“Cama compartilhada com os filhos: uma prática saudável?”, por Luciandra Pinheiro

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(foto: arquivo pessoal)

Uma cena que se repete diariamente: a criança na cama dos pais na hora de dormir!A chamada “cama compartilhada” tornou-seum hábito cada vez mais comum entre as famílias e tem provocado grandes discussões a respeito da sua validade. Com o intuito de se resguardarem, os pais usam as mais variadas justificativas, seja por faltarem quartos para abrigar os filhos, a preocupação em deixá-los sozinhos ou a falta dos aparelhos domésticos individuais como ar condicionado e ventiladores.

Estamos falando da hora de dormir, um momento de relaxamento e descanso que precisaser ensinado às nossas crianças desde cedo. Sem dúvida,algumas delas precisam de mais tempo em contato físico, principalmente nos dois primeiros anos de vida onde sentem uma espécie de abandono todas as vezes que se separam dos pais, mas isso deve ser desconstruído paulatinamente.

Há correntes que defendem, mas a grande maioria não vê essa prática com bons olhos, uma vez que se leva em consideração as consequências negativas e os prejuízos para todos os envolvidos. Enfatizando principalmente a intimidade do casal que sofre um impacto, a qualidade ruim do sono que afeta a todos, as crianças que se tornam mais dependentes e inseguras e aquelas que confundem o papel que exercem na família, seja por entenderem que também são figuras de autoridade ou que são detentoras de privilégios que deveriam ser exclusivos dos pais.

O controvertido pediatra espanhol Carlos González afirma que não se ensina ninguém a dormir e que tudo que podemos fazer é criar as condições ideais para que uma criança durma e essas condições podem variar. Ainda segundo ele, não se pode forçar uma autonomia para a criança nesse sentido, somente quando se sentirem preparadas. Mas em qual momento elas estarão preparadas? Como as nossas crianças aprenderão a ter autonomia na hora de dormir se os pais não as ensinarem?

É preciso considerar a necessidade de cada família em compartilhar a cama com suas crianças. Existe uma grande diferença entre os pais que dormem com os filhos por opção e aqueles que o fazem pornão terem outra alternativa. Estes últimos são mais cautelosos e encontram alternativas para fazê-lo, como por exemplo, encontrar um lugar no quarto que a criança possa ocupar sem sera cama do casal.

O processo de separação e de individuação deve ser gradual e praticado por todos os envolvidos, pais (e/ou cuidadores) e suas crianças. É um trabalho em conjunto. Se a criança ainda não dispõe de independência na hora de dormir, isso deve ser construído. Será que os filhos precisam e dependem tanto assim dos pais, ou são os pais que dependem deles ao ponto de não deixá-los sozinhos na hora de dormir? São perguntas que não querem calar, mas que calam, emudecem e desafiam os pais.

Luciandra Pinheiro Cabral é Psicanalista com especialização em psicoterapia infantil pelo Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem (CPPL) em Recife

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