“Hasta la vista, Manuquinha!”, por Lupeu Lacerda

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A primeira vez que o vi ele balançava os braços feito uma hélice. Já voava, desde aquele tempo. Empunhava a bandeira do verbo falado junto com Miró, e nada era perto nem longe o bastante. De lá pra cá aprendemos a rir de coisas que só gente que escreve ri: morte, vida & severinos que somos. Comparo Manuquinha a um elemental, desses que se gastam por fora, mas que teimam em não envelhecer. As palavras gostavam dele, isso é um fato. Se arrumavam e arranjavam certinhas para se transformar em versos simples, pichados em paredes dos anos oitenta, e estampar camisetas e pequenos cartões, palavras que se enfiavam em caixas de fósforo e em sedas de enrolar sonhos. Tudo nele era palavra. E as palavras gostavam dele.

Ontem me disseram: Manuquinha morreu. E eu fiquei imaginando ele vivo, porque as palavras não morrem. E quando a primeira nave espacial estiver fazendo a travessia desse rio quase seco, em suas placas de metal reluzentes brilharão pequenos poemas desse bardo que era um namorado das palavras. Ontem me disseram que Manuquinha morreu, mas hoje de manhã, saquei a parada dele: ele só se enfiou em uma reticência, de leve, e se eternizou. Manuquinha agora, é puro éter & palavra.

Hasta la vista, poeta. Que a palavra te seja leve. E te leve, de leve, e te deixe aqui, entre um riso e outro de um maluco na beira do rio, olhando o por do sol e cantarolando para uma menina: “eu queria ser você só pra dizer sim”.

Hasta la vista, Manuquinha!

Lupeu Lacerda, escritor, artesão, amigo de Manuca 

Foto: Maíra Lins

2 COMENTÁRIOS

  1. Lupeu poeta, disseste tudo aquilo que todos nós que vivemos a efervescência dos anos oitenta junto com Manuquinha, especialmente naquelas saborosas tardes de quintas feiras, na Praça da Bandeira, gostaria de expressar ao nosso poetinha…carinho e gratidão.❣️❣️

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