Sempre Aos Domingos, por Sibelle Fonseca: “Sem querer ofender a mãe de ninguém”

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Graças aos Deuses e Deusas, meus quatro filhos, uma jornalista, um contabilista, uma mestra em psicologia e uma estudante também de psicologia, não apoiam Jair Bolsonaro, o vexame da política brasileira. Muito pelo contrário, ele e elas, os meus filhos, se somam a mim para espalhar onde pudermos que Ele Nunca!

Sem querer ofender a mãe de ninguém, eu me sentiria muito frustrada, caso fosse.

Fui criada e os criei seguindo o princípio da humanidade, de onde advém o respeito, a empatia, a solidariedade, a humildade, a honestidade, o senso de justiça e igualdade, e a máxima valorização da dignidade humana. Foi em um ambiente de amorosidade que eu os criei, com os pais distantes. Nada bélico em nenhum canto, nem em nenhuma palavra. Eu jamais levantei a mão para um deles. Sem autoritarismo, exerci minha autoridade. Nunca fez parte da nossa realidade falar essas coisas de bater, torturar, matar, ostentar, descriminar e desqualificar quem quer que fosse. Na nossa cartilha não tinham as palavras violência, ódio, vingança, superioridade de ninguém em relação a ninguém. E ver as diferenças com naturalidade, era uma escrita grifada em letras garrafais. Ética, uma palavra sublinhada para ser seguida a risca.

Na nossa casa tinham muitos livros, discos, filmes, troca de carinho, afeto, poesia, pipoca, diálogo, Evangelho às segundas-feiras, festas, brincadeiras e muita verdade nas relações. Tinha conversa, conselho, exemplo, antes de tudo. Estabelecemos a cultura da paz, mesmo nos momentos de tensão. E aprendemos a perdoar e jogar amor no mundo.

Quem entrasse na nossa casa, fosse para servir ou ser servido, com ou sem patente, era tratado de forma igual. Os viados, as lésbicas, pessoas de todas as raças, credos e casta social, além dos artistas mais loucos, frequentavam nosso pedaço.

Era obrigação doméstica colaborar com a pessoa que trabalhava na nossa casa e tratar com amor o pedreiro, o garçom, a pessoa em situação de rua, o menino pedinte e tomar partido do mais fraco. Era uma ordem não julgar as pessoas pela aparência, não menosprezar e nem ridicularizar seu ninguém.

Eu investir no ser e fiz enxergá-los ter as coisas através do trabalho digno e não querer levar vantagem em nada, muito menos olhar somente para o próprio umbigo.

Num contexto desse, como poderia eu ter criado alguém que tem como “mito”, um fascista despudorado, desumano, preconceituoso, insolente, desequilibrado e perverso?

Sem querer ofender a mãe de ninguém, eu me sentiria muito frustrada e envergonhada, caso fosse.

Veria que o meu investimento na educação deles teria sido inútil. Que os princípios que passei, foram para o ralo, que os livros que os fiz ler foram letras mortas, que a visão de mundo e humanidade que incuti neles, não deu em nada.

Eu teria fraquejado e fracassado como mãe.

Eu tenho um filho que está analisando o voto a Ciro, uma que votará em Boulos, outra que é Haddad e uma que ainda está decidindo, mas que, certamente, não será no inominável.

Ele e elas sabem a que lado pertencem e, não é o do opressor, seguramente. Antes de votarem em pessoas, votam em uma ideologia. E não é a dos fascistas e odiosos, seguramente.

Outro dia, minha primogênita, que me manda, diariamente, dezenas de coisas reveladoras sobre o mal caratismo do Bolsonaro, com pedidos para que eu compartilhe, ouviu de mim o seguinte comentário: Ei, filha, você tá numa campanha acirrada contra esse senhor, né?

Ao que ela me respondeu: Claro, mãe, é uma questão de moral e humanidade!

Dei um risinho de canto, com aquela sensação boa de missão cumprida. E falei pra mim mesma “Yessss, você criou quatro pessoas do bem! Quatro pessoas ajustadas para construirem um mundo de paz e igualdade! Três moças lindas de esquerda e um rapaz, também de esquerda, que nunca desejou pegar em arma, nem pra brincar de polícia e ladrão.

Minha existência tem valido a pena e eu sou a mãe mais feliz deste mundo.

Sem querer ofender a mãe de ninguém, eu sou!

Sibelle Fonseca é radialista, juazeirense apaixonada, militante do jornalismo, pedagoga, feminista, conselheira da mulher, mãe de quatro filhos, cantora nas horas mais prazerosas, defensora dos direitos humanos e uma amante da vida e de gente.

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