O Juiz da Primeira Vara Criminal de Juazeiro, Eduardo Ferreira Padilha, expediu no último dia 13 de março sentença da tentativa de latrocínio contra a Sub Tenente Carla Sena, ocorrida no dia 5 de de outubro do ano passado, próximo a área bancária em Juazeiro(BA). O caso foi julgado em tempo recorde. Em pouco mais de 90 dias, o magistrado condenou os réus numa sentença de 19 páginas.
José Edson Cardeal Magalhães Carvalho Junior, de 20 anos, foi condenado a 22 anos(pena base). Com os atenuantes, deverá cumprir dez anos de prisão. Como o crime de tentativa de latrocínio é equiparado a crime hediondo, ele irá cumprir dois quintos da pena, ou seja, pouco mais de 4 anos em regime fechado.
O outro réu, Manoel Felipe dos Santos Conceição Junior, de 18 anos, também teve 22 anos como pena base e deverá cumprir 13 anos e 4 meses. Destes, 6 anos em regime fechado.
Em entrevista exclusiva ao Preto No Branco, a Sub Tenente Carla Sena falou sobre o dia do crime, a condenação dos réus e ainda sobre sua preocupação com o envolvimento de jovens na criminalidade. Os dois condenados da justiça abordaram a policial quando ela saia de uma agência bancária em Juazeiro(BA) e segundo informações, atiraram na vítima para roubar o seu veículo. A Sub Tenente Carla Sena foi atingida com um tiro na região do ombro Durante o assalto, a policial atingiu um dos acusados na perna. Os dois jovens estão no Conjunto Penitenciário de Juazeiro.
PNB: Qual a sensação quando lembra do momento dá tentativa de latrocínio ?
Sub-Tenente Carla Sena: Ninguém espera ser assaltado. O susto é muito grande. É desesperador, porque você nunca sabe a intenção dos criminosos. A sensação também é de extrema impotência. Mantive o controle e pude me defender. Mas o trauma fica. Por tão pouco, eu poderia ter perdido minha vida. Fica também a sensação de que estes são tempos de banalização da vida.
PNB: Acredita que, por ser mulher, os dois jovens acharam que seria uma “presa” fácil ?
Sub-Tenente Carla Sena: Não tenho dúvida. Até porque em conversas entre os dois, que constam no inquérito policial e nos depoimentos, eles diziam que: “meteriam em uma mulher até de faca”. É senso comum achar que a mulher é vulnerável e incapaz de se defender. Eles também afirmaram que um idoso ou taxista poderiam ser suas vítimas.
PNB: Um dos condenados é filho de um policial militar,colega de corporação da senhora. Como foi lidar com esta situação ?
Sub-Tenente Carla Sena: Foi muito incomodo, vexatório.um misto de vergonha, frustração, compaixão. Mas acima de tudo de reflexão, com a infeliz constatação de que a criminalidade, principalmente envolvendo os jovens, vem ganhando terreno nos diversos espaços da sociedade. A marginalidade a prostituição, o uso e o tráfico de drogas chegaram aos lares de todos nós cidadãos, indistintamente. E isso independente de raça, condição social, status. As famílias precisam fazer uma reflexão sobre o seu papel na formação dos jovens. Precisam discutir em casa sobre os valores morais e ficar mais vigilante quanto ao comportamento dos seus filhos e filhas.
PNB: como mãe o que diria aos pais dos dois jovens?
Sub-Tenente Carla Sena: A eles e a todos os pais, eu diria que realmente, com a inversão de valores que impera hoje na sociedade, com a cultura do consumismo, não está nada fácil educar nossos filhos. O que nos cabe é participar mais, acompanhar a educação deles de perto, observar o comportamento, as companhias, dar limites e disciplina. Dá uma tristeza muito grande ver que os jovens estão perdendo a juventude, a vida e o caminho do bem. Que fora de casa o assedio é muito grande. O acesso as drogas, a promessa de dinheiro fácil, a cultura da violência tem rondado os nossos jovens e é preciso que a família, a sociedade e instituições ajam urgentemente. Que o Estado ofereça, através de políticas públicas, outros caminhos e oportunidades para os jovens.
PNB: Esperava essa sentença judicial?
Sub-Tenente Carla Sena: Eu sempre acreditei na justiça, pois Deus sempre esteve no comando. Desde o momento em que me deu mais uma oportunidade de sobreviver, que me livrou de uma tragédia, que acreditei que a justiça seria feita. Quando olho para meu filho que tanto precisa de mim, agradeço a DEUS por estar viva. E quero também agradecer ao juiz e toda sua equipe, ao MP, que julgaram o caso de acordo com que preceitua o CPP, utilizando o tempo necessário para a devida e efetiva punição dos autores, servindo de exemplo de uma justiça imparcial, justa e célere, para que a sensação de impunidade não incentive o crime e tampouco deixe nas vítimas o sentimento de revolta e impotência.
PNB: Acredita que o fato de ser uma policial tenha pesado para que a justiça fosse tão célere?
Sub-Tenente Carla Sena: De forma alguma. Não houve nenhuma ingerência de quem quer que fosse. Conheci o juiz do caso, no dia do meu depoimento. O que acredito é que este magistrado agiu como todos os profissionais da justiça devem agir. Com celeridade e compromisso. Reconheço que há uma sobrecarga de trabalho e isso compromete o desempenho dos juízes. A falta de estrutura também dificulta. Mas tirando por este caso, em particular, fica a constatação de que é possível fazer justiça e de que precisamos acreditar nas instituições.
PNB: O que diria para os dois jovens?
Sub-Tenente Carla Sena: Que aproveitem o tempo de detenção para refletirem, reconhecerem o erro. Que se arrependam e alimentem os valores mais nobres, que são o amor ao próximo, o respeito à vida das pessoas. Que se reconstruam e saiam deste triste episódio, melhores cidadãos e seres humanos. Que vejam na pena sofrida, uma oportunidade de aprendizado, uma lição e também uma segunda chance para que eles possam conduzir suas vidas com dignidade.