“Bestializados ou bilontras? Uma história que se repete como tragédia (ou como farsa)?”, por Ramon Ranieri

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(foto: arquivo pessoal)

Muita gente culpou o povo pelo desastre eleitoral da esquerda brasileira nas eleições de 2020.

Os chavões e chavecos de quase sempre estavam presentes na ponta dos dedos dos especialistas de partido, dos especialistas de universidade e dos especialistas twiteiros e facebokeanos – como eu.

Passei a tarde da segunda pensando: Rapaz, alguém tem que defender o povo! Bobo eu. O povo mesmo se defende e mais que isso, às vezes, manda recado desaforado como mandou no último domingo.

Aí, lembrei-me da obra de José Murilo de Carvalho “Os Bestializados – Rio de Janeiro e a República que Não Foi”. Nela, o Imortal analisa a relação da sociedade carioca com os novos arranjos sociais provenientes da abolição da escravatura e da proclamação da República. Dentre outros aspectos, o autor faz uma rica abordagem sobre o comportamento dos diversos espectros sociais perante o novo regime politico (a república) e a ideia (novíssima) de cidadania.

O povo é passivo! O povo é ignorante! O povo é bestializado! Eram exclamações da época. E pior “ O Brasil é um País órfão, não tem povo” cita José Murilo de Carvalho uma exclamação do Francês Louis Couty. Bem, para resumi o papo, cortem para o capitulo V.

Na verdade, “bestializado era quem levasse a política a sério”. A turma logo percebeu que para a população mais pobre, a vida não mudaria muito, mesmo com o novo Regime Politico. Então o povo acusado de inconsciência dos direitos e deveres, reagiu de forma inesperada, criou suas próprias formas de organização social e politica, pois não se reconhecia na República e por isso não fazia sentido participar.

Quando vejo culparem o povo por um resultado eleitoral indesejado, muitas vezes, imputando uma suposta ignorância, eu lembro do capitulo V deste livro. Ora, mas isso é só um capitulo de um livro de historia, dizem até que brasileiro não gosta muito de historia. O problema é que ela tende a se repetir como tragédia ou como farsa. Disse Marx em “O 18 Brumário de Luís Bonaparte” e não é que o velho barbudo mais uma vez está certo.

Dentre os chavões que li esses dois dias é campeão o que diz que a esquerda precisa se reinventar. Acho que a esquerda precisa ser de esquerda. Construir pela base. Afinal de contas, O povo é bilontra (malandro), ou se reconhece ou não participa.

Ramon Raniere Braz, ativista cultural e militante das causas justas da vida

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