Aprendemos que ser mãe é padecer no paraíso. Uma frase que sempre fez menção àquela mulher que saboreava a maternidade como função feminina por excelência e que soava também como um elogio, mas que na verdade nos revela um sofrer, sentir dor e suportar o peso da maternidade. Claro que o paraíso denota a delícia e o prazer de ser mãe, mas também é algo que surge como uma convenção social. Será que tornar-se mãe é o mesmo que aceitar sofrer, ainda que seja no paraíso?
O amor materno sempre esteve ligado a ideia do vínculo instintivo e natural, vivenciado por todas as mulheres que desejassem ser mães, comprometendo por outro lado aquelas que não desejavam ter filhos, o que nos deixa atentos para uma reflexão: seriam essas mulheres menos valorizadas por tal escolha? Já que se trata de algo instintivo, como pode algumas delas não sentirem esse desejo?
Quando observamos esse outro lado, entendemos que a maternidade deve ser distinta da maternagem. A primeira diz respeito à função biológica de ser mãe (gestação propriamente dita) e a segunda implica no afeto e no profundo desejo de cuidar, investir afetivamente nessa relação configurando uma escolha, ou seja, qualquer pessoa que não somente a mulher, pode “maternar” uma criança e qualquer mulher pode ser ou não maternal. A escritora Elisabeth Badinter em seu livro O Mito do Amor Materno lança um novo olhar para esse papel social da mulher. Ela nos revela que esse amor é um sentimento humano como outro qualquer e como tal incerto, frágil e imperfeito. Pode existir ou não, pode aparecer e desaparecer, mostrar-se forte ou frágil e contrariando a crença generalizada em nossos dias, ele não está profundamente inscrito na natureza feminina. Na época em que lançou o livro, a autora recebeu inúmeras críticas, mas hoje a sua contribuição nos leva a perceber os novos formatos familiares e os novos papeis sociais que desempenhamos.
Somos diariamente exigidos em nossas funções, principalmente na função de mãe. Então como criar os filhos emocionalmente saudáveis e ao mesmo tempo garantir vidas e carreiras próprias? Parece algo do universo do inconciliável. Não é por acaso que mães que trabalham fora por opção, sintam-se mais em conflito do que as que não têm outra alternativa. Por este e outros motivos é comum pensarmos no amor materno como algo indefectível, sem falhas e sem erros.
Por outro lado, o exercício da maternidade nos permite considerar que antes de existir a mãe, existe a mulher, que deseja, sonha, faz planos e tem vida própria, na verdade não é o instinto e sim o investimento materno que dá a mulher essa credencial. Sim, são muitas as atribuições configuradas à mulher no seu dia a dia e muitas delas escolhem não exercer esse papel justamente por acreditar que pode fazer esse tipo de escolha.
Indiscutivelmente é um prazer exercer essa função. Ter filhos é muito bom e sem dúvida uma experiência que não se iguala a nenhuma outra. É singular a cada mãe. Mas acreditar que uma mulher pode ser “normal” sem ser mãe, também tem a sua singularidade. Ser mãe é padecer no paraíso? Talvez seja melhor afirmar que o paraíso existe para aquela que é plenamente feliz com as escolhas feitas ao longo da vida.
Luciandra Pinheiro Cabral é Psicanalista com especialização em psicoterapia infantil pelo Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem (CPPL) em Recife
Em suas palavras esta a razão de todas as mães ( ou mulheres ) merecen todo respeito e carinho. Osvaldo Duque Meneses