“Não formamos pessoas para agredir as outras”, diz o Comandante Geral da PM/BA sobre tema de Audiência Pública que acontecerá em Juazeiro

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Nilton de Almeida Araújo Fotos: Larissa Mota Calixto e Márcia Guena

Em novembro de 2015 um professor negro da UNIVASF denunciou que fora vítima de violência policial durante uma blitz no bairro Alto do Cruzeiro, em Juazeiro(BA). Em fevereiro de 2017, uma professora negra das redes municipal e estadual e ex presidente do Compir, acusou um pelotão da PM de agredi-la e a sua família, moral e fisicamente, durante o carnaval de Juazeiro.

Professora Neide Tomaz. Foto: Arquivo Pessoal

No sábado de carnaval, fora do circuito da festa, na comunidade rural do Salitre, mais outra ação de violência policial foi denunciada pela União das Associações do Vale do Salitre (UAVS). Segundo a entidade, policiais da Rondesp realizaram abordagens abusivas e arbitrárias contra alguns moradores da comunidade.

José Rosa, presidente do bloco Filhos de Zaze. Foto: Internet

No último mês de março, um ativista cultural negro, morador do bairro Kidé, presidente de um bloco de afoxé e membro do Compir, denunciou que ele e o filho, foram agredidos por policiais da Rondesp, na porta de casa.
O PNB publicou e vem acompanhando todas estas denúncias que foram registradas na Corregedoria do Comando de Policiamento da Regional Norte e também encaminhadas ao Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir) de Juazeiro-BA.

Segundo o CPRN todos estes casos estão sendo apurados pela corregedoria da corporação.

Um ano e cinco meses após denunciar o policial que teria sido o autor da agressão que sofreu quando foi parado por uma blitz da PM, e sem ter conhecimento da aplicação de alguma pena por parte da instituição, o professor Doutor da UNIVASF, Nilton de Almeida Araújo, conversou com nossa reportagem e relatou como foi sua experiência durante a abordagem policial. “Fui agredido, fui algemado, fui preso e isso por um suposto “sorriso irônico”, conforme está no depoimento assinado pelo autor da ação e do comandante da guarnição que me levou. Fui preso por conta “de um sorriso irônico”. Eu fui parado por uma blitz, a poucos metros de minha casa, quando estava indo fazer um pequeno procedimento odontológico. E esclareço que o licenciamento da minha moto estava pago”, relatou o docente.

Durante a entrevista, Nilton fez diversos questionamentos sobre a ação policial.”As perguntas que a população de Juazeiro e região tem que fazer são: por que eu fui parado? Por que eu não pude voltar para casa para pegar o documento e seguir com minha vida? O policial alegava que eu não estava com documento. Mas pelo que sabemos, em casos assim, o veículo que é apreendido. Não é o condutor que vai preso. Inclusive, o que se sabe e é praticado é que quando uma pessoa, eventualmente, esqueceu o documento em casa, é possível que assim que um terceiro traga o documento haja a liberação do veículo. Eu cheguei a dizer aos policias ” Eu moro ali, posso pedir para minha esposa trazer o documento?” Mas o que escutei foi que  estava desacatando o policial. Argumentei com ele que não estava exaltado, nem gritando. E quando eu ia dizendo “bom dia”, levei um tapa no rosto. Então ajeitei meus óculos e perguntei a ele surpreso: “Você me deu um tapa?” Aí ele: “Você tá preso! Algema ele aí, fulano”. Fui algemado. Não foi registrado desacato na delegacia, e sim desobediência. Pelo Ministério Público, em um parecer de 29 de junho do ano passado, não houve desobediência. Em suma, não teve desacato, não teve desobediência e eu sequer fui multado, mas tomei um tapa e fui detido. E eu fui preso em nome de que? Fui preso em nome da arrogância, do despreparo de uma cultura que pensa que nós negros, podemos ser tratados de qualquer forma, sem qualquer consequência e sem responsabilidade. A alegação de prisão “por sorriso irônico” é totalmente ilegal. Posso garantir que eu não tava sorrindo, ironizando ou gostando da situação. Como iria gostar de uma situação de agressão e constrangimento para mim, para minha família e meus vizinhos?”, perguntou.

O professor informou ainda que junto com a Administração Superior da Univasf, entrou com uma ação na corregedoria da PM no dia primeiro de dezembro de 2015 e no Ministério Público no dia nove de dezembro. “O Ministério Público está processando criminalmente o servidor público militar que me agrediu no exercício da função. Lembro que todos os policiais estavam identificados, menos o que me agrediu. Ainda não recebi nenhum comunicado oficial do PM nos últimos meses, nem a universidade recebeu”, afirmou Nilton de Almeida Araújo.

Para discutir Abordagem Policial em Juazeiro, a Comissão Estadual de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa/BA, juntamente com o Compir,  vai realizar amanhã (05), uma Audiência Pública, partir das 9h, no Auditório da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

Comandante Geral da PM Anselmo Brandão. Foto: internet

O Preto No Branco, aproveitando a visita do Comandante Geral da PM Anselmo Brandão, a região Norte, no dia de ontem(4), antecipou o assunto da audiência pública. O Coronel falou sobre abordagem às pessoas negras e garantiu que enviará o ouvidor da PM baiana para participar do evento.”Me reservo informar que as vitimas tenha sido pessoas negras. Primeiro porque não é essa nossa orientação, nem o propósito do nosso comando. Noventa por cento dos nossos policiais são negros. Eu sou negro. Uns dizem que sou pardo, moreno, mas eu sou negro. Digo a sociedade juazeirense que não concordamos, não compactuamos com este tipo de comportamento. Somos duros e adotamos uma política de proximidade com o cidadão.

Para esta audiência, vamos mandar um ouvidor,  que estará assistindo, ouvindo as mensagens e dando respostas. É importante lembrar que nós, policiais, somos seres humanos. A PM é o esteio, o reflexo da sociedade. Se temos policiais que agridem, ou que dizem que agridem, e se for comprovado vamos buscar a materialidade para aplicar sanções, mas se existem alguma agressão, lembro que o policial é povo, ele é tirado do povo. Ele não vem de marte , de outro país, de outro planeta. Não vamos permitir que fatos desta natureza se repitam, mas sempre considerando o princípio do contraditório, porque temos também que assegurar o direito de defesa do policial.

A natureza do nosso trabalho não é fácil. O policial trabalha no dia a dia e tem que saber o limite, até onde vai do uso da força, que muitos interpretam como violência. Afirmo aqui que não tem nenhuma orientação do Comando, nem da PM na sua formação, principalmente, para que policiais saiam agredindo as pessoas, não formamos pessoas para agredir as outras. Somos contra este comportamento”, concluiu o Comandante Geral.

Da Redação Por Sibelle Fonseca

1 COMENTÁRIO

  1. Eu sou branco e ja fui agredido numa blitz só por que procurei a identificaçāo de um PM, ele pergurtou o que eu estava olhando, respondi que estava procurando seu nome, logo em seguida recebi um soco no peito. Eles ficam meia hora fazendo perguntas de todo tipo, com minha moto toda legal, e vc nem ao menos pode olhar na cara deles.

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