“A ‘bença’, Doutor Flávio!”, por Ângelo Roncalli

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(foto: reprodução/internet)

Juazeiro é uma cidade do interior. Mesmo que cresça, que a população aumente, ou que haja asfalto nas ruas, Juazeiro sempre será – sempre será – uma cidade do interior.

E como todas e quaisquer cidades do interior, seus filhos mais conhecidos são sempre rotulados, com as características mais peculiares próprias ou inventadas, pois o povo é “inventador” de coisas, e se você mora em Juazeiro, você sempre terá um rótulo.

Quando tive a oportunidade de conhecer pessoalmente Flávio Luiz, há cerca de 12 anos, por conta da minha atuação profissional, eu naturalmente sabia quem ele era, o empresário, o homem público, o articulador político, e etc.

Juazeiro, quando eu era criança, era a Juazeiro das pessoas com sobrenome de famílias tradicionais. Era como se o sobrenome definisse tudo. Da mirra, ouro e incenso no nascimento até o título de “Doutor” e a perpétua devoção e clemência na vida adulta.

Muitos em Juazeiro, se valem, até hoje, dos sobrenomes que brilharam no passado para reinvidicar suas falidas glórias, suas deprimentes incapacidades, suas burrices antológicas.

A maioria dos sobrenomes dos ricos da minha infância hoje não passam de alegoria do contar de uma história, por muitas vezes, decadente.

Quando fui me reunir com Flávio Luiz pela primeira vez, me “orientaram” a chamá-lo por “Doutor Flávio”.

No nosso primeiro contato, a primeira pergunta que fiz a ele, foi se ele gostaria que eu o chamasse assim – de Doutror. Ele riu. Riu uma risada gostosa. Ficamos amigos ali. Flávio não era do rol dos idiotas. Ele tinha uma inteligência fina.

Sempre que estivemos juntos, ele contava histórias maravilhosas, incríveis, ricas em detalhes e num senso de humor peculiar. Seu tratar, comigo, sempre foi de uma gentileza e admiração recíproca.
Ele sabia que eu não gostava de falar de política, mas gostava da história de Juazeiro e sobretudo de projetar o futuro. Sempre falávamos sobre coisas assim.

Através dele conheci Daniel Ribeiro, seu filho, um advogado brilhante, de quem sou amigo até hoje.

Eu tinha um ritual com Flávio. Toda vez que eu o encontrava no shopping em Petrolina, tomando o café com os amigos, naquela rodada, eu me aproximava, e falava alto: “ – Com licença Senhores ! Mas quero pedir a “bença” a meu professor DOUTOR FLÁVIO LUIZ !”. Ele levantava sorrindo, me dava a “bença”, me abraçava e dizia no meu ouvido: – você é um sacana !

Fiz isso várias vezes. Era divertido. Ele sabia que era uma brincadeira. Mas que havia ali a verdade de um gesto de carinho. Que eu gostava dele de verdade. Sem centelhas políticas.

Estou muito triste com o falecimento dele. Pena não ter um foto junto com ele. Vou sentir falta de não pedir mais a “bença” a ele, de ouvir sua risada “sacana”.

Flávio Luiz é um dos últimos da geração dele, em Juazeiro, por quem eu mantenho/mantinha admiração, carinho, respeito e este tom de não-chatice.

A “bença” Doutor Flávio!

Ângelo Roncalli

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