Ailton Nery estreia como documentarista e tema provocador, por Raphael Leal

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Após quase 30 anos dedicados à comunicação social, formado no Setor Diocesano de Comunicação (Sedica), que também formou diversos outros comunicadores, Ailton Nery estreou como documentarista. Estimulado pela Lei Paulo Gustavo, o seu filme foi exibido nesta quinta-feira (4/7), no Centro de Cultura João Gilberto, onde estão sendo apresentados em uma espécie de Festival, que, mesmo no improviso para que o município realizasse algo “cultural” no período de aniversário da cidade, tem sido um momento importante.

Com roteiro de Hertz Félix, “Pelo Sinal da Cruz: Amém” lança um debate sobre este símbolo milenar, que faz parte de várias culturas e, atualmente, muito associada ao cristianismo.

Diversos depoimentos, desde anônimos a representantes religiosos, relatam as suas experiências com este símbolo e a sua transformação de significados ao longo dos séculos, como a representação da opressão pelos sociedades europeias, a ressignificação quando utilizada na “domesticação” dos indígenas, adornação do símbolo opressor, com a inserção de outros elementos como pedras preciosas, à forma de conforto espiritual na lembrança do “salvador” Jesus Cristo, que foi morto pelo império romano cravado em uma espécie de “poste”, como bem lembrou o professor Pinzoh, mas que se tornou Cruz, e depois crucifixo.

Ailton Nery circulou por caminhos interessantes, opiniões diversas e encontrou um fio condutor para provocar o debate, como é tradição dos grandes documentaristas, a exemplo do brasileiro Eduardo Coutinho e o americano Michael Moore. Escolheu bem os entrevistados especialistas e deixou no ar a questão a respeito do uso do sinal da Cruz, desde o “em nome do pai, filho e espírito santo” àquelas cruzes de beira de estrada, que demarcam algum acontecido, ou acidente, naquele local.

Eu achei um bom documentário. A pitada jornalística da experiência nas redações de TV também contribuiu para o resultado final. Talvez, por isto tenha optado por uma “repórter”. Com todo respeito à profissional, eu acredito que não havia necessidade daquele elemento no documentário, embora não comprometa na finalização do produto. Para mim, só uma questão de estética, mas foi uma escolha do diretor. Chama a atenção, sobretudo, o viés crítico do diretor, homem negro que reconhece a opressão, e trouxe dois personagens importantes para dar seu testemunho, como mãe Adelaide Rosa e o povo Tumbalalá. Suas falas e vivências são críticas e de uma sabedoria singular, e enriqueceram o doc.

Após uma noite de boas apresentações culturais, vamos acompanhando os produtos dos projetos contemplados na Lei Paulo Gustavo municipal. Dos agraciados de longa-metragem, até o momento, somente três apresentaram os seus produtos. A Secretaria de Cultura informa à todo instante que, desde dezembro de 2023, os recursos foram pagos. Cada trabalho recebeu cerca de 48 mil reais. Onde estão as obras? Estamos atentos.

Raphael Leal, jornalista

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