“A Agrovale está acima de tudo e de todos”: Moradores de Juazeiro e Petrolina desabafam sobre a fuligem da cana

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(Foto: leitores)

Nas duas últimas madrugadas, as residências de Juazeiro-BA e Petrolina-PE foram invadidas pela fuligem da queima da cana-de-açúcar, realizada pela empresa Agrovale, Agro Indústrias do Vale do São Francisco S.A. Não que isso seja uma novidade, porque esta situação se repete, com mais ou menos intensidade, todos os dias e há décadas, sempre no período do processo ultrapassado com que a empresa realiza a queima.

A situação só está piorando e os leitores do PNB entraram em contato com nossa redação, mais uma vez, para reclamar do incomodo de acordar e ver a casa suja e a coisa preta que se espalha nos ambientes. E isso é o que se vê, porque o que se inala é invisível aos olhos.

Entretanto, apesar das diversas reclamações sobre a situação o problema não tem fim. A indignação da população não é ouvida pelas autoridades municipais e nem pelos órgãos ambientais que se calam e nenhuma resposta dão às comunidades de Juazeiro e Petrolina, sufocadas com o crime ambiental, que na calada na noite, atinge os moradores das duas cidades sanfranciscanas.

O Portal Preto No Branco, desde a sua criação, tem se colocado como um canal de denúncia, dando voz a população que anseia por respostas.

Ontem (17) e hoje (18), nossa equipe recebeu diversas reclamações de moradores que acordaram com as casas cobertas pela palha da cana.

(Foto: leitores)

“Esta situação é mais que um absurdo. É um desaforo, um acinte aos moradores que não têm nem a quem recorrer e sofrem calados com este crime ambiental, que certamente tem consequências para nossa saúde,” desabafou uma moradora do residencial Juazeiro III, que pediu para não ser identificada.

“Acordamos na segunda- feira com a casa imunda. Tinha fuligem em cima das camas, em cima da mesa, em todo canto. A gente limpa a casa, gasta água, gasta tempo, pra nada. Todo dia é isso, mas tem dia que piora. Aliás, a situação só piora e ninguém faz nada. Se o chão fica assim, imagina nossos pulmões,” indagou a dona de casa Eliete Xavier, moradora do João XXIII, em Juazeiro.

“Eu sou diarista e atendo residências em Juazeiro e Petrolina e em todas elas o problema é o mesmo. Amanhece o dia e a fuligem está espalhada por todo canto. Não tem como manter a limpeza, porque na madrugada eles soltam esse material horrível,” reclamou a profissional doméstica Cleise Santos.

(Foto: leitores)

“Prefeito não faz nada, os vereadores não estão nem aí, não tem deputado, nem Ministério Publico, nem esses órgãos que dizem trabalhar pelo meio ambiente que façam nada. A Agrovale está acima de tudo e de todos. Estamos abandonados e isso é revoltante,” mais um desabafo de um morador de Juazeiro.

“Cadê a Semaurb, aquele órgão da prefeitura que deveria dar um basta no problema? Não faz nada? Não é secretaria de meio ambiente? Deveria cumprir sua função, porque são pagos para isso. Estamos entregues a própria sorte. Cansei de reclamar e isso é o que eles querem, que a gente se acostume e deixe esse absurdo pra lá,”questionou Adriana Reis, moradora do Bairro Santo Antônio.

O leitor Wagner Miranda Lima chamou a Agrovale de “uma empresa do mal” e questionou: Agrovale, será que os subempregos que você gera valem a quantidade de poluição que joga no nosso ar e nas nossas casas? Além de consumir mais água do que Petrolina e Juazeiro juntas. Uma empresa do mal”, disse.

(Foto: leitores)

A situação também já virou piada na página de entretenimento “Juá cem mil graus”.

(Foto: Juá Cem Mil Graus)

Acompanhe outras matérias do PNB sobre o assunto:

Conselho Municipal dos Direitos Humanos repudia queima de cana realizada pela Agrovale

No último dia dois, o Conselho Municipal dos Direitos Humanos de Juazeiro divulgou uma nota de repúdio contra a contra a queima da a queima palha da cana-de-açúcar como forma de colheita da cana, realizada pela empresa. “Não somos contra a empresa AGROVALE, o que não podemos tolerar, é que no atual estágio da civilização, é que isso se dê mediante praticas dantescas. E pelo que estamos vivenciamos nos últimos anos, é inadmissível que a sociedade do Vale do São Francisco fique somente com o ônus desse processo produtivo. Reafirmamos nosso compromisso com o desenvolvimento do Vale, com as centenas de trabalhadores e trabalhadoras rurais da AGROVALE, acima de tudo, reafirmamos nosso compromisso com respeito à dignidade da pessoa humana e ao meio ambiente”, diz a nota.

Clique aqui e veja a nota completa

Movimento  popular “Pelo Fim da Queima Indevida de Cana pela Agrovale”

Em julho deste ano, o Movimento  popular “Pelo Fim da Queima Indevida de Cana pela Agrovale”, criado em 2017, lançou uma campanha para que a população da região grave vídeos mostrando as consequências da queima da cana em suas residências e também nos espaços públicos.

O grupo, que é formado por representações e entidades da sociedade civil organizada e conta com o apoio do Conselho Municipal dos Direitos Humanos de Juazeiro, já divulgou diversos vídeos de moradores, que se sentem prejudicados com a queima de cana. As imagens também estão sendo divulgadas pelo PNB.

Clique aqui e veja

Em novembro do ano passado, o movimento lançou uma petição pública na internet, com o objetivo de mobilizar as comunidades e arrecadar assinaturas para um documento que será enviado ao Ministério Público Federal. O documento ainda está disponível através do site http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR76570.

Incêndios criminosos ou Crimes ambientais?

Entre os meses de junho e outubro de 2017, dois incêndios foram registrado nas áreas da Agrovale. Nas duas ocasiões, a fumaça se espalhou por Juazeiro e Petrolina.

Nas ocasiões, os moradores acreditaram que se tratava de queimas de cana descontroladas. Na época, a Agrovale informou que os incêndios haviam sido criminosos, já que a empresa não realizava esse procedimento durante o dia.

O que disse os órgãos fiscalizadores?

Após ser procurada pelo PNB, em agosto de 2017, a Secretaria de Meio Ambiente e Ordenamento Urbano de Juazeiro declarou que a empresa Agrovale é licenciada pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), e com isso, o acompanhamento do cumprimento das condicionantes ambientais fica a cargo do órgão estadual.

A Semaurb também garantiu, em nota, que o município iria “encaminhar ofício solicitando que a empresa poluidora realizasse ações mitigadoras para erradicar ou minimizar os impactos”

Na época a redação do PNB também entrou em contato com o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, que sem dar mais detalhes, informou apenas que exista um processo contra a Agrovale, tramitando no Ministério Público.

Clique aqui e veja

O que disse a Agrovale?

Veja a nota na íntegra:

Também em 2017, a Agrovale, através de uma nota enviada a nossa redação, afirmou que tem realizado “efetivas mudanças no sistema de produção agrícola, substituindo gradativamente o corte de cana manual pela utilização por máquinas colheitadeiras para cana crua, cujo processo culminará com a integralidade do procedimento plenamente mecanizado”. Clique aqui e veja a nota

Quando isso ocorrerá? É o que perguntamos a empresa que há 45 anos atua no Vale do São Francisco.

Da Redação

4 COMENTÁRIOS

  1. Realmente é algo indignante para a população. Contudo, é muito importante que cada cidadão registre no Ministério Público sua denúncia, assim, espera-se que seja feito uma juntada de “denúncias” e que providências sejam tomadas!

  2. Verdadeiro absurdo! Pessoas tão esclarecida e, ao mesmo tempo tão egoístas. A população pede Socorro.É inaceitável tamanho descaso com as pessoas que pagam seus impostos e se veem obrigado a a engolir tamanha irresponsabilidade.Ministério público omde está vc?Ajude a população que não tem força alguma para parar tamanha falta de respeito.Fica meu apelo

  3. Basta pesquisar a campanha dos políticos que ela já financiou e financia. E quantos procuradores e juízes já se manifestaram (hoje em dia eles se manifestam a respeito de tudo, não é mesmo?).

    Quem paga o baile, escolhe a música.

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