Arthur, o anônimo e eu.

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Fui ao concerto de Arthur Moreira Lima e minha alma se sentiu presenteada. Um piano na noite sanfranciscana, gentes a ouvir música clássica e no meio da plateia, um anônimo regia peças de Bach, Chopin e Carlos Gomes.

Os dedos longos de Artur me encantaram, mas as mãos do maestro da rua me surpreenderam e me fizeram pensar no poder que a música tem.

Ela, a música, nos iguala e nos diferencia. E no final de tudo, nos junta no mesmo diapasão. Eu, que nem gosto tanto do clássico, vibrei a cada execução de Arthur. E o morador das ruas “safadonas” me conduziu, ritmado, em cada peça musical.

Ele tinha ritmo e se impôs no ritmo que tinha. Ele tinha bom senso e se impôs no bom senso que teve.

Orquestrou a minha noite de pensamentos. No seu canto, invisível para a maioria, astro, para quem soube percebê-lo,  disse o que a música queria dizer. Foi um instrumento solitário dela, em meio a olhares reprovadores, generosos e inquietos. 

O meu olhar para ele, o maestro, talvez tenha sido o mais inquieto de todos os olhares. Quem é este homem das ruas que tem tanta sensibilidade musical? Qual o nome do “maltrapilho” que ousou aparecer na noite das famílias juazeirenses e roubar a cena? Como ele conseguiu fazer um arremedo bom de regência? Quem é ele? Eu vi aquele “invisível” se sobressair numa clássica noite. E isso me deu ainda mais certeza de que a gente só gosta do que conhece. Do que ouve, vê, sabe e sente. Como não como gostar de Chico se só conheço Wesley? Como gostar de Gil se os alto falantes só me cantam Pablo e congêneres? Fui atrás e descobri que ele se chama Robson.

Uma pessoa em situação de rua que tem mais sensibilidade para a música do que quem está em casa ouvindo o que rege a indústria musical.

Encontrei com Robson dois dias depois, nas ruas, e ele me disse que sabe alguma coisa de “do ré mi fá sol lá si dó”. Lia partitura, o “doidinho”. E eu, que não sei nada disso, li nele o que poderia ler em tantas pessoas que dizem que não gostam da boa música. Não gostam porque não conhecem. Porque não regem a música que desejam e precisam ouvir.

Por isso, eu sou grata a Arthur, o famoso. E também a Robson, o anônimo. Por isso sou, ainda mais, grata a música.

 

1 COMENTÁRIO

  1. Que linda matéria, Sibelle… obrigada por compartilhar conosco!! Emocionante saber que um homem tao simples, tem uma sensibilidade musical excelente !! COMO eu gostaria de saber ler partitura. Deus abençoe à todos. Pena que perdi de ver o Arthur e o Robson juntos!! ♡♡♡♡

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