Sábado, 10: ‘Aprovado’ homenageia aniversário de João Gilberto em especial

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“Joãozinho era irrequieto. Não que fosse grosseiro. Mudava toda hora ele de lugar, mas não adiantava. Para não prejudicar a escola, tive que falar com a mãe e sugerir que ele e o irmão, Zé Eurico, estudassem comigo. A mãe tirou os dois da escola”, conta a professora Maria de Lourdes Duarte, 99 anos, lembrando das peraltices do aluno João Gilberto, que completa 86 anos no sábado, 10, e ganha do Aprovado o especial João do Barro Vermelho.

O programa visita o povoado de Curaçá e encontra parentes, professores e amigos do papa da Bossa Nova. João Gilberto Prado Pereira de Oliveira nasceu em Juazeiro, distante cerca de 90 km de Curaçá, sede do distrito de Barro Vermelho, onde seus pais moraram e o jovem futuro gênio passava as férias. Os que ainda moram lá lembram da adolescência do artista.

“Tínhamos sempre um bate-bola e João era muito ruim. Só entrava para ser goleiro. Era um perna de pau. Depois a gente tomava banho de rio, mas ele preferia ir tocar violão”, diverte-se Benedito Lima, piloto fluvial aposentado. E como não queria estudar, seu Joviniano, o pai, reclamava. “Vá lá na porta do mercado, que é lugar de cego com violão pedir esmola”, conta Bacurau, como Benedito era chamado.

Era no violão de Dilson Oliveira, músico e primo em terceiro grau, que João Gilberto tocava. “Tocava, mas não fazia essas preparações, esses acordes que ele faz hoje”, lembra. “Ele transformou o samba na batida de Bossa Nova”, orgulha-se Dilson, contando que João só dormia na rede, porque na Fazenda Sítios Novos a cama era apenas para o pai do garoto.

O maestro Fred Dantas acredita que a região sertaneja exerceu forte influência sobre o violonista. “Barro Vermelho era formado por três famílias: Martins, que é a minha, de Dantas Martins, Oliveira, de João, e Coelho, de Adelmário, que também nasceu lá. É uma terra musical”, defende o instrumentista. O forrozeiro e conterrâneo Adelmário Coelho concorda com Dantas e lembra a riqueza cultural de reisados, procissões e da filarmônica local.

A influência da região sertaneja sobre o papa da Bossa Nova é reiterada, também, pelo amigo, músico e compositor juazeirense Maurício Cordeiro. “João ouvia o som das madrugadas, dos tambores do terreiro, dos barqueiros do Rio São Francisco”, lista o conterrâneo, rindo de quando pessoas o chamavam de desafinado e definindo sua obra como um samba sinfônico com jazz. “João é o cara mais afinado do mundo!”, sentencia.

Maurício atribui o comentário ao fato de João Gilberto “desconstruir” a música. “Ele põe a voz onde quer. É um extraterrestre”, brinca. O maestro Fred Dantas emenda: “A arte de João Gilberto é antecipar ou retardar o fraseado musical e as pessoas tentam imitá-lo, mas sem saber voltar”. Discípulo fiel do mestre, Caetano Veloso costuma repetir uma frase célebre: “Melhor do que o silêncio, só João”.

O maestro e instrumentista Tuzé de Abreu já passou muitos dias com João e fez parte de sua banda, inclusive, na famosa turnê em Tóquio, onde o público, de pé, aplaudiu o artista durante longos 25 minutos. “Os japoneses adoram João”, explica. Tuzé faz questão de destacar que o violão de João é fruto de muito trabalho. “É o maior trabalhador que tive notícia. Ele não tem dia nem hora. Estuda nove horas seguidas por dia”, revela.

E não é que, já famoso, João Gilberto apareceu em Juazeiro e procurou a professora Maria de Lourdes? “Ele bateu na janela do escritório onde eu trabalhava e disse: ‘Professora, eu baguncei muito em sua escola’. Eu dei risada e respondi: o tempo passa, Joãozinho, e hoje você é um gênio”. Ao Aprovado, ela faz uma bela observação: “Minha psicologia ou pedagogia não dava para entender aquilo. Aquela energia era a música já fervendo dentro dele e a maneira de ele extravasar”. O especial é sábado, às 8h.

G1

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