Supositório de maconha promete acabar com dor de cólica menstrual

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Todos os meses, sinto como se meu corpo passasse dias armando uma bomba-relógio. No dia em que ela explode na forma de um tecido vascularizado que se despedaça e transborda pelo corpo, preciso correr para cama com meu arsenal de proteção que inclui remédio para cólicas, para dor de cabeça, bolsa de água quente.

Dói tudo, o ventre, a lombar, a cabeça, revira o estômago. É uma sensação triplicada de ressaca.

Quem vive a mesma tortura sabe que a dor pode atingir níveis insuportáveis, como se o útero vivesse momentos de rebelião e objetos pontiagudos fossem lançados aleatoriamente, acertando o baixo ventre com a precisão de um míssil Tomahawk.

Eu tomaria veneno, se dissessem que a dor passaria. Supositório de maconha me pareceu bem mais divertido.

Desde que os efeitos terapêuticos da Cannabis foram comprovados no tratamento de doenças como câncer, Aids, esclerose múltipla e glaucoma, a indústria passou também a focar a pesquisa dos efeitos do THC e do CBD, princípios ativos da Cannabis, em outros problemas de saúde, em cosméticos e em produtos com foco no bem-estar, como banhos de imersão, aromatizadores –esses últimos com o propósito óbvio de deixar o usuário “numa relax, numa tranquila, numa boa”.

No que diz respeito à saúde da mulher, já há alguns produtos desenvolvidos com o uso da Cannabis para aliviar o desconforto causado no ciclo menstrual. Há desde manteiga de cacau comestível e cremes esfoliantes a sais de banho, tudo com maconha na formulação.

ALÍVIO

Na semana passada, ganhei uma caixinha de supositórios vaginais da marca Foria Relief, que prometiam acabar com as cólicas. Li um relato de que o produto demorava para fazer efeito, mas outro que dizia ter sido eficaz em 20 minutos.

O Foria Relief é vendido apenas nos Estados da Califórnia e do Colorado e foi comprado na capital do último, Denver, diretamente de uma prateleira, sem a necessidade de qualquer autorização ou indicação médica. Custa U$ 44 (cerca de R$ 140) a caixinha com quatro supositórios.

Divulgação
O supositório de maconha contra cólicas Foria Relief
O supositório de maconha contra cólicas Foria Relief

Segui as instruções de deitar na cama, com o quadril elevado por um travesseiro, apliquei o supositório na vagina e fiquei olhando para o teto. Pensei em ler um livro, mexer no celular, quem sabe publicar um stories no Instagram #pepekalouca #pepekahigh #pepekaviajandona.

Antes que eu pudesse terminar de pensar na melhor hashtag, a dor começou a diminuir. Olhei no relógio e apenas cinco minutos haviam se passado.

Chequei o site novamente, na seção de perguntas e respostas. O produto é feito com manteiga de cacau, que deixa o produto meio escorregadio e faz lembrar que o pompoarismo tem realmente mil e uma utilidades.

Segundo os pesquisadores, o THC e o CBD presentes na fórmula relaxam a musculatura da região pélvica, que tem o maior número de receptores canabinoides, depois do cérebro, e aliviam a dor.

Devo estar doidona e já não sinto mais nada. Nem 10 minutos e adeus cólicas, dores na lombar, mal-estar. Será que o mundo vai girar quando me levantar, terei um acesso de riso, estou xaropona? Nada. Exatamente como diziam os depoimentos. Em comum, todo mundo satisfeito com o resultado, mas decepcionado porque o supositório vaginal é só medicinal e não dá barato na pepeka.

Funcionou para mim também, mas ainda não tem previsão de venda no Brasil.

SEM CRIVO DA FDA

Mais da metade dos Estados americanos legalizou o uso medicinal da maconha. Apenas em sete ela pode ser usada de forma recreativa, e cada um tem suas próprias leis.

Na Califórnia, é preciso de receita médica, mas, ao andar por Los Angeles, é possível ver placas com anúncios de consultas por U$ 40, o que pode garantir acesso a manipulados ou à erva. No Colorado, onde o uso recreativo também foi liberado, há uma enorme indústria de produtos à base da cannabis crescendo.

O Brasil é um dos países em que o uso medicinal só é autorizado mediante pedidos na Justiça. Em novembro, porém, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou critérios para permitir o registro, a venda e o uso de medicamentos à base de maconha.

O supositório de maconha para aliviar cólicas menstruais, lançado nos EUA, ainda não passou pelo crivo do FDA (agência que regula remédios nos EUA) pela falta de pesquisas que comprovem a sua eficácia e segurança.

Sem esse carimbo, muito médicos americanos são bastante cautelosos em indicar o produto. Os relatos das usuárias, contudo, são em sua maioria positivos.

A empresa afirma ainda que não foram observados efeitos colaterais significativos porque os compostos do supositório agem localmente, diferente do que acontece quando a maconha é inalada ou ingerida.

“O supositório usa o componente da maconha que tem efeito analgésico e cuja eficácia foi comprovada contra a dor em casos de câncer. Ginecologicamente, seria uma alternativa aos analgésicos tradicionais, que podem ter efeitos colaterais, desde que a segurança seja estabelecida em estudos clínicos”, diz Carlos Alberto Petta, presidente da Sociedade Brasileira de Endometriose.

A indicação da dosagem é variável e, segundo o site da empresa, depende da intensidade da dor.

Fumar maconha teria o mesmo efeito? Não. “A concentração dos ativos na fórmula é para efeito analgésico. Além disso, ele é absorvido diretamente na mucosa vaginal e funciona localmente”, diz Petta.

Fonte: Folha de São Paulo

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