“A necessidade de aprovação: Uma doença silenciosa na sociedade da dor”, por Rivelino Liberalino

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Vivemos tempos difíceis de explicar. Nunca estivemos tão conectados por telas e aplicativos, e ao mesmo tempo tão afastados uns dos outros e de nós mesmos.

Em uma era em que tudo pode ser mostrado, comentado e curtido em segundos, cresce de forma preocupante uma necessidade constante de aprovação. Uma busca quase obsessiva por reconhecimento, por aplauso, por validação alheia.

O “like” virou sinônimo de valor. O número de seguidores virou medida de importância. Criamos uma sociedade na qual muitos vivem mais para serem vistos do que para viver de fato.

As redes sociais se tornaram vitrines polidas de vidas idealizadas. Nelas, todos sorriem, viajam, têm corpos esculturais, relacionamentos perfeitos e filhos encantadores. Mas o que não se mostra? As dívidas, as brigas, o choro calado, o medo do futuro.

As pessoas se iludem tanto com esses sorrisos exibidos em vitrines virtuais. Mas se quisessem ver a grande realidade, bastaria terem acesso a um confessionário de padre, ao divã de um psicólogo, ou até mesmo ao escritório de um advogado. São nesses lugares que as pessoas se permitem ser humanas. Onde se despem das aparências e dizem a verdade. Quem tivesse a oportunidade de ouvir essas confidências veria o quanto a realidade discrepa dos cenários frios e calculados dos Instagrams.

Esse espetáculo constante engana quem assiste. As pessoas começam a comparar a vida real — cheia de falhas e desafios — com o palco montado do outro. E invariavelmente perdem. Surgem a inveja, a frustração, a sensação de fracasso.

Estamos nos tornando uma sociedade adoecida. Uma sociedade ansiosa, depressiva, cansada de tentar parecer perfeita. Pessoas boas que se sentem insuficientes. Gente honesta que duvida do próprio valor porque não consegue competir com o filtro, com a pose, com o teatro.

Essa necessidade de aprovação não sai barata. Ela cobra nossa autenticidade, destrói nossa paz, prejudica nossos relacionamentos. Faz com que sejamos menos nós mesmos e mais o que esperam de nós. Vira uma escravidão disfarçada de liberdade.

É hora de fazer uma pausa e refletir. Para quem estamos tentando provar algo? Quem somos quando não estamos tentando impressionar ninguém? Será que ainda sabemos?

A vida real não é perfeita. Ela tem falhas, tropeços, rugas, erros. Tem dias bons e dias péssimos. Tem problemas que não cabem numa foto. Mas é real. E viver de verdade sempre será melhor do que encenar para uma plateia que não se importa.

Precisamos de mais empatia e menos julgamento. De mais acolhimento e menos comparação. Precisamos conversar mais, olhar nos olhos, estender a mão.

Talvez devêssemos voltar a valorizar o que realmente importa: o amor verdadeiro, a amizade sincera, o apoio nos momentos difíceis. Lembrar que todos estamos tentando acertar, todos temos nossas dores e todos precisamos de compreensão.

Porque, no fim das contas, não serão as curtidas que nos salvarão. Será o afeto. Será a humildade de reconhecer nossas imperfeições. Será a coragem de sermos quem realmente somos, sem precisar pedir permissão para existir.

Este é um convite para que sejamos mais humanos. Mais próximos. Mais reais. Para que possamos curar, juntos, essa sociedade da dor que nós mesmos ajudamos a criar.

Rivelino Liberalino, advogado

2 COMENTÁRIOS

  1. Quanto é maravilhoso o texto do sensível Rivelino Liberalino detalhando claramente o que queremos falar,o que vivenciais no dia a dia mas não sabemos resolver
    ESSE É UM CONVITE PARA QUE SEJAMOS MAIS
    HUMANOS

  2. Uma doença que muita gente não se deu conta ainda, vejo pessoas que nem curtem mais os passeios preocupadas em tirar fotos pra postar e não tem idade, novos e velhos com os mesmos comportamentos.
    o texto falou tudo, palavras muito bem colocadas.

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