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A Estação Ferroviária de Senhor do Bonfim, a cada junho do ano, se transforma na estação do forró. O trem sai com uma tripulação animada. Passageiros, a grande maioria turistas, fazem um passeio de cerca de 40 minutos ao som de um pé de serra. O ingresso custa apenas dois pacotes de leite. Uma opção cultural e de lazer bem disputada, que faz muita gente enfrentar fila pra trilhar por Bonfim. Isso demonstra uma ação cultural acertada. Os turistas valorizam.
Quem não está valorizando nada a importância deste momento, ao que me pareceu, é o poder público municipal, criador e mantenedor da ideia. Está foi a minha impressão. O lugar não vê uma boa faxina há muito tempo. As teias de aranha aparecem mais que a bela estética das janelas; há poeira impregnada por toda parte, sujeira e pichação denunciam o descaso; vidros quebrados revelam o abandono com o equipamento cultural. Nem nos dias em que ele serve à cidade, é visto, é cuidado.
Na fogueira da negligência, o desrespeito à cultura, aos visitantes e, principalmente, ao povo bonfinense, do lugar que faz o melhor São João da Bahia, dentro do meu conceito.
Amo Senhor do Bonfim. Tenho uma memória afetiva das mais felizes nesta cidade. Vivi muito da minha infância, da minha adolescência nesse lugar de clima gostoso e gente carinhosa. Cidade que tem cheiro de banana da terra e gosto de licor. Tenho familiares e alguns amigos bonfinenses que são da melhor qualidade. Me sinto no direito de falar, então. Agora, talvez, como aquela vizinha próxima, que repara o quintal alheio, quando o seu também está sujo.
Mas eu bem sei das sujeiras do meu quintal. Nele, tantas construções históricas, literalmente culturais, estão jogadas às traças. Como tantas outras deste país a dentro, que não são vistas por gestores obtusos e descansados.
Voltando à Estação de Senhor do Bonfim, eu confesso: não por mim, que me sinto de casa, mas pelos turistas, eu fiquei constrangida. Vi um grupo de fotógrafos profissionais querendo registrar a fachada da construção secular, sem conseguir. Um banheiro químico e sacos de lixo, ficavam bem na entrada. Recepcionando grosseiramente os visitantes.
Ouvi de um deles, bem indignado: “Como botam um banheiro na frente de um lugar como este? Como não limpam, pelo menos uma vez por ano, um lugar com este?”
Compartilhei do mesmo sentimento dele e respondi: “É o trato que damos à cultura do nosso país, meu caro. A cultura sempre fica no quartinho dos fundos. Se espremendo, onde lhe cabe. A cultura que não merece o investimento sequer de alguns baldes d’água, nem que seja no dia de receber os turistas”.
Saímos dali, eu, ele, e não sei quem mais, com uma imagem ruim da gestão.
Da cidade, eu mesma jamais sairei com qualquer impressão que não seja a das casas de Bonfim. Tão organizadas, tão cheirosas, como a da minha tia Nita de Zé Teles da praça Nova do Congresso.
Da Redação por Sibelle Fonseca
Senhor do BONFIM TERRA DE MEU PAI. Passei muitas férias no sítio do meu padrinho nas Grotas do Faleiro (se não me engano é esse nome) se errei peço desculpas.
Excelente reflexão. Tive a mesma impressão. Fiz inúmeras fotos para registrar o momento com minha família, ao mesmo tempo que pensei o quão estava em abandono a estação da leste, onde o bisavô de meus filhos fora chefe de trem…