“Carnaval em Juazeiro 2025: Entre a Celebração e a Reconstrução”, por Ramon Raniere Braz

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A expectativa sobre a realização ou não do Carnaval de 2025 em Juazeiro-BA ultrapassa os limites de uma simples decisão administrativa. A cidade, profundamente impactada por anos de má gestão, encontra-se em um estado de calamidade que exige respostas urgentes para manutenção do funcionamento pleno dos serviços públicos. Diante desse cenário, a realização da maior festa popular da cidade se transforma em uma escolha carregada de implicações.

Pois bem, começo ponderando que não devemos ceder ao discurso simplista de que os recursos públicos destinados às atividades culturais representam apenas gastos. Enveredar por esse caminho equivale a desconsiderar a relevância de um setor econômico de importância inegável, tratando-o como um fardo desnecessário. É essa visão estreita que move aqueles que, em sua amargura crônica, atacam as políticas culturais de fomento, especialmente as de incentivo fiscal, como a Lei Rouanet.

Em segundo lugar, é preciso considerar que eventos como o Carnaval representam também uma oportunidade de movimentação econômica, fundamental para artistas, vendedores ambulantes, comerciantes e muitos outros trabalhadores que dependem dessa época do ano para garantir o sustento. Estes atores sociais, fazem supermercado, pagam boletos, e principalmente, pagam impostos municipais através dos serviços que executam e consomem. Suspender a festa pode significar uma perda significativa para esses grupos.

Assim, o carnaval é capaz de catalizar de forma consistente arrecadação para os cofres públicos, graças à ampla movimentação econômica que pode gerar. Pois impulsiona setores como hotelaria, transporte, alimentação e comércio. Portanto, está bem distante de ser um mero gasto.

O “xis” da questão é que organização do Carnaval exige um grande investimento por parte dos governos, e nem sempre a arrecadação gerada pela festa é suficiente para cobrir todos os custos. Isso ocorre geralmente porque seus impactos são complexos e variam de acordo com diversos fatores, principalmente a forma como o evento é organizado, a infraestrutura local e a capacidade de gestão dos governos. Nesses aspectos temos errado feio.

Não se pode ignorar o contexto de calamidade. A cidade enfrenta problemas estruturais que foram negligenciados e agravados ao longo dos anos. Um cenário de serviços públicos sucateados colocam em xeque qualquer decisão que direcione recursos públicos para uma festa, por mais simbólica e importante que ela seja. Em meio a tanta vulnerabilidade, a realização do Carnaval pode ser vista como um gesto de insensibilidade ou falta de prioridade, afastando a gestão pública de sua obrigação de atender às demandas mais urgentes da população.

Embora o Carnaval de Juazeiro seja uma tradição centenária, ainda não se conhece com precisão o impacto econômico e social que ele gera como acontece em outras cidades.

Sabe-se que é uma festa que exige investimentos volumosos. Mas, quanto ela realmente retorna em benefícios para a cidade? Métricas como o aumento na arrecadação de impostos, a criação de postos de trabalho diretos e indiretos, o fluxo turístico, o impacto no comércio local, a produção de resíduos sólidos e seu destino final, o impacto econômico para os catadores de materiais recicláveis, como as latinhas, poderiam subsidiar a gestão municipal na tomada de decisão. Com toda certeza, a solução não está em escolhas extremas, mas na capacidade de reimaginar o Carnaval. Aproveitar a oportunidade do debate público posto e  pensar estratégias de captação de recursos, no papel da iniciativa privada que também ganha com a realização da festa. Mas, isso demanda tempo, um tempo precioso que a atual gestão não teve nesse início de governo.

Independentemente da decisão, o Carnaval de 2025 será lembrado como um marco na história da cidade. Se for realizado, terá que carregar a responsabilidade de ser uma celebração consciente, que acolha o espírito de solidariedade e reconstrução. Se for suspenso, será em nome de um compromisso maior com o futuro de Juazeiro.

Ramon Raniere Braz/ Graduado em Produção Cultural/Especialista em Gestão Pública/Discente do Programa de Pós-Graduação em Política e Gestão Cultural da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB

10 COMENTÁRIOS

  1. Eu penso que se houver o Carnaval, teremos muitos problemas, Ex.: Locais para o trios ficarem, deslocamento dos mesmos pelas ruas de Juazeiro, já que temos uma grande obra em curso, problemas internos na cidade, como esgotos estourados, ruas mal iluminadas, vários buracos pela cidade, necessidade de reposição das placas das calçadas da Orla que estão muito desgastadas e há o risco de acontecer acidentes graves naquele local, os transtornos causados pelas chuvas. A população de Juazeiro não pode se ater somente à festas, isso pode ser feito depois! Precisamos pensar mais na nossa cidade, espero que um dia os políticos matuto ou espertos daqui caiam na real!

  2. Diante do estado de emergência em que se encontra o município de juazeiro/BA., especialmente quanto aos serviços públicos imprescindíveis a população, salvo o patrocinio do governo do estado e da iniciativa privada, em PPP, no planejamento, organização e realização da referida festa popular, o Carnaval, o Município de Juazeiro/BA, deve abster-se da festa por esse ano, para arrumar a casa juazeirense e sua população!
    O novo governo não deve perder o caráter de seriedade, responsabilidade, ética, compromisso e de esperança que plantou no imaginario juazeirense. Os desafios estão postos, explícitos…Sucesso prefeito

  3. Opinião de um cidadão juazeirense: cancelem esse carnaval, coloquem a cidade no rumo correto e no mês de julho, já com as coisas “arrumadas” façam um carnaval fora de época, durante o aniversário da cidade.

  4. Só quem não tem senso crítico acredita nisso. Um governo falido saiu e outro chegando. A esquerda na cidade nunca ajudou e não seria apenas agora que faria melhor que os outros anos. Não tem um só político que preste.

  5. O carnaval de Juazeiro poderá ser feito em uma outra data como aniversário da cidade ou no próximo ano porque a prefeitura está um caos a ex-prefeita só deixou débito e não é justo fazer um carnaval enquanto os funcionários estão com seu salário ainda atrasado alguma secretaria tenho certeza que o nosso prefeito Andrei saberá tomar uma decisão sábia para nossa cidade.

  6. Vim a juazeiro a cidade estar acabada, uma desordem total no trânsito, mesmo assim instalaram um fotossenssor nessas vias intransitável, cheia de buracoS, o juazerense sofre, com a incapacidade dos gestores de resolverem esse problema.festa pra que ? Carnaval pra que ?

  7. É uma encruzilhada na qual o novo governo tem que fazer sua escolha. Há quem seja contra, em nome da recuperação das receitas do município e, existem aqueles que desejam a festa, não apenas pelo aspecto momesco mas, pela injeção de recursos na economia local, sabe-se que parte do custeio da festa não são apenas do município , creio que parte dela virá dos órgãos de incentivo ao turismo do governo do estado. De QQ forma, somente os nossos governantes poderão encontrar o caminho certo nesse encruzilhada.

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