ideológico” diz Márcio Jandir

0

picsart_10-10-09-00-11

Uma semana após as eleições/ 2016, o advogado Márcio Jandir-DEM, que abdicou da candidatura a prefeito de Juazeiro(BA) para apoiar a candidatura de Charles Leão(PPS), falou a reportagem do Portal Preto No Branco sobre campanha eleitoral, atuação da oposição, vitória de Paulo Bomfim- PCdoB , liderança de Isaac Carvalho e ainda sobre as providências que estão sendo tomadas em relação as ameaças sofridas após o pleito, como denunciou o advogado em sua página do Facebook.

ENTREVISTA – Por Sibelle Fonseca

PNB: Esta campanha foi caracterizada por ofensas e ataques pessoais, principalmente, através das redes sociais. Que leitura o Sr. faz deste tipo de comportamento?

M.J: Eu lamento muito o caminho do ataque pessoal. Fui candidato na eleição passada e talvez tenha sido uma das candidaturas de mais alto nível. Nós debatemos ideias, propostas e não vimos ataques e nem ofensas pessoais. Eu acho que quem lidera o processo eleitoral tem que ter a sensibilidade de não acirrar, de não incitar o ódio, a violência, tem que puxar para o caminho do debate, das ideias, das propostas. Assim eu fiz nessa campanha, quando pude intervir para tentar contornar as situações de ataques e agressões. Quem me viu no campo de batalha, me viu com elegância, respeitando todo mundo, cumprimentando as pessoas de qualquer lado que fosse, como fiz na outra campanha de prefeito. Essa violência, esses ataques ocorrem por duas razões: É uma situação que está incrustada na política antiga, que instituiu essa coisa de “brigada”, de incitar, trazer o ódio para a disputa.  E, mais recentemente, motivada pela chamada polarização, que se dá também em nível nacional, provocando debates desgastantes nos últimos períodos antes do impeachment, durante e pós impeachment. Nós aqui também vivemos um reflexo do que aconteceu nessa disputa nacional.

PNB: E que leitura faz do resultado das urnas em Juazeiro?

M.J: O resultado das eleições esse ano confirma um movimento de renovação política que foi iniciado em 2008. Naquela oportunidade, em uma campanha diferenciada, as forças políticas tradicionais foram vencidas e logo em seguida na eleição de 2012, se repetiu com a tentativa mais uma vez de renovação e que se repetiu, novamente, agora, em 2016.  As eleições de 2016 foram fruto daquele momento de 2008, que pedia a renovação política que está em curso. Vejo o resultado como natural, da linha do tempo, consequência de uma expectativa que nasceu em 2008. Acho que esse processo de renovação não pára, não tem como frear e nos próximos anos nós já poderemos estar colhendo frutos desse momento.

PNB: O projeto de união da oposição foi frustrado e , esfacelada, perdeu força. Acha que se houvesse a tão propagada união, a oposição poderia ter vencido o grupo de Isaac Carvalho?

M.J: Eu dizia desde o início que esta possível união era utópica. As três últimas eleições de Juazeiro foram disputadas por três segmentos. Então, já está claro, até pelo tamanho do eleitorado de Juazeiro, que essa polarização é muito difícil de acontecer e precisa ser trabalhada em outros moldes. Se nós tivéssemos uma política plenamente renovada seria possível sim, mas nós ainda temos um resíduo da política passada. As pessoas ainda acreditam que alguém tem voto e o voto é da ocasião. Por exemplo, na ocasião quem leu pesquisas, como nós lemos, viu que nos últimos dias houve uma movimentação muito grande de voto. É aquela história dos sentimentos. O sentimento de quem é pró governo, de quem é contra o governo e tudo gira em torno de como se faz para o governo ganhar, como é que faz para derrubar o governo. Então, aqueles candidatos que vão sendo identificados com a maior possibilidade, nos últimos dias não há tendência muito grande de maior mobilização e de votos. Foi o que aconteceu agora. O projeto de união das oposições de um segmento da oposição, aconteceu. A oposição em Juazeiro teve quase que maciçamente unida com 11, 12, 13 partidos. No outro segmento, uma vertente mais ligada ao projeto hoje do Prefeito de Salvador, ACM Neto, ficamos nós, os Democratas, o PSDB e o PPS no outro flanco. Então, é natural que as coisas tenham se dado assim. A oposição se uniu com o candidato que queria, fez a campanha que queria, sem que ninguém criasse problema nenhum para aquela campanha e o resultado foi esse que aconteceu.

PNB: Planos futuros?

M.J: Não tenho nenhum plano eleitoral em vista, mas estou à disposição sim do meu partido. Já tenho aberto conversas com as pessoas que estão no Democratas comprometidas com o nosso grupo, de fazer uma reorganização do partido, restruturar o partido na sociedade, abrir discussão com os segmentos que não têm participado da discussão, trazer pessoas que estão à disposição de participar do processo político e que, por um motivo ou outro, estão acomodadas. A tendência agora é chamar essas pessoas para participar do processo e fazer com que surjam novas lideranças. O Democratas tem um compromisso com a renovação da política de Juazeiro.

PNB: O senhor se arrepende de ter escolhido apoiar a candidatura de Charles Leão ? Estão lhe imputando alguma culpa pela derrota de Joseph Bandeira?

M.J: Estou muito tranquilo em relação ao apoio que demos ao candidato Charles Leão e a Susana Ramos e agradecido aos dois pelo empenho que tiveram na campanha. Nós estivemos juntos em comemoração depois do resultado da eleição e já conversamos com as lideranças dos partidos, no sentido de firmar um propósito de ir rumo a renovação da política de Juazeiro. O Democratas foi fiel ao propósito firmado. Nós não lamentamos nada e só temos a agradecer aos mais de 23 mil votos que foram dados ao candidato, também apoiado pelo Democratas. Dizer que: nós continuaremos nessa perspectiva de renovar a política de Juazeiro. E quanto a culpar quem ganhou, quem perdeu,  acho que não há responsabilidades. O mais importante são as escolhas que devem ser respeitadas. Eu tomei uma decisão. Sibelle Fonseca, como cidadã, tomou uma decisão. Paulo César Andrade Carvalho, tomou a decisão dele e tantas outras pessoas tomaram suas decisões. Por que vamos punir pessoas pelas decisões que elas tomam se o estado democrático de direito assegura a qualquer cidadão tomar decisões? Em respeito ao direito constitucional, em respeito ao direito das pessoas, em respeito à liberdade das pessoas, não aceito nenhum tipo de patrulhamento ideológico, de preconceito político pela escolha que fiz,  porque eu também não faço isso com ninguém. Eu acho que as pessoas têm que aprender a respeitar o resultado das urnas. Os candidatos estão de parabéns pelo desempenho que tiveram. Foi uma eleição acirrada.  Apequenada, às vezes, pelo nível de acirramento pessoal que se deu, mas acima de tudo as pessoas participaram do processo eleitoral e isso legitimou o resultado. Deu força às pessoas que participaram do pleito. Eu acho que nesse momento o mais importante é a gente poder olhar fraternalmente uns para os outros e contemplar a possibilidade de juntos ajudar essa cidade a melhorar cada vez mais a qualidade de vida das pessoas. Os que estão na situação, os que estão na oposição, os que militam na vida pública têm obrigação de melhorar a qualidade de vida das pessoas que moram nessa cidade.

PNB: Considera que após o resultado das eleições, o atual Prefeito Isaac Carvalho se consagra como líder da política regional, tendo em vista que ele se reelegeu em 2012, fez o seu sucessor em 2016 e ainda saiu vitorioso em outros municípios em que apoiou candidaturas?

M.J: Paulo Bomfim, do PC do B, se consolida sim como uma liderança de um segmento da política de Juazeiro na pessoa do prefeito Isaac Carvalho, que também se consolida não só em Juazeiro, já que conseguiu abrir os braços em toda região, o que foi uma novidade na política de Juazeiro. Por exemplo, a liderança do passado de Juazeiro não conseguiu ter voto em Sobradinho. Então, já há uma regionalização. Juazeiro passa a ocupar espaço regional na política. Do lado contrário ao Prefeito Isaac Carvalho, não há como determinar o surgimento de uma nova liderança, ou falência de lideranças. Na verdade o processo de renovação na oposição ainda não aconteceu. Acho que a partir de agora a gente passa a discutir em outros termos a política de oposição em Juazeiro. Eu acho que a oposição é os partidos, obviamente. O Democratas, o PSDB que pensam em conjunto, devem aí se integrar e pensar num projeto estadual nos próximos dois anos. Obviamente que nessa composição de forças, outras forças serão atraídas e creio que esse deva ser o caminho de uma nova composição de forças em Juazeiro.

PNB: Sobre os ataques , as ameaças que o senhor denunciou que vem sofrendo, o que nos diz ?

M.J: Passada a eleição, a comemoração de quem venceu e a lamentação de quem não venceu, passei a receber conversas em grupos, no facebook, conversas pessoais e áudios de toda sorte, de pessoas que nós acreditávamos ter maturidade, com ameaças veladas de que devem me extirpar, me destruir e de que sou um mal para a política de Juazeiro. Comentários degradantes também contra minha família. Coisas que você escuta estarrecido porque são inverdades e também porque fica claro que se quer arranjar um culpado para uma situação que, se tivessem espelho, poderiam refletir talvez sobre uma verdade inevitável que não quer ser vista. Eu sou apenas um elemento da política de Juazeiro envolvido no processo político. Eu não represento todo o processo político de Juazeiro e, nesse aspecto, as ofensas que me fazem e as tentativas de desqualificação de que eu não tenho força, não tenho poder, que Acm Neto tem que me tirar do Democratas, são incompreensíveis. Eu não entendo a obsessão dessas pessoas. Se elas são de outros partidos, que trabalhem com os seus partidos. Porque irem atrás do meu partido? Da liderança que eu obedeço? Da liderança que eu trato política? O processo político exige que a gente tenha respeito às decisões das lideranças. Eu fui a Salvador e lá disse que nós firmamos aqui um pacto com o PPS, mas que nós obedeceríamos sim o resultado de pesquisas que fossem feitas e indicassem o melhor caminho para Juazeiro. Naquele momento, o melhor caminho foi indicado. Nós aceitaríamos qualquer outro caminho que a nossa liderança tivesse discutido com as forças políticas locais. Quem não cumpriu o acordo, não fomos nós. Nós cumprimos sim o que nós acertamos na reunião que aconteceu em Salvador.
PNB: Quais as providências que serão tomadas?

M.J: Já tomei a decisão com minha família, com os meus colegas advogados que trabalham comigo e nós vamos entrar com as representações criminais devidas contra as pessoas que assumiram essa postura lamentável. Elas vão ter que responder criminalmente. Com isso nós estaremos contribuindo para melhorar a política de Juazeiro. Quem dissemina ódio, quem dissemina violência, quem dissemina ataques pessoais, não pode fazer parte da vida política e civilizada. Repito: podemos debater ideias, mas jamais ofender pessoas. Desafio apontarem uma linha minha escrita, que tenha ofendido o ser humano, vinculado família na situação. Não faço, não faço, não recomendo e não aceito que aliado meu faça também.

DEIXE UMA RESPOSTA

Comentar
Seu nome