“Minha cidade, meu lugar”, por Maita Assy

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Desde que soube da transmissão comunitária em Juazeiro, uma tristeza profunda vem me acompanhando. Percebi que mais do que a minha vida, ou das pessoas queridas que aqui vivem, como minha mãe bem idosa, eu gosto deste lugar, muito, muito.

Gosto do sol, do calor, da luz, do rio, do cheiro, da paisagem. E gosto imensamente da amorosidade que a vida tem por aqui. A sabedoria das pessoas, o afeto, os francos desafetos me causam admiração.

Mas o que gosto mesmo é da liberdade com que os caminhos são feitos pela vida de cada um. São histórias cheias de passagens sofridas, mas que mostram uma habilidade em cultivar as forças vitais. Aqui se entende o que é alegria e dor. Quando meu filho morreu percebi que ele não era só meu, era dos amigos, dos vizinhos, do futebol, da cidade. Fiquei muito triste, a cidade ficou triste comigo.

Não tenho medo da morte, já passou, mas tenho vontade de viver mais e mais. Se não der, paciência, uma vida inteira já tive. Mas não me imagino sobrevivendo a Juazeiro. Tenho medo de que uma tragédia seja fatal para o lugar.

A morte pela pandemia não deve ser a mesma em todo lugar. Na Itália uma coisa, em São Paulo outra. Aqui sofreremos todos a mesma morte.

Por nós, vamos ficar em casa, proteger mais do que estamos fazendo, cuidar de um por um que aqui vive. Por nós.

Muita gente está precisando do dinheiro do governo, precisa se inscrever no Cadastro Único, os pequenos comerciantes precisam de apoio, de informações claras e transparentes, os profissionais de saúde precisam equipamentos e proteção…

Precisamos adiar essa pandemia ao máximo. É isso o que importa agora, depois a gente vai se reerguer.

 

Mayta Assy é professora da Universidade do Estado da Bahia.

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