Emanuel Gama Almeida era o filho de seu Armando, comerciante local bem sucedido e de Dona Eunice. Assim como os seus irmãos, Armandinho, Abílio, Dudu e Sevé, Tereza e Rosa, ainda na juventude o poeta Manuquinha já pensava em empreender, só que pela palavra.
Após aventuras poéticas por São Paulo, onde morou com Luiz Galvão e Mauriçola (Maurício Dias), Manuca Almeida montou a sua lojinha na praça Imaculada Conceição (Praça da Catedral). Nome melhor não havia: “Entrada do Céu”. Vereador à época, Paulo César de Andrade Carvalho rememora aquele período, quando sua mãe tinha uma loja ao lado do empreendimento poético.
“Ele vendia os artigos com poesia: caixa de fósforo, camisas estampadas com os seus poemas, livros pequenos de poesias, artesanato. Ficou amigo do meu pai e da minha mãe. Era um atrativo para os jovens estudantes, principalmente os de escolas particulares, que os pais tinham um dinheirinho para comprar as confecções de Lu e as artes de Manuca”, conta o radialista.
Mas o poeta-menino, sem aquele ranço dos escritores, era inquieto, escrevia livros de poesias, produzia shows. Também se aventurou na imprensa escrita, lançando com Jurandir Costa o jornal Tecanos, a Técnica dos Anos, que tinha como principal linha editorial a divulgação cultural de Juazeiro e região. E, com o parceiro Naldinho, criou o Movimento Chá das Cinco, que promovia a cultura e também ajudava a vender os produtos da Entrada do Céu.
Ele sempre manteve a tradição de comerciante de sua família. Manuca e sua fiel companheira, a radialista e ex-repórter de TV, Lu Almeida, construíram no seu Quintal, literalmente, a Provedor de ideias, produtora de áudio e vídeo. Juntos, e com outros parceiros, realizaram diversos comerciais para meios de comunicação. Sempre a alegria rodeava o processo criativo. Até mesmo numa situação constrangedora, quando “seqüestrou” uma equipe de guia eleitoral de uma candidato que não o pagou.
“Foi engraçado demais. O pior é que ninguém conseguia ficar com raiva dele, não. Ele virou e disse: ‘Meu irmão, tá todo mundo trancado. Vocês só saem daqui depois que o candidato me pagar. Não sai ninguém. Podem ligar para a família de vocês. Vocês estão presos. Foi muito engraçado. Na verdade, se a gente quisesse sair, sairíamos, mas era tão engraçado que nos deixamos levar por aquele “seqüestro” relembra o radialista Jean Rego.
E o Manuca compositor despertou. Percebeu que seus versos tinham ritmo. Muito cantores e cantoras solicitando canções, mas ele também enviava a alguns, pois não é pecado algum.
Foi gravado de Norte a Sul, e até mesmo fora do país – “Esperando na Janela” tem mais de 500 gravações, inclusive na Europa e Estados Unidos. Ele sempre me dizia: “Oh, Rapha, eu só a tenho a minha palavra para sobreviver, criar minhas filhas …preciso fazer com que ela chegue…” , e chegou.
Muitas foram as suas realizações. Mas, talvez, o Quintal do Poeta seja a maior conquista. Entre plantas, bichos, artes no chão, ou na parede, e um carro antigo de decoração, sob a sombra de um Juazeiro, viveu com Lu, criou as filhas e os netos e abriu as portas para muita gente.
Ali, aconteceram shows, peças, exposições, debates, altas rodadas, biritas … ainda bem que participei de quase tudo. O filho de seu Armando e dona Eunice era além daqui, pois fez da sua loucura e sua palavra um modo de viver a vida, sem o mesmo par-de-meia, sem a caretice dos contratos e padrões sociais.
O empreendedor das palavras agora vai emitir sons e fazer a sua dança, louca, conexa, hipnotizante em outro lugar, que não sei onde é, mas, com certeza, será um bom lugar.
Raphael Leal é jornalista e se aventura também como compositor
Grande menino homem por suas criatividades sempre inovadores. Continue com sua arte aonde for grande artista. Presente vc ficará sempre em Juazeiro. Deus esteja contigo.