
Um morador do município de Sobradinho foi atropelado na última sexta-feira(26) e somente no domingo(28) conseguiu uma vaga para ser atendido em uma unidade hospitalar referência da Rede Peba. Mesmo apresentando uma fratura exposta, e com todo esforço da Secretaria Municipal de Saúde, a regulação do paciente não foi possível.
Este paciente é um dos tantos que encontram dificuldades para conseguir a regulação para as unidades especializadas em Juazeiro e Petrolina, conforme assegura a pactuação.
O Secretário de Saúde de Sobradinho conta a rotina de sacrifício que é para encaminhar um usuário da rede “A situação de ortopedia na região é a pior possível, devido a demanda excessiva e a pouca oferta da referida especialidade. Sote e HU, que são as Unidades de referência para Ortopedia, nos finais de semana, principalmente, ficam sem a menor condição de receber pacientes. Com muita insistência conseguimos que este senhor acidentado fizesse um Raio X na Sote e somente três dias depois foi encaminhado para procedimento cirúrgico. Nós sofremos, junto com a família dos pacientes, e nos sentimos impotentes diante da situação caótica do sistema,” desabafou Jailson Silva.
Uma moradora de Casa Nova, sofrendo com um grave problema de saúde, procurou os hospitais de Juazeiro e Petrolina e teve que retornar para o seu município, sem atendimento, porque não havia leito para que ela ficasse internada. “Todos os dias temos pacientes em estado grave no Hospital Municipal de Casa Nova e necessitamos fazer a regulação desses pacientes para hospitais de referência, porém a grande dificuldade é conseguir vagas e somos sabedores da realidade crítica em que se encontram os hospitais de referência, pois até ponto de oxigênio tem faltado. Os culpados não são os médicos responsáveis pela regulação, pois se o cenário é triste para nós, como gestores, para eles não deve ser diferente, pois estamos lidando todos os dias com vidas com riscos eminentes ao óbito.
A situação dos hospitais de referencia, Regional em Juazeiro e Traumas em Petrolina, é ainda pior que a situação dos hospitais municipais. Em Petrolina e Juazeiro falta o básico, desde ponto de oxigênio a medicamentos simples” reforçou a Secretária de Saúde de Casa Nova, Maria de Lourdes Silva Santos.
Esta tem sido a rotina dos 53 municípios baianos e pernambucanos, que fazem parte da Rede de Integração de Saúde do Médio São Francisco, conhecida como rede PEBA. Um sistema que está em colapso e não consegue dar conta das demandas a que se propôs. Os gestores municipais levam a culpa pela falência do sistema e, tão vítimas quanto os pacientes que penam por um atendimento, questionam a estrutura da rede que não vem cumprindo o pacto com as cidades que congrega.
A insatisfação quanto ao funcionamento da rede é geral. Os comunicados para os gestores municipais que solicitam a regulação são sempre assim: “Comunicamos que o HU/Univasf se encontra com sua capacidade operacional extrapolada, sem sequer pontos de O2 para receber pacientes entubados” e “Sala vermelha com 15 pacientes, sem oxigênio, macas e medicamentos”.
As fragilidades do sistema, que não absorve a demanda, são muitas: os parcos recursos destinados aos serviços de urgência e emergência de traumas, a ausência de uma maternidade de baixa complexidade e de outras especialidades médicas, unidades solicitantes sem estrutura, são algumas.
A rede padece de gestão e sobretudo, de compromisso das autoridades estaduais de saúde para que funcione e não mais faça de conta que funciona. Para se ter uma ideia, segundo informações que obtivemos, a última reunião do colegiado da rede Peba, composto pelos secretários de saúde de Juazeiro, Petrolina, Senhor do Bonfim, Ouricuri e Salgueiro e mais uma representação da Univasf, que faz a Cogestão da Rede Peba, aconteceu em 2015.
Uma demonstração de completo descaso na busca de soluções para o grave problema da falta de assistência à saúde, direito garantido por Lei. As deficiências da rede desaguam na Central interestadual de Regulação, responsável pelo atendimento aos 28 municípios baianos e 25 pernambucanos, que perfazem um total de dois milhões de habitantes.
A Central é gerida pelas secretarias estaduais de saúde da Bahia e de Pernambuco e conta apenas com o Hospital Regional, Dom Malan, Hospital Universitário, Promatre e Sote, cada um dentro dos serviços que oferecem ou podem oferecer, já que a demanda é sempre muito maior que as necessidades da população.
A Central de regulação enfrenta a falta de vagas e a fila de espera só aumenta. É uma prática corriqueira fazer o encaminhamento, mesmo sabendo que os hospitais dispõem de “vaga zero”. Isso para os casos gravíssimos. Os demais, ficam sendo protelados para sofrimento dos usuários, que são “devolvidos” para seus municípios.
As unidades de referência estão superlotadas e o sistema falido.
Este debate, de uma forma mais ampla, foi iniciado na última segunda-feira(29) pelo Presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Eures Ribeiro, durante a abertura da 2ª etapa do UPB Debate, que levantou o tema “Novo modelo de pactuação de saúde já!” O Presidente da UPB afirmou: “É hora de, juntos, prefeitos e Ministério Público visitarmos os hospitais regionais na Bahia inteira, para conseguirmos avançar nas questões que envolvem a saúde e evitar que os prefeitos levem a culpa de problemas da alta complexidade, por exemplo, que não é nossa responsabilidade.
Diante do desafio da pactuação da saúde, os prefeitos ficam entre dificuldades impostas pela União, que faz um subfinanciamento e não representa nem 10% do custo que os municípios têm com a saúde, e pelo Estado, que está com diversos repasses em atraso.
No caso da rede PEBA, o sistema está em colapso e não dá mais para ficar na fila de espera para uma solução. É caso de urgência. Urgentíssima!
Da Redação/ Por Sibelle Fonseca
Foto Reprodução
A saúde pública parece um salão de beleza, vive de maquiagem.