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No dia em que o Rio São Francisco completa 416 anos, músicos, poetas, fotógrafos, produtores audiovisuais, escritores e compositores falam de sua relação com o Rio São Francisco a partir de suas produções artísticas. O Rio São Francisco que é cantado em muitas canções, suas lendas viram livros, filmes, suas histórias de pescadores se espalham através da tradição oral e perpassa gerações. O terceiro fio do cabelo de nossa Senhora, que prende a serpente na Ilha do Fogo pode se soltar a qualquer momento. O Nego D´Água pode despertar sua ira em não ter mais como molhar seus pés sob o escaldante sol juazeirense.
Wilson Duarte, compositor, autor da premiada canção Boato Ribeirinho, fala da necessidade de ações práticas de toda a sociedade em prol do Velho Chico, para além da poesia e das artes produzidas sobre o tema. “Falar do Rio São Francisco é falar de vida, é falar de sobrevivência, é falar do sertanejo de uma região que poderia ser pobre, muito pobre, mas que este rio maravilhoso, este rio de bonança escolheu como caminho pra passar. Então, quando eu penso em Rio São Francisco, eu penso em riqueza, eu penso em pescador, em peixe, em água boa, água doce pra se beber”, diz Wilson.
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Ele ainda completa falando de sua produção artística e a relação com o São Francisco. “A minha poesia e as minhas canções, de quando em vez, escorregam pra esse tema, porque este é um tema que pra mim é muito caro e a gente precisa é sair do papel, do falatório e ir pra prática. Cada um de nós tem um compromisso inestimável com a existência do São Francisco. Como escrevi em uma música que chama-se “Cadê meu rio, cadê?”, imaginar que um dia a gente pode fazer esta pergunta, olhando pro cais, para este leito seco, sem água, esturricado, com o nego d´água olhando pro horizonte completamente fora d´água. Fora da água ele já está, mas a visão ainda alcança o rio, imagina o nego d’água olhando pro vazio, com a ponte presidente dutra desnecessária, porque vai dar pra passar caminhando por baixo. Então a gente tem que sair dessa coisa do falar e do reclamar e ir pra prática mesmo, a sociedade como um todo”, finalizou.
Saiba mais:
O Nego D’Água não está mais na água e revela a situação crítica do Rio São Francisco
Chico Egídio, fotógrafo, produtor cultural e que carrega em sua identidade o nome do Rio, fala da beleza que é o Velho Chico e denuncia a poluição de suas águas pelas empresas. “O rio é essa maravilha de se ver, necessitamos ter mais cuidado com o Velho Chico, e não somente as pessoas, mas também as grandes empresas que poluem suas águas”.
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A professora Antonila da França Cardoso, escritora ribeirinha, membro da Academia Juazeirense de Letras homenageia o Velho Chico com seu poema Rio:
sabe das coisas
porque ele é antigo
e vem de longe
em seu livre correr
de nunca chegar
e seu murmúrio
é pleno de segredos
e mistérios
Que só aos que o amam
se digna revelar.
Osmar Torres, conhecido como Babá, ribeirinho de Curaçá-BA, e defensor do Velho Chico desde a década de 1980, faz uma analogia para falar sobre o rio. “O Rio São Francisco, é como um pai que cuidou de mim, me deu vida, alegria e poesia. Agora, precisa de cuidados para continuar vivo e ser fonte de vida para as futuras gerações”.
Evandro Teixeira, fotógrafo, cujo trabalho no Jornal do Brasil como fotojornalista no período da Ditadura Militar é reconhecido internacionalmente, enviou, a pedido da redação, fotos autorais do Rio São Francisco. “O Rio São Francisco é o rio dos meus sonhos, tenho saudades das minhas andanças no Velho Chico, especialmente nos anos de 1960. Os anos dourados. Lembranças que deixo registradas além da minha memória, nas fotografias que produzi e produzo”.
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Lizandra Martins, fotógrafa, pedagoga e produtora cultural fala de sua relação com o Velho Chico e a fotografia, para ela “fotografar o Velho Chico me fez enxergar suas cores magníficas, ouvir e sentir seus sons, me banhar em cada detalhe de seus movimentos, deixar-me transbordar em seus encantos e perceber o quanto esse rio é poesia e que devemos cuidá-lo como uma joia rara, o nosso rio pede socorro, que possamos ouvir seu grito, agora”, pontuou. Lizandra também nos enviou uma poesia de sua autoria.
“Na primeira vez quase não reparava
Na segunda o balanço das águas já tinha som
O sol refletido nos prédios se tornava uma imensa aquarela
Já conseguia enxergar o menino se banhando na beira…
De agora em diante, já não se distinguia de nada
Pois já tinha se tornado o próprio rio…”
Da Redação por Juliano Ferreira