O homem refugiar-se na má fé como ato de mentir para si mesmo, mas um mentir que não comporta a dualidade do enganador e do enganado, pois, aqui, aquele que é enganado é também consciente da verdade que deseja suprimir.
A má-fé tem por sua natureza mesma a característica de negar a condição de liberdade do indivíduo um processo de constante e frustrado esforço, para fugir de algo que se faz presente na própria consciência, para isso é necessário que se pense constantemente nesse algo mais, isto é, o projeto da má-fé consiste em encarar certo aspecto como um ato do homem mentir para si mesmo.
A má-fé pode ser compreendia como a tentativa de transferir responsabilidades que concernem unicamente ao indivíduo; ou seja, negar a condição de liberdade humana ao atribuir coisas exclusivamente a fatores sociais, metafísicos, históricos ou até inconscientes o fundamento e as responsabilidades de sua escolha, quando o indivíduo se encontra no estado de má-fé, tais fatores exercem influência na sua decisão ao determinarem as possibilidades da escolha; contudo, cabe somente a ele optar, por meio de sua total responsabilidade por qual possibilidade lhe é mais coerente.
Contudo, não há determinismos que possam eximir o homem da sua condição ontológica de liberdade acompanhada do sentimento de angústia provocada pela responsabilidade que a liberdade carrega consigo, porém, o homem refugia-se na má-fé, como o ato de mentir para si mesmo, mas um mentir que não comporta a dualidade do enganador e do enganado, pois, aqui, aquele que é enganado é também consciente da verdade que deseja suprimir.
Diante dessa constante tarefa de fazer-se, do desamparo, da falta de fundamentos prontos e da responsabilidade que carrega diante de si e da humanidade, a liberdade traz ao sujeito a angústia existencial, a qual emerge diante da responsabilidade da decisão acompanhada do sentimento da angústia, pois não é capaz de alterar as condições de existência que se lhe apresentam, tendo de escolher, por vezes, entre o ruim e o pior e tendo de arcar com as consequências dessa escolha; mais que isso, também não é capaz de não realizar essa escolha; e por fim, tem a incontornável tarefa de buscar, em sua subjetividade imanente de Deus, ou seja, na sua pura liberdade, os princípios que regerão sua escolha; isto é, terá de estar diante de seu próprio nada; eis o princípio da angústia.
Desse modo, o ser humano, fundamentando-se na sua estrita liberdade, vê-se a todo instante compelido a se inventar, posto que sejam suas escolhas que constroem a sua essência. Diante desta condição, cabe somente a ele estabelecer, através de suas ações concretas, os critérios que servirão para dar sentido à vida que temos vivido assim como ela se nos apresenta no mundo. Tais fatores implicam em influenciar na sua decisão ao determinarem as possibilidades de escolha; contudo, cabe somente a ele optar, por meio de sua liberdade, por qual possibilidade lhe é mais adequado. Diante da condição de liberdade, não há como fugir; só há espaço para a subjetividade do sujeito, ou seja, para o seu próprio nada de ser, qualquer tentativa de preencher este espaço vazio será aqui denominada de má-fé.
É como em uma canção dos Engenheiros do Hawaii
Somos quem podemos ser
Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos às vezes erram a direção
E tudo ficou tão claro
Um intervalo na escuridão
Uma estrela de brilho raro
Um disparo para um coração
A vida imita o vídeo
Garotos inventam um novo inglês
Vivendo num país sedento
Um momento de embriaguez
Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter
Um dia me disseram
Quem eram os donos da situação
Sem querer eles me deram
As chaves que abrem essa prisão
E tudo ficou tão claro
O que era raro ficou comum
Como um dia depois do outro
Como um dia, um dia comum
A vida imita o vídeo
Garotos inventam um novo inglês
Vivendo num país sonolento
Um momento de embriaguez
Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter (E teremos!)
Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Sem querer eles me deram
As chaves que abrem essa prisão
Quem ocupa o trono tem culpa
Quem oculta o crime também
Quem duvida da vida tem culpa
Quem evita a dúvida também tem
Também tem
Também tem
Nós todos temos um pouco de culpa
Mas nós…
Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter.
Humberto Gonzaga é graduado em Filosofia pela UFPI