Tradição e fé na Umbanda do Sertão

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Os fogos e a chegada dos vaqueiros montados em seus cavalos e vestidos com seus gibões ao entardecer no distrito de Carnaíba do Sertão, anunciava que a festa estava prestes a começar naquela casa. Idosos, jovens, crianças se faziam presentes para celebrar a festa do Boiadeiro. Na cozinha, as mulheres preparavam a refeição que seria servida no jantar para os participantes, pois, a festa iria cruzar a madrugada.

Em frente ao altar, Raimundo, conhecido como Mundinho, se prepara para o ritual. Trajando o vestuário típico de um vaqueiro e com um faixa trazendo o nome Boiadeiro, ele começa a cantar, abrindo os trabalhos com o incenso e a água de cheiro. Os pontos, como são chamadas as músicas da Umbanda, fazem referência a cada momento litúrgico da festa. Seguido por pandeiros, um violão ligado a uma caixa de som e muitas palmas. Mundinho incensa os participantes e todos os locais do centro. Em seguida, as pessoas são aspergidas com alfazema, a água de cheiro.

Com os vaqueiros a frente, carregando uma bandeira, Raimundo, seus filhos e filhas e os visitantes, seguem em procissão até as matas da caatinga. Chegando ao pé de uma árvore acendem as velas, fazem as preces, colocam as oferendas no local. Sete barquinhas com rapadura e coco. Em seguida, entoam pontos ao Boiadeiro, que começa a se manifestar em diversos participantes. Ao anoitecer, todos voltam para o centro, segue uma pausa para o jantar e logo depois recomeça o giro. as pessoas vão caminhando em círculo, batendo palmas e cantando. Reverenciando as entidades, até que elas chegam para dar passe nos participantes. O rito segue até o amanhecer, quando a última corrente, a dos marinheiros, chega. Já havia passado no giro, além dos Boiadeiros, donos da festa, os Preto Velhos, os Êres, Iansã, Yemanjá, Sultão das matas.

Casados há 27 anos, Rosangela Leite e Lidemar Santos, ambos com 44 anos de idade são adeptos da Umbanda. Lidemar lembra que começou a frequentar o centro espírita aos oito anos com a mãe. “Sou médium de irradiação, ou seja, sinto os guias, as entidades, mas não manifesto”, diz. Já Rosangela, participa de centro espírita desde 1991 e a partir de 2013 começou a frequentar a Umbanda. Diferente de Lidemar, Rosangela incorpora desde 1999 e dá passes. “Estava em Salvador, na casa de uma amiga, foi ai que incorporei e desde então cuido de meus guias”, pontua. Por haver muito preconceito com a religião, Rosangela diz que não comenta sobre a Umbanda com todo mundo, somente com pessoas que ela sabe ser do axé ou que são confiáveis. Ela recebe pela linha da direita, as entidades Iansã, Marinheiro, Sultão das Matas, Boiadeiro, Oxum, Ogun Iara, Preta Velha (Vovó) e a Erê Crispina. Pela linha da esquerda, ela recebe a Pomba Gira Maria Padilha e o Exú Caveira.

Larício Lafayete é filho de Rosangela e Lidemar e também participa da Umbanda. Gosta de estudar sobre a temática e cantar os pontos. “Sou muito feliz com a minha religião, sinto uma paz muito grande quando vou ao centro, faço minhas orações, acendo uma luz para meus guias”, revela. Mayara Lafayete é casada com Larício e participa da Umbanda há seis anos. “Eu conheci a umbanda através de uma amiga que já frequentava e que já incorporava as entidades. Foi na realidade uma curiosidade minha de conhecer o que se pregava no centro espírita. Desde a primeira vez que fui já incorporei, porque na casa de minha madrinha onde eu morava já fazia meus banhos e acendia minhas velas”, diz.

A Umbanda nasceu no Rio de Janeiro no início do século XX. Incorpora aspectos do Catolicismo, Espiritismo e Candomblé. É a religião brasileira por excelência. De acordo com dados do IBGE de 2010, há 407.332 membros. Mas diversos membros acreditam que a religião tenha mais adeptos, pois muitos respondem ao censo como sendo Católico ou Espírita, não afirmando sua identidade por medo de represália ou preconceito.

Da Redação por Juliano Ferreira

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