LGBTfobia: “É horrível viver com medo de ser a próxima vítima”

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(foto: Preto no Branco)

O dia 17 de maio é, para alguns, mais um dia comum. Mas para a comunidade LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis) é um dia de grande representatividade. Nesta quinta-feira diversas atividades e manifestações para fortalecer o combate a violência contra pessoas por identidade de gênero e/ou orientação sexual estão acontecendo no mundo todo.

Considerado, mundialmente, como o Dia Internacional de Combate à Homofobia, Bifobia e Transfobia, o dia foi instituído para marcar a data em que a homossexualidade foi excluída da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), catálogo publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1990.

Mas para os LGBTTs, a exclusão do catálogo e outros direitos conquistados ao longo dos últimos anos ainda não são suficientes para atender aos anseios desse público.

(foto: arquivo pessoal)

Para Mycaella Bezerra, mulher trans, falta, no Brasil, uma lei que puna a LGBTfobia e outra que reconheça a identidade de gênero de travestis e transexuais. A estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) considera a aprovação da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), homologada em 2017 e que proíbe a discussão de gênero nas escolas brasileiras, um retrocesso político.

“Retiraram um dos poucos direitos conquistados. Acredito que é urgente e necessária a discussão de conceitos e termos como “gênero” e “sexualidade” nas escolas. Não se nasce preconceituoso, é algo construído socialmente”, disse a estudante que não esconde seu receio pela violência. “É horrível viver com medo de ser a próxima vítima. Essa é a realidade das pessoas travestis e transexuais no Brasil”, disse Mycaella.

O medo da estudante é reflexo de uma grande problemática social: o ódio e o preconceito contra esse público faz do Brasil, o país que mais mata LGBTs em todo mundo.

De acordo com um relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), entidade que levanta dados sobre assassinatos da população LGBT no Brasil há 38 anos, foram 445 homicídios em 2017. Um aumento de 30% em relação ao ano anterior, que teve 343 casos.

(foto: arquivo pessoal)

Anna França, lésbica e estudante de Jornalismo da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), também tem medo.

“As pessoas precisam entender que não é normal alguém sentir medo por ser o que é, vivendo em vulnerabilidade o tempo inteiro. É muito doloroso saber que muitas de nós estão morrendo a todo o momento no mundo todo”, disse.

Para a estudante, ser lésbica em uma sociedade extremamente LGBTfobica é resistir e lutar contra todo e qualquer preconceito. Ana considera o Dia Internacional de Combate à Homofobia, Bifobia e Transfobia como uma data para lutar contra a invisibilidade.

“É de grande importância o Dia Internacional da LGBTfobia porque precisam nos enxergar e saber que estamos lutando e que nossas vidas importam. Também temos o direito de amar, de sermos vistas, ouvidas e respeitadas”, disse Anna França.

(foto: arquivo pessoal)

Eduardo Rocha, homem trans, acrescenta que deve ser um dia para refletir e repensar conceitos e tabus sobre o tema. Entretanto, para ele, não é um dia para se comemorar.

“Mesmo depois de tantas conquistas a sociedade ainda se fecha para nossa existência e especificidades. Não sou do tipo que comemora muito, mas para mim, enquanto tiver uma pessoa correndo risco de homofobia na rua, é motivo suficiente para continuar a lutar por respeito”, disse.

Eduardo, que é presidente da Associação Sertão LGBT do Vale do São Francisco, também ressaltou o desempenho do núcleo no enfrentamento contra a LGBTfobia em Juazeiro e Petrolina. As principais “armas” usadas pela associação, segundo ele, é o dialogo para o fortalecimento da democracia.

Acreditando na educação como a principal ferramenta para a mudança social, “Dudu”, como é conhecido, atenta para a necessidade de continuar na luta.

“Estamos sempre ocupando espaços de formações para tratar de nossas pautas, na luta pela desconstrução. Acreditamos fortemente que a educação é o caminho para a mudança e o respeito. Quando necessário, vamos ao enfrentamento, mas sempre na base do respeito e esperança. Aproveito o espaço para alertar que mesmo diante de muitas conquistas, ainda há muito que lutar”, disse.

Fragilidade emocional

O preconceito tem se tornado cada vez mais frequente nas relações interpessoais, o que pode gerar como conseqüência a violência psicológica e/ou física. Para Luciandra Pinheiro, psicanalista, em muitos casos, quando não há a aceitação por parte dos pais e familiares mais próximos, gera-se uma fragilidade emocional.

“As consequências disso podem ser devastadoras, desde a perda da autoestima, o surgimento de quadros depressivos e até violência física, culminando inclusive, na perda da vida. São inúmeros os casos de assassinatos e suicídios ocorridos por conta dos efeitos do preconceito”, disse Luciandra.

A psicanalista alerta que é preciso que a família acolha e cumpra com o papel de proteger, aceitar e amar essas pessoas. “É muito triste pensar que na maioria das vezes, o preconceito começa dentro dos núcleos familiares e sendo assim, é impossível não se espalhar pela sociedade como um todo”, completou a psicanalista.

Da Redação por Thiago Santos

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