“Por que silenciaram o Hino ao 2 de Julho?” por Leonnardo Araújo, Professor

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Nasce o sol a 2 de julho, brilha mais que no primeiro… Mas por muito tempo, essa luz ficou ofuscada.

Durante anos, gerações inteiras passaram pelas escolas da Bahia sem sequer ouvir ou cantar o Hino ao 2 de Julho. Um hino que não apenas celebra a independência da Bahia, mas que ousa, em sua poesia e melodia, denunciar o despotismo, a tirania, e exaltar um povo que decidiu não mais se curvar diante dos poderosos.

Por que deixamos de cantá-lo?

O que nos fez silenciar uma das mais belas declarações de liberdade que já ecoaram de um povo oprimido?

“Com tiranos não combinam brasileiros corações” canta o hino.

E é justamente aí que mora a força (e talvez o medo). Essa letra não é apenas um louvor ao passado, é uma advertência viva. Ela nos lembra que a liberdade conquistada não pode ser esquecida, nem negociada. E quando sistemas autoritários se impõem, a primeira coisa que fazem é calar as vozes que despertam consciência.

O hino ao 2 de Julho não é neutro. Ele toma partido.

Ele escolhe o lado do povo, dos heróis anônimos das campinas de Pirajá, de mulheres como Maria Quitéria, de negros, indígenas e pobres que empunharam armas e coragem contra o domínio colonial.

É um hino que não combina com ditaduras, nem com currículos que preferem a submissão ao pensamento crítico.

Será que por isso deixaram de ensiná-lo? Será que houve medo de que alunos compreendessem, desde cedo, que a pátria é feita de luta, e que liberdade se defende, se canta e se cobra?

“Nunca mais o despotismo regerá nossas ações” – canta-se, com esperança.

Mas quantas vezes vimos o despotismo renascer disfarçado, escondido em discursos bonitos, em silêncios convenientes? Quantas vezes a história da Bahia foi contada pela metade, ignorando o protagonismo de seu povo no processo real de independência do Brasil?

Resgatar o Hino ao 2 de Julho é mais do que resgatar uma canção.

É um gesto político. É relembrar às novas gerações que liberdade não é um presente, é uma conquista. É ensinar que um povo que esquece seus heróis pode ser facilmente enganado por falsos salvadores.

Que o sol do 2 de julho volte a brilhar nas escolas, nas praças, nas vozes do povo.

E que, ao cantarmos esse hino, também aprendamos a vigiar a liberdade, porque com tiranos, definitivamente, não combinam brasileiros corações.

Leonnardo Araújo, Psicanalista e Professor

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